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ONU denuncia aumento dos discursos anti-imigração em campanhas eleitorais

Declarações que podem ter consequências graves, alertou Pope, uma advogada de 50 anos que trabalhou para governos democratas e republicanos

Amy Pope: Os países precisam dos migrantes (…) e esta necessidade aumentará significativamente nos próximos anos" (AFP/AFP)

Amy Pope: Os países precisam dos migrantes (…) e esta necessidade aumentará significativamente nos próximos anos" (AFP/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 22 de março de 2024 às 10h01.

Última atualização em 22 de março de 2024 às 10h02.

O aumento dos discursos contra a imigração em um ano no qual quase metade da população celebrará eleições está dividindo nossa sociedade, adverte Amy Pope, diretora da agência de migração das Nações Unidas.

A americana, que no ano passado se tornou a primeira mulher a dirigir a Organização Internacional para as Migrações (OIM), lamentou, em entrevista à AFP esta semana, as declarações contra os migrantes em "campanhas eleitorais em todo o mundo".

Alguns políticos os culpam por todos os males "sejam taxas de criminalidade ou inflação, desemprego ou insegurança". Segundo ela, os migrantes são alvos "fáceis" porque "não votam".

Nos Estados Unidos, onde a imigração é um tema frequente na campanha eleitoral, o republicano Donald Trump alertou para uma "invasão" na fronteira sul e deu a entender que alguns migrantes que entram no país "não são pessoas".

Declarações que podem ter consequências graves, alertou Pope, uma advogada de 50 anos que trabalhou para governos democratas e republicanos.

"Desumanização"

"Quando uma população é desumanizada, há um aumento nos casos denunciados de violência e discriminação", afirmou, garantindo que "em última análise, é ruim para a sociedade".

Ela também destaca que as declarações alarmistas raramente correspondem à realidade. "Discursos e realidade não têm nada a ver um com o outro".

Alguns países, onde os ataques verbais contra os migrantes prosperam, precisam deles para mudar a economia, disse Pope, citando como exemplo a "escassez de mão de obra na Europa".

A diretora-geral da OIM destacou ainda que a revista The Economist mostrou recentemente que a imigração participou da recuperação da economia americana após a pandemia de covid-19.

"Os países precisam dos migrantes (…) e esta necessidade aumentará significativamente nos próximos anos", afirma Pope, pedindo rotas migratórias mais seguras e legais.

Oficialmente, 8.565 pessoas morreram nas rotas migratórias em todo o mundo em 2023, o ano mais mortal desde que os registos começaram, há dez anos, segundo a OIM.

Mas o número real "é certamente muito, muito, muito mais alto", diz Pope, e a tendência à alta deverá continuar com a multiplicação dos conflitos e os efeitos da mudança climática, que acentuam a migração.

"Necessidades urgentes"

Segundo Pope, criar rotas de migração seguras e legais é a melhor forma de evitar que as pessoas embarquem em viagens perigosas. "As necessidades são urgentes", diz.

"Ninguém quer ver um grande número de migrantes irregulares atravessando fronteiras, o Mediterrâneo ou o Canal da Mancha", afirma.

Sobre a situação na fronteira sul dos Estados Unidos, destaca que sua "principal preocupação é que as pessoas tenham o direito de pedir asilo", lamentando que as possibilidades de utilização de outras vias de entrada "seguras, legais e regulares" sejam "insuficientes".

"Isto destaca a urgência real de encontrar melhores formas de satisfazer as necessidades da imigração americana", diz, caso contrário "continuaremos sofrendo pressões na fronteira".

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