Sudão do Sul: "O acordo pode acabar devido à falta de consenso sobre as medidas de segurança" (Andreea Campeanu/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2016 às 11h59.
Juba - A oposição armada do Sudão do Sul advertiu nesta segunda-feira que pode derrubar o acordo de paz assinado com o governo em agosto, devido à inflexibilidade do Executivo em aplicar as medidas de segurança incluídas no tratado.
O chefe da delegação negociadora dos rebeldes, Taban Deng Gai, disse em entrevista coletiva em Juba que o governo sul-sudanês não permitiu que as forças da oposição chegassem com armamento pesado à capital do país.
Nesse sentido, lembrou que os países mediadores aceitaram ajudar na transferência de ao redor de 1.570 combatentes da oposição desde as áreas em que estão desdobrados até Juba, tal como foi estipulado nas medidas de segurança incluídas no convênio de paz.
"O acordo pode acabar devido à falta de consenso sobre as medidas de segurança. O governo mostra indiferença sobre a transferência de nossas forças", ressaltou Gai.
O representante opositor afirmou que o governo impediu a chegada hoje a Juba de um grupo de generais da polícia da oposição, ao não permitir a decolagem na cidade de Malakal de um avião da ONU que ia para a região de Feqak, na porção oeste do estado do Alto Nilo, e que os levaria em seguida à capital.
Em 2 de março, o vice-presidente da delegação dos rebeldes, Ramadan Hassan Laku, disse que o atraso da chegada das forças opositoras a Juba se deve ao fracasso dos mediadores da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento no leste da África (Igad) em cumprir a agenda de procedimentos transitórios.
A Igad é um bloco de países do leste da África responsável pela mediação do conflito sul-sudanês.
Estava previsto que em 1º de março chegasse à Juba o líder dos rebeldes, Riak Machar, nomeado novamente vice-presidente do país em 11 de fevereiro em virtude do acordo para formar um governo de união nacional.
Além disso, a Igad tinha determinado esse mesmo dia para a volta das forças dos rebeldes à Juba, com o objetivo de formarem tropas conjuntas com o exército e os serviços de segurança governamentais, como estipulado no acordo de paz assinado entre as duas partes em agosto do ano passado.
A guerra no país começou em dezembro de 2013, depois de o presidente, Salva Kiir (de etnia dinka), acusar o vice-presidente Riek Machar (da etnia rival nuer) de orquestrar um golpe de Estado contra ele.
Após a assinatura da paz, o governo e os rebeldes sul-sudaneses conseguiram em 31 de dezembro um acordo para a divisão dos ministérios do novo executivo de união.
Com estes últimos passos, a expectativa era de uma saída definitiva a um conflito que deixou milhares de mortos e mais de dois milhões de refugiados e deslocados, segundo números da ONU.