Desnutrição: grande número de crianças que podem morrrer tornam a crise humanitária no nordesde da Nigéria uma das piores do mundo (REUTERS/Afolabi Sotunde)
Da Redação
Publicado em 29 de setembro de 2016 às 12h02.
Lagos - Até 75 mil crianças irão morrer ao longo do próximo ano em condições de subnutrição geradas pelo Boko Haram na Nigéria caso doadores não respondam rapidamente, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O número é bem superior aos mais de 20 mil mortos no levante de sete anos do grupo islâmico no país africano.
A gravidade dos níveis de desnutrição e o grande número de crianças que podem morrer tornam a crise humanitária no nordeste da Nigéria talvez a pior do mundo, segundo Arjan de Wagt, diretor do Unicef para nutrição na Nigéria. Ele disse que já há crianças morrendo, mas os doadores não respondem.
A maior parte das crianças severamente desnutridas morre de doenças secundárias, como diarreia e infecções respiratórias, disse de Wagt à agência Associated Press. "Mas, com fome, você na verdade morre de fome" e isso é o que está acontecendo, afirmou ele.
A desnutrição grave é encontrada em 20%, 30% e até 50% das crianças em algumas áreas da região, disse a autoridade do Unicef. "Globalmente, você simplesmente não vê isso. É preciso voltar a lugares como a Somália de cinco anos atrás para ver esses níveis", afirmou de Wagt. Quase 260 mil pessoas morreram na Somália entre 2010 e 2012 por causa da forte seca, agravada pela guerra. Ao mesmo tempo, a Organização das Nações Unidas disse que é necessário enviar ajuda com mais rapidez.
Nesta quinta-feira, o Unicef dobrou o montante em seu apelo para a Nigéria e disse que são necessários US$ 115 milhões para salvar crianças "cujas vidas estão literalmente por um fio". A agência diz que até agora só foram levantados US$ 24 milhões.
A falta de dinheiro significa que cerca de 750 mil pessoas que vivem em áreas onde há acesso não poderão ser ajudadas neste ano, disse a porta-voz Doune Porter. A maior parte das estimadas 2,6 milhões de pessoas que fugiram da insurgência do Boko Haram são pequenos agricultores que não conseguem plantar há dois anos ou mais.
Das 4 milhões de pessoas com necessidade extrema de alimento, cerca de 2,2 milhões estão em áreas onde o Boko Haram opera ou em áreas há pouco liberadas que ainda são de acesso perigoso por rodovias, diz o Unicef.
Entre elas, 65 mil vivem em condição de fome. A crise atingiu "níveis catastróficos" para as pessoas que buscavam refúgio em cidades controladas pelos militares, mas estão "totalmente dependentes da ajuda externa que não chega a elas", afirmou na quarta-feira o grupo Médicos Sem Fronteiras.
Fonte: Associated Press.