Cocaína: nos dois últimos anos, o cultivo de coca duplicou no país, e sua superfície alcançou níveis não vistos desde 2007 (GettyImages)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2016 às 19h58.
A Colômbia foi confirmada como o maior produtor de cocaína do mundo e como o país com mais cultivos de coca, cuja folha é o insumo básico para esta droga, alertou nesta sexta-feira a ONU, uma situação que as autoridades consideram "preocupante".
Nos dois últimos anos, o cultivo de coca duplicou no país, e sua superfície alcançou níveis não vistos desde 2007, informou o Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC) no seu último relatório, elaborado em conjunto com o governo colombiano e apresentado em Bogotá.
O relatório "Monitoramento de territórios afetados por cultivos ilícitos 2015" registrou 96.000 hectares cultivados, contra 48.000 em 2013 e um pouco abaixo dos 99.000 de 2007.
"A Colômbia é o principal produtor na região", acrescentou o representante da UNODC no país, Bo Mathiasen, mencionando que o Peru e a Bolívia, os outros produtores da América Latina, totalizam juntos cerca de 60.000 hectares.
"O crescimento dos cultivos é um tema supremamente preocupante (...) porque havia uma tendência clara à diminuição", disse Eduardo Díaz, diretor da Estratégia Integral de Substituição de Cultivos Ilícitos da Presidência.
Segundo a ONU, a o potencial de produção de cocaína também mostrou um forte aumento na Colômbia. Mathiasen explicou que a produção de cloridrato de cocaína aumentou 46% no ano passado, somando 646 toneladas em comparação com 442 em 2014.
Tendência antiga
Esta tendência ao aumento "vem de anos atrás" e se deve ao crescimento da demanda na Europa e na Ásia, disse à AFP o especialista em narcotráfico e diretor da ONG Corporación Andina Colombia, Ricardo Vargas. "Nesses mercados, a Colômbia tem um posto importante no comércio de drogas", afirmou.
O especialista ressaltou também a incidência dos grupos armados à margem da lei, como a maior guerrilha do país, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC, marxistas), que fez do narcotráfico a sua principal fonte de renda, segundo as autoridades.
Segundo Vargas, enquanto o "problema estrutural" do campo colombiano não for resolvido, os camponeses continuarão encontrando "uma alternativa" no cultivo de coca, cujo preço no mercado chega a 3.000 pesos (quase um dólar) por quilo e aumentou 32% em 2015.
De acordo com o UNODC, 74.500 lares colombianos estão envolvidos no cultivo de coca, 11% mais que em 2014.
O governo do presidente Juan Manuel Santos pretende atender estes temas com a assinatura de um acordo final de paz com as FARC, que incluirá os consensos sobre desenvolvimento agrário e solução para o problema das drogas ilícitas, negociados durante as conversas em Cuba, que já estão na reta final.
Em fevereiro passado, Santos anunciou uma nova estratégia antidrogas baseada na substituição de cultivos ilícitos, com a participação das comunidades e de ex-guerrilheiros das FARC.
Mais confiscos
Nesta sexta-feira, o alto conselheiro da presidência para temas de pós-conflito, Rafael Pardo, anunciou que o governo continuará fortalecendo a interdição marítima e aérea nas zonas de cultivo e produção, o que permitiu a apreensão de 158,8 toneladas de cocaína no último semestre.
Segundo a ONU, a Colômbia contribui com "um terço dos confiscos globais" dessa droga. No ano passado, foram confiscadas 252 toneladas, contra 148 de 2014 - um aumento de 71%.
O relatório do UNODC indicou que cinco dos 32 departamentos do país concentram 81% da produção total de coca.
Pardo informo que, por isso, os programas de substituição se concentrarão em quatro zonas: o município de Tumaco, próximo à fronteira com o Equador, onde está 17% da produção de coca, e regiões dos departamentos de Caquetá, Putumayo e Cauca (sudoeste).
Disse, ainda, que a interrupção da fumigação aérea com glifosato, decidida em outubro passado depois da Organização Mundial da Saúde (OMS) classificar a substância como provavelmente cancerígena, pode "ter incidido" no aumento das áreas cultivadas.
Esta suspensão gerou polêmica, com opositores como o procurador Alejandro Ordóñez afirmando que se trata de uma "concessão do governo às FARC" na mesa de negociações.