Voluntários resgatam crianças após bombardeio em Aleppo: segunda maior cidade síria tem regiões que não recebem ajuda humanitária desde julho (Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 20 de setembro de 2016 às 12h27.
São Paulo – Depois do fim de um frágil cessar-fogo entre os principais atores da guerra na Síria, um comboio de ajuda humanitária organizado pelo Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) e pelo braço sírio da Federação Internacional da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho (FICV) foi atacado na província de Aleppo, uma das regiões mais devastadas pelo conflito.
Em razão da insegurança, a ONU se viu forçada a suspender o envio de comboios humanitários ao país, pelo menos até que uma nova avaliação da situação seja realizada. A região leste de Aleppo não recebe qualquer ajuda humanitária desde julho e estima-se que ao menos 275 mil pessoas estejam presas sem comida, água, abrigo e atendimento médico.
O comboio atacado era formado por 31 caminhões, dos quais 18 foram danificados. Segundo Stephen O’Brian, coordenador da OCHA, esse seria o primeiro de dois comboios organizados para abastecer a região e levava mantimentos suficientes para abastecer 185 mil pessoas por um mês. Parte da carga foi destruída e ao menos 20 civis e um voluntário foram mortos.
Ainda não há evidências de quem estaria por trás do ataque. De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma rede de ativistas sírios que monitora os desdobramentos da guerra civil no país, os aviões que realizaram o bombardeio não foram identificados, mas sabe-se que os grupos rebeldes não contam com força aérea.
“Se descobrirmos que esse ataque fez dos humanitários um alvo deliberado, ficará constatado um crime de guerra”, alertou O’Brian. “Queremos uma investigação imediata e imparcial desse incidente mortal. Os responsáveis têm de estar cientes de que um dia responderão por violações das leis internacionais de direitos humanos”, pontuou o coordenador.
Localizada a pouco mais de 360 quilômetros da capital Damasco, a cidade de Aleppo, que fica na província de mesmo nome, se tornou um dos fronts mais importantes e violentos da guerra que já dura mais de cinco anos.
Ela é a segunda maior cidade da Síria e está dividida quase que meio a meio entre rebeldes e tropas do governo do presidente Bashar al-Assad desde 2012. Chegou a ser lar de 2,3 milhões de pessoas, mas hoje é ocupada por cerca de 400 mil. Muitas delas encontram-se presas em seus bairros sem qualquer tipo de assistência.
Na semana passada, um cessar-fogo apoiado pelos EUA e pela Rússia entrou em vigor e tinha como objetivo tentar colocar fim ao conflito em toda a Síria. Esse acordo, no entanto, acabou indo por água abaixo no último final de semana, quando as partes envolvidas se acusaram de ter violado a trégua, retomando os embates.
Em Aleppo, mostrou um levantamento do OSDH, ao menos 32 pessoas foram mortas após o fim do cessar-fogo na última segunda-feira.
A situação no país não para de se agravar. Intitulada pelo jornal americano The Washington Post como uma “mini guerra mundial” por conta da quantidade e dos atores envolvidos e pela complexidade da situação, a guerra síria já matou mais de 250 mil pessoas e feriu mais de um milhão, segundo números atualizados pela ONU.
Ao menos 4,8 milhões de sírios abandonaram o país, enquanto 6,5 milhões se deslocaram internamente. 13,5 milhões de pessoas estão desesperadas por ajuda humanitária. Dessas, 5,4 milhões estão em áreas de difícil acesso e 600 mil estão presas em zonas sitiadas.
A comunidade internacional parece estar longe de encontrar uma solução sustentável que possa dar fim ao conflito. Enquanto isso, a população síria agoniza entre bombardeios, tiroteios e ataques terroristas.