Medalhas olímpicas: suprimento do metal feito pela mineradora Rio Tinto foi alvo de críticas (Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 26 de julho de 2012 às 14h49.
São Paulo - Eles fizeram a Revolução Industrial, que deu origem ao capitalismo financeiro. Mas também à fuligem e à poluição dos centros urbanos. Agora, os ingleses entram pra história com outro marco: vão ser lembrados como os primeiros a buscar a sustentabilidade em todo o ciclo de vida dos Jogos Olímpicos.
A atenção meticulosa dispensada à construção das arenas e da infraestrutura, seguindo pradrões rigorosos de maneira a reduzir ao máximo os impactos ambientais, além de uma série de inovações verdes surpreendentes, já são um legado do evento, que serve de inspiração para sedes futuras, como o Brasil. Ainda assim, nem tudo saiu como planejado. Houve falhas significativas na preparação e algumas polêmicas, que não devem ser ignoradas.
Poluição: a prova oculta
Em termos de poluição atmosférica, Londres é uma das cidades mais sujas da Europa. Nem mesmo o inovador esquema de rodízio, adotado há quase uma década para controlar o tráfego de carros, conseguiu resolver o problema. Para driblar a situação a tempo do início dos Jogos, a cidade testou uma "cola mágica" capaz de capturar as partículas em suspensão liberadas por fábricas e pelo transporte e “grudá-las” no chão.
A medida não foi suficiente. Especialistas de saúde do país têm alertado que a poluição no período do verão poderia prejudicar o desempenho e a saúde de muitos esportistas. A tática adotada por Londres difere bastante das medidas, mais radicais, que Pequim implementou para as Olimpíadas de 2008. Preocupado com a poluição do ar, o governo chinês chegou a limitar o tráfego de carros, com rodízios especiais, e também fechou temporariamente algumas fábricas.
Patrocinadores “odiados”
Um contrato de patrocínio fechado em janeiro com a empresa do setor químico Dow Chemical para o Estádio Olímpico gerou polêmica e colocou em xeque as credenciais sustentáveis da competição. Por trás do alvoroço está o fato da Dow ser dona da Union Carbide, empresa responsável pelo acidente de Bophal, na Índia, em 1984, que entrou pra história como um dos maiores desastres industriais.
Críticos acusam a Dow de associar sua marca aos jogos para fazer “greenwashing”, marketing verde de fachada. Polêmica, a presença da empresa entre os patrocinadores gerou reações de repulsa mesmo entre as pessoas mais envolvidas com as Olimpíadas. Meredith Alexander, membro do Comitê por uma Londres Sustentável, responsável por garantir que a organização dos Jogos siga preceitos éticos e de sustentabilidade, renunciou ao cargo em protesto. Outras empresas patrocinadoras, como a BP e a Rio Tinto também são alvo de críticas.
Medalhas olímpicas na mira
O ataque aos patrocinadores sobrou também para as icônicas medalhas olímpicas, cujo suprimento de metais foi feito pela Rio Tinto, outra empresa na mira dos ambientalistas. Com o slogan "Não deixe Rio Tinto manchar os Jogos Olímpicos", manifestantes e representantes sindicais afirmam que a gigante da mineração polui o ar e água com suas atividade ao redor do globo, colocando vidas em risco. Segundo o britânico Guardian, a empresa forneceu oito tonenaladas de ouro, prata e bronze para fazer cerca de 4,7 mil medalhas que serão usadas nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Londres.
Energia limpa: uma oportunidade desperdiçada
Em relatório recente, a organização de conservação global WWF apontou o baixo investimento energia renovável como uma das falhas na empreitada verde. Segundo a entidade, a organização do evento não cumpriu uma promessa feita em 2005, quando a cidade foi eleita sede das Olimpíadas, de garantir que pelo menos 20% da energia que supriria o parque olímpico viria de fontes de geração limpa instaladas em regiões próximas. No entanto, apenas 9% da energia produzida localmente será renovável.