Rebeldes rezam antes de combaterem as forças do regime na Síria (Aamir Qureshi/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de fevereiro de 2013 às 13h05.
Damasco - A periferia de Damasco foi atingida por intensos bombardeios nesta quarta-feira, enquanto o Exército realizava "uma ampla ofensiva" contra os rebeldes, no momento em que o líder da oposição exige a libertação de prisioneiros.
O chefe da oposição síria, Ahmed Moaz al-Khatib, exigiu a libertação até domingo de todos os prisioneiros detidos pelo regime.
"É preciso libertar os prisioneiros antes do próximo domingo. Se, até esse dia, informações credíveis revelarem que ainda há uma única mulher na prisão, vou considerar que o regime rejeita a minha iniciativa" de diálogo, alertou.
Em Palmira, famosa por sua ruínas romanas, 19 membros dos serviços de inteligência sírios morreram em dois atentados suicidas com carros-bomba. É o atentado mais mortal contra agentes da segurança desde 24 de janeiro, quando 53 oficiais foram mortos na região de Damasco, segundo uma ONG síria.
Os atentados suicidas se multiplicaram na Síria à medida que a revolta iniciada em meados de março de 2011 contra o regime do presidente Bashar al-Assad foi se militarizando.
A maioria deles foi reivindicado por grupos insurgentes jihadistas, entre os quais o mais conhecido é a Frente Al-Nusra, considerado por Washington uma organização terrorista e com uma influência crescente no local.
O Exército, que tenta há meses acabar com a rebelião, "lançou uma ofensiva total e coordenada em toda a periferia de Damasco", segundo uma fonte da segurança. "Todas as entradas de Damasco estão fechadas", indicou à AFP.
"A província está sendo bombardeada violentamente, de uma forma sem precedente. Também foram registrados combates muito violentos", afirmou por sua vez Rami Abdel Rahmane, presidente do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Os habitantes da capital relataram "bombardeios de uma intensidade incomum", no momento em que "violentos combates" entre rebeldes e soldados eram travados nos bairros periféricos de Qadam (sul), Jobar e Qabun (leste), redutos da rebelião.
À margem do âmbito interminável da violência que fez mais 69 mortos, incluindo 30 civis, nesta quarta-feira, segundo um balanço provisório do OSDH, a oferta de diálogo com o regime sírio lançada pelo chefe da oposição, Ahmed Moaz al-Khatib, provocou divisões.
A oferta de Khatib foi apoiada não apenas pelos Estados Unidos e pela Liga Árabe, mas também pelos dois principais aliados de Damasco, Rússia e Irã.
No entanto, o Conselho Nacional Sírio (CNS), principal componente da Coalizão, expressou sua rejeição à proposta de Khatib de dialogar sob condições com o regime de Bashar al-Assad.
O CNS se atém aos seus princípios, ou seja, "a queda do regime sírio com todos os seus integrantes e a rejeição a qualquer diálogo" com o poder.
O CNS também expressou sua indignação após os inéditos contatos entre Khatib e o ministro das Relações Exteriores iraniano, Ali Akbar Salehi, que se reuniram no domingo, afirmando que rejeita este encontro "enquanto o Irã apoiar o regime" sírio.
Por sua vez, o governo sírio não havia reagido à oferta de diálogo de Khatib. Mas um jornal próximo ao poder classificou na terça-feira a oferta de diálogo de manobra, embora tenha reconhecido sua importância política.
Durante a abertura da 12ª reunião de cúpula da Organização Islâmica de Cooperação (OCI), que reúne chefes de Estado e Governo de 56 países islâmicos, o presidente egípcio Mohamed Mursi fez um apelo às facções da oposição síria a unir seus esforços "para instaurar a democracia na Síria", onde mais de 60.000 pessoas morreram em quase dois anos de conflito.
Além das mortes, das destruições e da catastrófica situação humanitária, a população mais frágil parece cada vez mais envolvida na lógica da guerra.
Um sargento desertor, que treina adolescentes na região de Aleppo para enviá-los para combater o exército sírio, relatava cruamente: "Quando chegam aqui, são crianças. Quando saem, se tornaram máquinas de matar".
Segundo o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Antonio Guterres, mais de um milhão de sírios terão fugido dos combates até o mês de junho. "A situação humanitária na Síria é a pior crise que precisamos enfrentar atualmente", disse.