Mundo

Onda de frio extremo mata 20, deixa milhões sem luz e atrapalha vacinação nos EUA

Onda de frio extremo já dura uma semana em regiões dos Estados Unidos que não estão acostumados com temperaturas tão baixas

As temperaturas caíram para patamares que não eram vistos em mais de um século (SCOTT OLSON/GETTY IMAGES/AFP)

As temperaturas caíram para patamares que não eram vistos em mais de um século (SCOTT OLSON/GETTY IMAGES/AFP)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de fevereiro de 2021 às 08h10.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2021 às 08h11.

Uma nevasca, causada por uma onda de frio extremo que já dura uma semana, deixou 20 mortos e milhões sem energia nas regiões sul e central dos Estados Unidos, lugares que não estão acostumados com temperaturas tão baixas. A tempestade desta terça-feira, 16, trouxe neve, granizo, chuva congelante e interrompeu a vacinação em vários estados americanos.

As temperaturas caíram para patamares que não eram vistos em mais de um século, com -14°C, em Oklahoma City, o dia mais frio desde 1899, e -20°C em Fayetteville, no Estado de Arkansas. Algumas pessoas morreram em razão da temperatura, outras após tentativas frustradas de escapar do frio.

Em Houston, uma mulher e uma menina de 8 anos morreram intoxicadas por monóxido de carbono do carro, que foi ligado na garagem para aquecê-las. Um garoto de 10 anos morreu ao escorregar e cair em um lago em Millington, no Tennessee. A passagem de um tornado, na Carolina do Norte, agravou ainda mais a situação e matou pelo menos três pessoas.

Mais de 5 milhões de americanos ficaram sem eletricidade, de acordo com o site PowerOutage.us, que agrega dados das concessionárias. A maioria das interrupções ocorreu no Texas, onde muitos locais estão sem luz desde domingo.

As interrupções de energia também causaram problemas nas estações de tratamento de água. No Texas, autoridades locais emitiram alertas à população de que era preciso ferver a água antes de consumi-la. Milhares de pessoas no Estado, de Dallas até a fronteira com o México, ficaram completamente sem água e foram obrigados a usar neve derretida para dar descarga nos vasos sanitários.

NEVASCA NOS EUA: Onda de frio mata 20, deixa milhões sem luz e atrapalha vacinação

Vacinas

O frio também interrompeu a distribuição da vacina contra a covid, forçando o fechamento de clínicas e locais de imunização em várias partes dos EUA, além de suspender o envio de carregamentos de novas doses. "Simplesmente não é seguro para as pessoas sair de casa no momento. Então, precisamos esperar que tudo descongele", disse Steve Adler, prefeito de Austin, no Texas. "Depois, teremos de redobrar nossos esforços e garantir que a vacina que temos chegue às pessoas. Mas, por enquanto, estamos parados."

No Estado do Missouri, o governador Mike Parson suspendeu a distribuição de vacinas até o fim da semana. "Missouri está passando por um inverno rigoroso que torna a direção perigosa e ameaça a saúde e a segurança de qualquer pessoa exposta ao frio" disse. No Alabama, os hospitais fecharam seus pontos de vacinação. Em New Hampshire, autoridades estaduais disseram ontem que a imunização também havia sido suspensa no Estado.

Em Detroit, o prefeito Mike Duggan afirmou que os 3 mil agendamentos programados para ontem no centro de convenções TCF Center seriam transferidos para o mesmo horário no sábado. "Temos de trabalhar como uma comunidade", disse Duggan. "Vamos manter as vacinas o máximo possível, mas também não podemos pedir às pessoas que corram o risco de dirigir em condições difíceis."

O frio também afetou a produção industrial. A japonesa Nissan anunciou ontem que interrompeu a jornada em quatro fábricas de automóveis nos Estados do Mississippi e Tennessee. A Toyota suspendeu os trabalhos de suas montadoras em Kentucky, Indiana, Mississippi, Texas e Virgínia Ocidental. A Ford já havia paralisado suas fábricas no Texas, Tennessee, Indiana e Kentucky.

Especialistas disseram que esta é a massa de ar mais fria dos últimos 30 anos. A peculiaridade é que, além de intensa, ela tem sido persistente. Em Minneapolis, a temperatura está 16 graus abaixo da média e em 9 dos últimos 11 dias a temperatura se manteve abaixo de -10°C. Em Omaha, no Estado de Nebraska, aconteceu a mesma coisa em 10 dos últimos 11 dias - a cidade de Lincoln registrou ontem -31°C.

Cientistas acreditam que a onda de frio seja um fenômeno ligado ao aquecimento global, que enfraquece a capacidade do vórtice polar de reter as massas de ar frio. Cada vez mais frequentemente, os ventos gelados "escapam" e se espalham por regiões localizadas ao sul da área polar, causando distorções estranhas na temperatura. Ontem, a cidade de Kansas City, no centro dos EUA, registrou -10°C, enquanto em Fairbanks, no Alasca, a mínima foi de 5°C.

A combinação de baixas temperaturas e falta de energia preocupa as autoridades, que temem um aumento de doenças relacionadas ao frio e mais mortes, especialmente entre grupos vulneráveis como idosos e moradores de rua - um sem-teto foi encontrado morto ontem em Houston.

"Com relação às mortes causadas pelo frio, a maior parte está ligada ao aumento de doenças respiratórias", disse Scott Sheridan, especialista em mortalidade relacionada à temperatura da Kent State University. "Mas, pelo fato de a covid já ter causado um distanciamento enter as pessoas, a temporada de gripe não foi particularmente forte este ano. Então, pode ser que não tenhamos um aumento tão grande quanto o esperado."

"Teremos mais mortes ligadas à hipotermia, ataques cardíacos e acidentes", afirmou Larry Kalkstein, outro especialista, da Universidade de Miami. "Mas eu não esperaria um pico de mortes como o que tivemos recentemente durante os piores eventos de calor no Meio-Oeste ou no Nordeste dos EUA."

NEVASCA NOS EUA: Onda de frio mata 20, deixa milhões sem luz e atrapalha vacinação

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusDesastres naturaisEstados Unidos (EUA)Vacinas

Mais de Mundo

Drones sobre bases militares dos EUA levantam preocupações sobre segurança nacional

Conheça os cinco empregos com as maiores taxas de acidentes fatais nos EUA

Refugiados sírios tentam voltar para casa, mas ONU alerta para retorno em larga escala

Panamá repudia ameaça de Trump de retomar o controle do Canal