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Da Redação
Publicado em 16 de maio de 2014 às 23h05.
Bogotá - O acordo alcançado nesta sexta-feira entre o governo colombiano e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionários da Colômbia (Farc) em Havana sobre drogas e narcotráfico "vai ter um impacto em 70% dos cultivos ilícitos" de coca do país, afirmou à Agência Efe o coordenador residente da ONU na Colômbia, Fabrizio Hochschild.
"Esse acordo é muito importante, parece que estamos chegando a um ponto de não retorno nas negociações", afirmou Hochschild, ao destacar que "a mesa está mostrando maturidade e capacidade de chegar a acordos em temas difíceis com visões muito opostas".
Trata-se do terceiro acordo alcançado pelos negociadores em Cuba desde que começou o diálogo em novembro de 2012, depois da conclusão do relacionado ao problema da terra, origem do conflito armado, e o da participação política dos guerrilheiros após um eventual final do conflito armado.
As Farc se comprometeram nesta sexta-feira a contribuir para a solução definitiva do problema das drogas ilícitas e a terminar com "qualquer relação" com o narcotráfico "em um cenário de fim de conflito", segundo anunciaram em Havana.
"Nós fizemos uma análise nas regiões de maior afetação pelo conflito com as Farc e mais de 70% dos cultivos ilícitos se dá nessas regiões, isso não quer dizer que as Farc sejam responsáveis por tudo, mas sim implica que se for implementado o acordo alcançado hoje terá um impacto na grande parte da produção", esclareceu o representante das Nações Unidas.
Para Hochschild, "esse ponto tem, além disso, implicações além das fronteiras da Colômbia porque, embora tenha havido grandes progressos em redução de cultivos, continua sendo um dos principais produtores de coca e também fonte do tráfico internacional que envolve as redes do crime organizado".
Segundo o último relatório do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC), somente em 2012 os cultivos de coca se reduziram na Colômbia 25% para 48 mil hectares, quando em 2006 as áreas semeadas superavam os 78 mil hectares.
O representante da ONU comemorou o gesto das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) de se comprometer a "ser parte da solução do problema e de promover essa solução".
Mas Fabrizio também aplaudiu o prometido pelo governo, já que, segundo ele, o acordo obriga a propiciar "uma política de Estado integral com componentes econômicos, sociais e judiciais" nas zonas onde é plantada a coca, o que qualificou de "fundamental" para dar uma vida digna aos camponeses.
"A ONU defendeu isso durante muito tempo: políticas públicas que reconheçam a pobreza e a necessidade de desenvolvimento agrário", disse, analisando que "isso seja agora uma política de Estado".
"Uma política que vá além do que se pode impor com as armas, que reconheça que é necessária a cooperação e a participação das comunidades", acrescentou.
Hochschild advertiu que o desafio agora está em cumprir: "o acordo é o primeiro passo, o que conta vai a ser a implementação", ressaltou.
Perguntado pela Efe se este acordo pode afetar o desenvolvimento da campanha às eleições presidenciais de 25 de maio, indicou que "o processo de paz tem que ir à frente e passar a ser considerado uma política de Estado".