A diretora da Organização Mundial da Saúde Margaret Chan (Rick Gershon/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de maio de 2017 às 11h20.
Última atualização em 21 de maio de 2017 às 11h21.
Londres - Um relatório interno da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que a agência gasta cerca de US$ 200 milhões por ano com viagens rotineiras, montante acima do que o investido para combater doenças graves no mundo, como a AIDS, tuberculose e malária.
Segundo relatório obtido pela Associated Press, em viagem recente à Guiné, a diretora-geral da OMS, Dr. Margaret Chan, ficou em uma suíte presidencial no hotel Palm Camayenne, cuja diária custa mais de US$ 1 mil. A OMS se negou a explicar quem pagou a conta, destacando que, às vezes, os custos são pagos pelo país anfitrião.
No ano passado, a OMS gastou aproximadamente US$ 71 milhões no combate à AIDS e hepatite. Contra a malária, o gasto da agência foi de US$ 61 milhões e na luta contra a tuberculose o investimento foi de US$ 59 milhões em igual período.
Apesar das inúmeras regras e regulamentações da OMS sobre as viagens, Nick Jeffreys, diretor financeiro da organização, já chegou a dizer que, às vezes, eles não conseguem confirmar se eles estão custeando as viagens da forma mais eficiente.
A diretoria da OMS, inclusive Margaret Chan, já foi notificada por meio de um memorando com o tema "ações para conter custos de viagem", em meados de 2015. O documento apontou que a agência estava sendo pressionada por países membros para economizar dinheiro. "Viagens são necessárias", dizia a nota, "mas uma organização deve demonstrar seriedade sobre como gerenciar seus fundos adequadamente".
Em nota, a OMS disse que sua atuação demanda viagens rotineiramente. A organização ponderou, entretanto, que reduziu seus gastos em 14% no ano passado ante 2015 - embora os gastos deste último tenham sido excessivamente altos por causa do surto de ebola na África em 2014.
Desde 2013, a organização gastou mais de US$ 800 milhões com viagens. O orçamento anual da OMS, de cerca de US$ 2 bilhões, é financiado pelos 194 países membros, sendo os Estados Unidos o principal doador. Depois de vencer as eleições, o presidente dos EUA, Donald Trump, chegou a criticar a atuação da agência e seus gastos.
"Quando você gasta em viagens como a OMS, você precisa ser capaz de se justificar", disse Dr. Ashish Jha, diretor do Instituto Global de Saúde da Universidade de Harvard. "Eu não consigo imaginar uma justificativa para sempre viajar de primeira classe", argumentou.
Jha destacou que essa postura da agência pode trazer problemas no futuro. Caso a OMS não consiga mudar essa postura, "vai ser difícil manter sua credibilidade quando eles forem solicitar o próximo orçamento".