Redatora na Exame
Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 07h12.
O comissário-geral da agência da Organização das Nações Unidas (ONU) de Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa) afirmou na última terça-feira, 28, que o "destino de milhões de palestinos está em jogo" após Israel proibir a atuação da agência humanitária em Gaza a partir da próxima quinta-feira, 30 de janeiro.
Em reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, Philippe Lazzarini, comissário-geral da Unrwa, afirmou que a interrupção das operações da agência neste momento pode prejudicar o cessar-fogo e "sabotar a recuperação e a transição política de Gaza".
Em resposta a declarações de Israel de que os serviços da agência poderiam ser assumidos por outras entidades, Lazzarini afirmou que a capacidade da Unrwa nas áreas de saúde e educação “excede em muito a de qualquer outra entidade”. Na visão dele, o serviços essenciais fornecidos pela Unrwa poderiam ser replicados apenas por um Estado palestino.
Desde que o conflito entre Israel e Palestina começou, em outubro de 2023, a Unrwa foi responsável por metade de toda a resposta de emergência em Gaza — todas as outras organizações que atuam na região entregaram a outra metade. A agência da ONU também foi responsável por dois terços de toda a assistência alimentar na região, além de ter fornecido abrigo a mais de 1 milhão de deslocados.
A administração Trump reverteu o apoio dado pelo governo Biden à Unrwa e apoiou a decisão de Israel de fechar o escritório da agência em Jerusalém. No Conselho de Segurança, Dorothy Shea, embaixadora adjunta dos EUA na ONU, voltou a defender que o trabalho da agência poderia ser assumido por outras organizações humanitárias. Para ela, o que precisa ser debatido pela comunidade internacional é uma alternativa para que não haja interrupção na entrega de ajuda humanitária e serviços essenciais na região.
O Reino Unido, por sua vez, prometeu enviar US$ 21 milhões para ajudar na recuperação de Gaza. Para o país, a proibição da atuação da Unrwa neste momento “coloca em risco a resposta humanitária” no território devastado pela guerra. “A escala do sofrimento em Gaza não pode ser subestimada, e a ONU e suas agências, incluindo a Unrwa, devem ser autorizadas por Israel a realizar seu trabalho vital”, disse Anneliese Dodds, ministra do Desenvolvimento.
Bélgica, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Noruega, Eslovênia e Espanha, em comunicado conjunto enviado ao Conselho de Segurança, também afirmaram que condenam profundamente a decisão de Israel de impedir a atuação da Unrwa na região. O grupo ainda afirmou que as leis israelenses que suspenderam o trabalho da agência não estão em conformidade com o direito internacional.
A Coreia do Sul, durante a reunião do Conselho de Segurança, se juntou ao grupo de países que expressaram apoio ao trabalho da Unrwa. “Continuaremos a fornecer apoio político e financeiro para garantir os serviços básicos e a assistência humanitária fornecidos pela ONU aos palestinos necessitados”, disse Joonkook Hwang, representante sul-coreano.
Na terça-feira à noite, em coletiva de imprensa após a reunião do Conselho de Segurança, o enviado israelense Danny Danon reiterou que a Unrwa deve encerrar suas atividades e evacuar suas instalações dentro do território israelense até quinta-feira. “Dentro de 48 horas, o Estado de Israel cessará sua cooperação com a Unrwa”, disse Danon.
Desde o começo da semana, mais de 376.000 palestinos deslocados pela guerra entre Israel e Hamas retornaram ao norte de Gaza, segundo estimativas da ONU.
Reportagem da Al Jazeera, serviço de mídia sediado no Catar, informa que os civis encontraram um cenário de “destruição total” em suas cidades e vilas no norte de Gaza. Com acesso limitado a abrigos e água, alguns decidiram retornar para áreas centrais de Gaza para ter acesso a um nível mínimo de serviços essenciais.
Os ataques israelenses destruíram mais de 95% do Complexo Médico al-Shifa, a maior instalação médica da Faixa de Gaza, informou o Dr. Munir al-Bursh, diretor-geral do Ministério da Saúde em Gaza, em entrevista à Al Jazeera. Apesar da destruição, o complexo médico está oferecendo serviços parciais em 5% de seus edifícios.