Atualmente, são mais as mulheres do que homens que frequentam escolas e universidades (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2011 às 18h38.
Nações Unidas - Os países da América Latina e do Caribe têm demonstrado avanços na redução da desigualdade de gênero graças à queda da pobreza e da taxa de mortalidade materna, segundo um estudo conjunto divulgado nesta terça-feira pelo Banco Mundial (BM) e pela ONU Mulheres.
"Trabalho e família: Mulheres da América Latina e do Caribe na busca de um novo equilíbrio" é o título do documento em questão, apresentado nesta terça-feira na sede da ONU Mulheres em Nova York pela diretora executiva da entidade, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, e pelo economista-chefe do BM para a região, o equatoriano Augusto de la Torre.
"A política de gênero na região está em um momento crucial", disse De la Torre. "As mulheres na região enfrentam cada vez mais o complexo desafio de equilibrar diferentes papéis, identidades e aspirações".
"Essas complexidades têm de ser levadas ao cerne da elaboração de políticas", acrescentou o economista equatoriano.
O documento indica que, em muitos aspectos, a desigualdade de gênero na América Latina terminou, e atualmente, são mais as mulheres que os homens da região que frequentam escolas e universidades, com exceção de povos indígenas em Belize, Bolívia e Guatemala.
O relatório faz menção especial ao Brasil no que se refere ao crescimento da mão de obra feminina nas últimas cinco décadas. Segundo o texto, o número de trabalhadoras triplicou no Brasil desde 1960, enquanto dobrou na maioria dos países latino-americanos.
No mercado de trabalho, diz o documento, "a brecha se reduziu mais rápido que em qualquer outra região do mundo em desenvolvimento".
Segundo os dados das duas entidades, desde 1980, são quase 70 milhões as mulheres que se incorporaram ao mercado de trabalho na América Latina, e atualmente há mais mulheres trabalhando fora de casa que no lar, enquanto a proporção de mulheres solteiras com trabalho é tão alto quanto a de homens na mesma situação.
"A mulher latino-americana percorreu um longo caminho em um tempo relativamente curto, com um maior acesso à saúde, educação e emprego", disse Bachelet, durante a apresentação do relatório.
A ex-presidente chilena destacou que os países da região devem agora "consolidar as conquistas e reduzir as desigualdades, frente à dupla carga do trabalho não remunerado das mulheres".
Ela também enfatizou a necessidade de que a região aumente a participação política das mulheres e sua liderança, além de ressaltar o compromisso da ONU Mulheres com esse objetivo.
Segundo o estudo, a dedicação profissional das mulheres latino-americanas também se traduziu em maior participação na política formal, com a proporção de cadeiras parlamentares ocupadas por mulheres na região em quase 24%, a mais alta entre todas as regiões do mundo.
O texto indica que esse "espetacular aumento de mulheres trabalhadoras" representa também "um nível de igualdade financeira e social entre homens e mulheres inimaginável décadas atrás", mas também alerta que "o aumento de acesso ao trabalho e a independência econômica não se traduzem automaticamente em maior bem-estar".
No que se refere à educação juvenil, as meninas latino-americanas vão completando cada vez mais anos de escolaridade na maioria dos países, com exceção de Guatemala, Bolívia, México e Peru.
O documento afirma também que os índices de mortalidade materna caíram na região desde os anos 1980, em alguns casos até 40% entre as caribenhas e 70% nos países das regiões dos Andes. Por isso, agora as taxas de fecundidade latino-americanas "são tão baixas como as de nações industrializadas".
Isso reflete, segundo o relatório elaborado por De la Torre, maiores investimentos em saúde e melhoras no acesso de meninas e mulheres a esses serviços, que por sua vez repercutem em sua expectativa de vida das mulheres, que já vivem seis anos a mais que os homens da região.
O texto menciona também outros pontos de interesse regional, como a busca pelo equilíbrio entre vida familiar e trabalho, destacando que, na América Latina e no Caribe, "homens e mulheres ainda tendem a crer que as crianças estão propensas a sofrer se suas mães trabalham".
Assim, uma das reivindicações femininas é a de maior flexibilidade trabalhista, mas, segundo o documento, "as instituições formais do mercado de trabalho permanecem insensíveis a essas necessidades".
A constatação da ONU é que isso estimula "o emprego informal, sem proteções trabalhistas básicas e sem o potencial de crescimento profissional, mas com a flexibilidade laboral que permite equilibrar as responsabilidades familiares".