Refugiados sírios correm para se proteger de um tempestade de neve na cidade de Zahle, no vale de Bekaa, Líbano (Mohamed Azakir/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de dezembro de 2013 às 21h40.
Brasília - Conflitos e perseguições, especialmente na Síria, fizeram aumentar a quantidade de refugiados e de deslocados internos nos primeiros seis meses deste ano, segundo informações do relatório Mid-Year Trends 2013 (em tradução livre, Tendências do Primeiro Semestre), da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), que será divulgado amanhã (20). Esse primeiro semestre foi descrito pela agência como "um dos piores períodos das últimas décadas".
De acordo com o órgão, a tendência de aumento verificada no primeiro semestre aponta que o balanço final dos refugiados e deslocados de 2013 será ainda maior do que o de 2012. No total, 5,9 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas no primeiro semestre de 2013 - 77% do total de refugiados e deslocados em todo o ano de 2012 (7,6 milhões). Dessas pessoas, 4 milhões são deslocados dentro dos próprios países de origem; 1,5 milhão é integrado por refugiados e 450 mil de solicitantes cuja situação ainda está pendente.
O conflito na Síria foi o destaque negativo neste ano, segundo o relatório. Dos 1,5 milhão de novos refugiados no primeiro semestre de 2013, 1,3 milhão de afetados pela saída do país são sírios. Eles se abrigam nos vizinhos - principalmente no Líbano, na Turquia, na Jordânia e no Iraque. Em relação aos deslocados, o país também é o que concentra a maior quantidade.
A quantidade de refugiados e deslocados no país já é maior do que 2,3 milhões, podendo chegar a 4,1 milhões até 2014, segundo estimativas da Acnur. Estima-se que há mais crianças sírias em refúgios do que em escolas.
"Temos de levar em conta que a maioria das pessoas que tem de se deslocar vai para a vizinhança, pois não tem recursos para ir para longe. Nos últimos anos, 80% dos refugiados foram para países vizinhos em subdesenvolvimento - onde estão os maiores focos de conflito", informou à Agência Brasil o alto comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres.
De acordo com ele, os países em desenvolvimento, que são os que mais recebem refugiados, padecem de problemas econômicos, sociais, de políticas públicas, saúde, educação, restrição orçamentaria, desigualdade e pobreza. Somado a isso, ainda têm de lidar com o número crescente de estrangeiros que buscam abrigo - e, na maioria dos casos, entram na disputa pelos já escassos bens e serviços.
Segundo Guterres, essa sobrecarga pode passar a gerar conflitos nessa vizinhança imediata. "Por isso temos de ajudar não apenas os refugiados, mas os países que têm essa sobrecarga", explicou Guterres.
O Afeganistão é atualmente o principal país de origem de refugiados no mundo - 2,6 milhões de pessoas. O Paquistão, seu vizinho, o que recebe a maior quantidade - 1,6 milhão de pessoas.
No ranking de países com maior população refugiada, depois vêm a Síria, a Somália, o Sudão e a República Democrática do Congo (RDC). Entre os países que recebem estrangeiros, além do Paquistão, estão o Irã, a Jordânia, o Líbano e o Quênia.
"A Acnur é uma instância humanitária, existimos para reduzir o sofrimento das pessoas, mas um problema que é o político não pode ser solucionado pela via humanitária. Tem de haver uma solução política, pois a raiz dos problemas continua. O apelo que fazemos à comunidade internacional é para que se chegue a um acordo", pediu o alto comissário.