Resgate: a saída de Gaza "dará uma nova vida aos animais" (Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2016 às 11h28.
Khan Yunes - O pior zoológico do mundo, segundo a ONG de proteção aos animais Four Paws, foi fechado ontem, terça-feira, na Faixa de Gaza, após a organização assumir a responsabilidade pelos 15 animais que restavam vivos, e que foram retirados da empobrecida região palestina na madrugada desta quarta-feira.
"Anestesiamos os animais e vacinamos, colhemos amostras de sangue, colocamos um chip e verificamos se necessitam de algum remédio", explicou à Agência Efe o veterinário egípcio Amir Khalil, sob um intenso calor no precário zoológico de Khan Yunes (sul de Gaza), enquanto segurava um macaco adormecido da espécie vervet nos braços.
Outros três macacos-vervet descansavam, também anestesiados, nas improvisadas jaulas de transporte nas quais passaram a noite, antes de ter o privilégio de deixar hoje a faixa litorânea palestina, uma das zonas mais superpovoadas do planeta, sob bloqueio israelense há nove anos e que viveu três guerras desde 2008.
Os pequenos macacos se somam a tartarugas, um porco-espinho, um emu, um pelicano e um cervo, que serão levados a um centro de animais resgatados na Jordânia.
Um tigre, batizado como Laziz, terá uma viagem mais longa: será levado a um "santuário" de grandes felinos na África do Sul, onde habitam outra centena de animais resgatados e onde terá, finalmente, espaço para correr e se recuperar dos anos aprisionados em uma estreita jaula, assim como da fome e da escassez de comida.
"Quando viemos a primeira vez a este zoológico, ao término da guerra de 2014, a situação era horrível. Muitos animais tinham morrido e o dono dissecou vários, entre eles uma tigresa: se exibiam dois tigres, um vivo e outro a seu lado morto, dissecado e colocado como enfeite", relatou, ainda assombrado, este veterinário que dirige o resgate.
Ele acrescenta que no local "não havia comida e também conhecimento de como se deve cuidar destes animais. Há veterinários na faixa, mas eles se dedicam só a cuidar de animais domésticos, não tigres".
Desde aquela viagem, a Four Paws realizou várias visitas à região palestina e levando remédios e alimentos a este e outros zoológicos, todos eles privados, mas a ajuda pontual não era suficiente para estes animais.
"Desde fevereiro até agora morreram neste zoológico 40 animais", lamenta Khalil, que assegura que o processo para salvar os quinze animais sobreviventes "serviu para unir quatro países", África do Sul, Israel, Jordânia e Palestina, que colaboraram para que a operação fosse possível.
As autoridades do Hamas, explica o veterinário, não podem emitir documentos internacionais porque não são reconhecidas fora da faixa, o que levou Israel a facilitar a documentação e, também, a saída dos animais da faixa pelo seu território.
"Os animais unem. Conseguiram o apoio de todos", afirma sorridente o veterano profissional, que acrescenta que, "se há bondade em relação aos animais, também pode haver em relação às pessoas".
Na última década, existiram sete zoológicos na Faixa de Gaza, todos eles da iniciativa privada e, com o fechamento deste, restarão ainda quatro.
Para Khalil, é muito importante conscientizar sobre o bem-estar dos animais e aprovar a legislação necessária que impeça que eles sejam mantidos em condições precárias, tanto em zoológicos como em casas.
Ele lembrou o caso de dois filhotes de leão que viviam em uma casa de campo de refugiados de Rafa e que, ao crescerem e se tornarem adultos, tiveram que ser resgatados.
Entre os 13 trabalhadores da ONG caminha, cabisbaixo, Abu Diab, um homem de aproximadamente cinquenta anos, proprietário do zoológico e que está muito longe de reconhecer que este tinha se transformado em um dos piores lugares do mundo para ter animais.
"Este era um bom lugar para eles. É como uma floresta, eu mesmo plantei todas estas árvores e cuidei deles durante dez anos", diz.
Segundo Diab, "o problema foram as três guerras contínuas de Gaza (com Israel, em 2008-2009, 2012 e 2014)", sobretudo a última e a mais longa (durou 50 dias), na qual morreram muitos animais por causa do estresse provocado pelas bombas e a falta de alimentação.
Apesar de ver acabado o sonho de ter um zoológico, Diab se consola pensando que seus animais estarão muito perto, na Jordânia, onde acredita que poderá visitá-los, e espera que, caso a situação melhore em Gaza, eles voltem.
Khalil, que provavelmente não compartilha essa visão, ressalta que a saída de Gaza "dará uma nova vida aos animais", que "perderam seus dias em jaulas desoladoras onde sofriam de fome e falta de cuidados médicos".