O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon: "Meu antecessor (Annan) tem pela frente uma difícil missão com imensos desafios e precisa do apoio total e indivisível" (Jack Guez/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2012 às 20h46.
Nações Unidas - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu nesta sexta-feira o 'apoio total' da comunidade internacional para o trabalho do enviado especial conjunto da organização e a Liga Árabe à Síria, Kofi Annan, para conseguir o fim da violência em um país que corre o risco de acabar 'em uma guerra civil'.
'Meu antecessor (Annan) tem pela frente uma difícil missão com imensos desafios e precisa do apoio total e indivisível de uma comunidade internacional que fale com uma só voz', disse Ban em seu relatório no plenário da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a crise síria.
O titular da ONU enfatizou a importância de 'garantir que haja apenas uma via no processo de mediação' para encontrar uma solução pacífica na Síria, país que, segundo ele, corre o risco de entrar em breve em uma guerra civil. 'Para que tenha êxito, Annan precisará de nosso total apoio e que falemos com uma só voz, alta e clara'.
Em seu discurso na Assembleia Geral, Ban se concentrou em tentar convencer os países reticentes a adotarem medidas na ONU contra Damasco. Para ele, chegou o momento de agir e tomar ações coordenadas com urgência.
'A comunidade internacional deve encontrar unidade urgentemente para pressionar as autoridades sírias e todas as outras partes para que detenham a violência', declarou Ban. 'A contínua divisão da comunidade internacional encorajou as autoridades sírias em seu violento beco sem saída'.
A escalada repressiva contra os grupos de oposição e os civis causou, lembrou Ban, mais de 7,5 mil mortes na Síria no quase um ano que duram os protestos.
Rússia e China já vetaram duas vezes um projeto de resolução que condenaria o regime de Bashar al-Assad, enquanto a Assembleia Geral e o Conselho de Direitos Humanos já manifestaram seu repúdio à repressão de Damasco contra a oposição e os manifestantes.
Ban Ki-moon encorajou todos os países a pressionarem o governo sírio a permitir o acesso de ativistas humanitários e da subsecretária-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Valerie Amos, o que definiu como 'o primeiro passo rumo a uma solução pacífica da crise'.
'Temos de fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para deter a crise. É preciso contribuir para o início de um processo de transição liderado pelos sírios e destinado a obter um sistema político democrático e plural', ressaltou Ban.
Para ele, é vital que Kofi Annan tenha sucesso em sua missão. 'A violência no local está a caminho de se transformar em uma completa guerra civil, na qual as disputas sectárias poderiam arrastar o país por gerações'.
Annan teve nesta sexta-feira uma reunião conjunta com todos os membros do Conselho de Segurança antes de partir rumo a Genebra (Suíça), de onde viajará ao Cairo para se reunir com os responsáveis da Liga Árabe na próxima semana e tentará chegar a Damasco o mais rápido possível.
O embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, respondeu a Ban e destacou que seu país é alvo 'de um ataque sistemático' por parte de certos países que buscam 'uma mudança de regime' e trataram o país árabe 'como uma república das bananas'.
A Arábia Saudita, em nome dos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), pediu ao Conselho de Segurança da ONU que atue com urgência 'para deter a máquina de matar' do governo sírio.
O embaixador saudita na ONU, Abdullah al-Mualim, acusou Rússia e China de 'ignorarem os gritos de socorro da população síria', enquanto se perguntou se é que não aprenderam nada sobre o massacre de Srebrenica (na Bósnia) ou os conflitos do Kosovo e de Ruanda, referindo-se a casos de massacres maciços.
O presidente do Conselho de Segurança, o embaixador britânico na ONU, Mark Lyall Grant, reconheceu nesta sexta-feira que 'há movimentos' dentro do principal órgão de decisão da ONU para voltar a tratar a crise síria em uma resolução, impossível até agora pelo duplo veto de Moscou e Pequim.
Ele assinalou que, por enquanto, 'há conversas muito informais' para conseguir uma resolução 'político-humanitária' - como definiram fontes diplomáticas - que faria insistência na necessidade de permitir o acesso da ajuda humanitária ao país, assim como de apoiar um processo de transição através do diálogo.