Iêmen: desde março de 2015 morreram 6.660 civis na guerra do Iêmen e 10.563 ficaram feridos (Khaled Abdullah/Reuters)
EFE
Publicado em 28 de agosto de 2018 às 11h01.
Genebra - Analistas da ONU apontaram nesta terça-feira a existência de possíveis crimes de guerra no Iêmen pelas forças pró-governo e dos rebeldes houthis, como Sana e Al Hudaida, mas também responsabilizaram e criticaram a coalizão militar liderada pela Arábia Saudita.
O grupo de especialistas internacionais e regionais para o Iêmen, criado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2017, afirmou um relatório publicado hoje que ambas as partes e a coalizão árabe cometeram violações do Direito Internacional que "podem equivaler a crimes de guerra".
Eles investigaram as violações e os abusos cometidos no Iêmen desde setembro de 2014, quando os rebeldes houthis tomaram Sana e províncias do norte e do oeste do país, e expulsaram o governo da capital.
O conflito se agravou em março de 2015 com a intervenção da coalizão árabe, apoiada pelos Estados Unidos.
"Indivíduos no governo e da coalizão, incluída a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, podem ter efetuado ataques que violam o princípio de distinção, proporcionalidade e precaução e podem equivaler a crimes de guerra", apontou o grupo de especialistas no texto.
Os analistas afirmaram no relatório que os ataques aéreos da coalizão árabe causaram a maioria das mortes civis, "em bombardeios contra áreas residenciais, mercados, funerais, casamentos, prisões, embarcações civis e inclusive hospitais".
Segundo o Escritório da ONU para os Direitos Humanos, desde março de 2015 morreram 6.660 civis na guerra do Iêmen e 10.563 ficaram feridos, mas "o número real provavelmente é significativamente mais alto".
As forças pró-governo e da coalizão também podem ter cometido crimes de guerra por terem recorrido a "tratamentos cruéis e tortura, atos humilhantes, estupros, e ao recrutamento de crianças menores de 15 anos ou por tê-las utilizado como parte ativa nas hostilidades".
Os especialistas da ONU assinalaram que houve informações reiteradas sobre o uso de crianças de apenas oito anos nos dois lados do conflito armado.
Além disso, o grupo de especialistas responsabiliza o governo e seus parceiros de detenções arbitrárias, da privação ilegal do direito à vida, de desaparições forçadas e de violações à liberdade de expressão e dos direitos econômicos, sociais e culturais.
No lado das "autoridades de fato", ou seja dos houthis nas áreas controladas por eles, também houve possíveis crimes de guerra, idênticos aos da outra parte, disse o grupo de investigadores.
Além disso, os rebeldes cometeram "graves restrições à liberdade de expressão e religião", enfatizaram os especialistas.