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OPINIÃO: A crise dos mísseis de Taiwan

Para que uma invasão chinesa de Taiwan tenha uma boa chance de sucesso, a China precisa primeiro isolar sua economia das sanções ocidentais

Taipei, capital de Taiwan, sob a mira da China. (Getty Images/Exame)

Taipei, capital de Taiwan, sob a mira da China. (Getty Images/Exame)

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Da Redação

Publicado em 6 de agosto de 2022 às 11h00.

Última atualização em 6 de agosto de 2022 às 11h02.

Por Minxin Pei*

A chegada da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan incitou uma previsivelmente forte resposta da China. Aviões de guerra chineses roçaram a linha mediana que divide o Estreito de Taiwan. O Ministério das Relações Exteriores da China alertou para “sérias  consequências” como resultado da visita de Pelosi à ilha. O presidente chinês, Xi Jinping, disse ao presidente dos EUA, Joe Biden, que “aqueles que brincam com fogo perecerão com ele”. E agora, a China acaba de anunciar uma grande atividade militar com exercícios com munição real a partir de 4 de agosto (logo após Pelosi deixar Taiwan). O espectro do confronto militar é grande.

Mas Pelosi dificilmente é a responsável pelas crescentes tensões de hoje sobre a ilha. Mesmo se ela tivesse decidido pular Taipei em sua turnê pela Ásia, a belicosidade da China em relação a Taiwan continuaria a se intensificar, possivelmente desencadeando outra crise no Estreito de Taiwan em um futuro próximo.

Ao contrário da narrativa predominante, isso não ocorre principalmente porque Xi está comprometido em reunificar Taiwan durante seu governo. Embora a reunificação seja de fato um de seus objetivos de longo prazo (seria uma conquista culminante tanto para ele quanto para o Partido Comunista da China em geral), qualquer tentativa de alcançá-la pela força seria extremamente custosa. Pode até trazer riscos existenciais para o regime do PCC, cuja sobrevivência seria ameaçada por uma fracassada campanha militar.

Para que uma invasão chinesa de Taiwan tenha uma boa chance de sucesso, a China precisa primeiro isolar sua economia das sanções ocidentais e adquirir capacidades militares que possam deter uma intervenção americana com credibilidade. Cada um desses processos levaria pelo menos uma década.

As principais razões para a atual agitação da China sobre Taiwan são mais imediatas. As autoridades chinesas estão sinalizando aos líderes taiwaneses e seus apoiadores no Ocidente que suas relações entre si e com a China estão em uma trajetória inaceitável. A implicação é que, se eles não mudarem de rumo, a China não terá escolha a não ser aumenta-lo ainda mais.

Até recentemente, os líderes da China viam a situação no Estreito de Taiwan como insatisfatória, porém tolerável. Quando Taiwan era governada pelo partido Kuomintang (KMT), tradicionalmente amigo da China, a China conseguiu seguir uma gradual estratégia de integração econômica, isolamento diplomático e pressão militar – uma que acreditava que acabaria por  tornar a reunificação pacífica a única opção de Taiwan.

Mas em janeiro de 2016, o Partido Democrático Progressista pró-independência voltou ao poder em Taiwan, derrubando os planos da China. Embora o KMT afirme que Taiwan e China têm interpretações diferentes do Consenso de 1992 – o acordo que o partido alcançou com as autoridades chinesas há 30 anos afirmando a existência de “uma China” – o PDP o rejeita completamente.

Embora seja difícil identificar precisamente quando o novo status quo se tornou intolerável para a China, um ponto decisivo mais importante provavelmente ocorreu em janeiro de 2020, quando a presidente taiwanesa Tsai Ing-wen, do PDP, ganhou facilmente um segundo mandato e quando seu partido derrotou o KMT. nas eleições legislativas. À medida que o PDP solidificou seu domínio político, o sonho da China de alcançar a reunificação pacífica ficou ainda mais fora de  alcance.

Também não ajudou muito que os Estados Unidos estivessem mudando gradualmente sua política de Taiwan. Sob a administração de Donald Trump, os EUA suspenderam as restrições aos contatos entre autoridades americanas e seus colegas taiwaneses; mudou sutilmente a formulação de sua política de “uma só China”, dando mais ênfase aos compromissos americanos com Taiwan, bem como transferiu sistemas avançados de armas para a ilha. Esses desafios para a China continuaram sob Biden. No ano passado, os fuzileiros navais dos EUA treinaram abertamente com os militares de Taiwan. E em maio passado, Biden sinalizou que os EUA interviriam militarmente se a China atacasse Taiwan (embora a Casa Branca rapidamente recuasse essa declaração).

LEIA TAMBÉM: China faz exercícios militares e teste de míssil perto de Taiwan

A guerra na Ucrânia também parece ter aumentado a sensação entre os líderes ocidentais de que Taiwan esteja em perigo grave e imediato. Eles parecem acreditar que apenas apoio robusto e vocal, incluindo visitas de alto nível e assistência militar, podem evitar um ataque chinês. O que eles não reconhecem é que, visto de Pequim, seu apoio a Taiwan parece mais uma tentativa de  humilhar a China do que qualquer outra coisa. É, portanto, mais provocação do que dissuasão.

A China teme agora que, se os líderes do PDP e seus apoiadores ocidentais não pagarem um preço por suas afrontas, perderão o controle da situação. Isso não apenas prejudicaria a chance de  Xi de alcançar seu objetivo de reunificação de longo prazo; também poderia suscitar acusações de fraqueza que minariam sua posição dentro e fora da China.

Provavelmente, a  China não planeja lançar um ataque imediato e deliberado a Taiwan. Mas pode decidir envolver os EUA em um confronto no Estreito de Taiwan. É impossível prever a forma ou o momento exato desse confronto. Mas é seguro supor que seria extremamente perigoso, porque a China acredita que somente uma atitude temerária poderá concentrar a mente de todos os jogadores.

Como a crise dos mísseis cubanos de 1962, uma nova crise no Estreito de Taiwan pode acabar estabilizando o status quo – todavia após alguns dias de arrepiar os cabelos. E esse pode muito bem ser o plano da China. Mas essa jogada também pode dar terrivelmente errado. Para que não esqueçamos, o fato de que a guerra nuclear não estourou em 1962 foi em grande parte uma questão de sorte.

*Minxin Pei é Professor de Assuntos Governamentais na Faculdade Claremont McKenna e Membro Não Residente do German Marshall Fund dos Estados Unidos.

Direitos Autorais: Project Syndicate, 2022. www.project-syndicate.org

Tradução de Anna Maria Dalle Luche.

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