Israel: HRW lembra que a legislação internacional de direitos humanos limita o uso da força letal (Mohamad Torokman/Reuters)
EFE
Publicado em 2 de janeiro de 2017 às 10h04.
Jerusalém - Integrantes do alto escalão das forças de segurança e o governo de Israel incentivam seus subordinados a "atirar para matar" os palestinos desde que começou a onda de ataques em outubro de 2015, denunciou a ONG internacional Human Rights Watch (HRW) em um relatório apresentado nesta segunda-feira.
Segundo o estudo, os oficiais israelenses encorajam soldados e policiais a matarem palestinos suspeitos de terem atacado israelenses, inclusive nos casos em que os mesmos não representam nenhuma ameaça para a segurança.
Além disso, "abundam" as incitações para assassinatos extrajudiciários, enquanto outros integrantes do alto escalão de segurança e do governo evitam condenar o uso excessivo da força, acrescentou a HRW.
Desde que começou a onda de ataques palestinos a israelenses, a maioria deles com armas brancas, e alguns poucos com armas de fogo, em outubro de 2015, a ONG documentou "várias" declarações de ministros e políticos "incitando as forças de segurança a atirar para matar ilegalmente".
"O governo israelense deveria publicar determinações claras para o uso da força de acordo com a lei internacional", recomendou a organização de defesa dos direitos humanos.
Segundo a HRW, desde que começou a onda de ataques, houve mais de 140 casos em que as forças de segurança mataram a tiros adultos e menores de idade palestinos suspeitos de terem tentado apunhalar, atropelar ou disparar contra cidadãos israelenses, um período no qual os agressores palestinos, por sua vez, mataram 33 israelenses.
A HRW lembra que a legislação internacional de direitos humanos limita o uso da força letal "a circunstâncias nas quais ela é estritamente necessária para proteger a vida e nas quais nenhuma outra opção é viável", enquanto a lei israelense só permite atirar contra o tronco do corpo humano ou a cabeça quando for necessário para impedir um risco à vida ou ferimentos graves.
De acordo com o estudo da ONG, "as ordens dos oficiais e a conduta aparente de alguns soldados e policiais" é um desvio tanto dos padrões internacionais como das normas israelenses.
Entre vários exemplos, a HRW cita o comandante de distrito da polícia de Jerusalém, Moshé Edery, que afirmou depois que um suspeito palestino de 16 anos foi abatido: "Em menos de um minuto e meio, o agressor foi morto. É preciso matar qualquer um que apunhale judeus ou cause danos a pessoas inocentes".
Outro exemplo é o ministro de Segurança Pública, Gilad Erdan, que declarou: "Se um terrorista tem uma faca ou uma chave de fenda na mão, deve disparar para matar sem pensar duas vezes" e "qualquer agressor que queira causar danos, deve saber que é provável que não sobreviva ao ataque".
Após outro incidente, o titular de Transportes, Yisrael Katz, afirmou: "não podemos deixar que os agressores permaneçam vivos, colocando em risco as vidas de judeus".
O ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, também disse, quando era deputado, que "nenhum agressor, homem ou mulher, deveria sair vivo de um ataque".
Em sentido contrário se manifestou o chefe do Estado-Maior, Gadi Eizenkot, que afirmou que "um soldado só pode atirar se existir uma ameaça para ele ou seus companheiros soldados".
"Não quero um soldado que esvazie seu carregador contra uma menina com tesouras", disse Eizenkot, em declarações polêmicas que lhe renderam críticas dos setores mais à direita da sociedade israelense.