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OEA pode criar comissão para tentar solucionar situação na Nicarágua

Os protestos já duram mais de cem dias e mais de 400 pessoas morreram, enquanto outras estão deixando o país e indo para a Costa Rica

Ortega rejeitou o novo projeto de resolução, que precisa de 18 votos para ser aprovado (Jorge Cabrera/Reuters)

Ortega rejeitou o novo projeto de resolução, que precisa de 18 votos para ser aprovado (Jorge Cabrera/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 1 de agosto de 2018 às 12h34.

O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) se reúne nesta quinta-feira (2) para discutir o projeto de resolução apresentado pelo Brasil e outros sete países, criando uma comissão especial para buscar soluções para a situação na Nicarágua.

Cerca de 400 pessoas morreram em mais de 100 dias de protestos no pequeno país centro-americano, e milhares de nicaraguenses já estão cruzando a fronteira para a vizinha Costa Rica, fugindo da repressão e onda de violência - a pior desde o fim da guerra civil em 1990. Entre as vítimas fatais, uma brasileira, a estudante de medicina pernambucana Raynéia Gabrielle Lima, cujo corpo já foi liberado para repatriação.

A proposta de resolução - a segunda em duas semanas - é apoiada por Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México e Peru, além do Brasil. Esses mesmos países apresentaram uma primeira resolução, aprovada no dia 18 de julho, condenando a repressão das forcas de segurança e de grupos paramilitares, simpatizantes do presidente Daniel Ortega, e pedindo eleições antecipadas.

Ortega já disse que vai concluir seu terceiro mandato consecutivo, em 2021, e rejeitou o novo projeto de resolução, que precisa de 18 votos para ser aprovado. Segundo o presidente nicaraguense, trata-se de uma "ingerência" externa no seu país. Ele acusa os manifestantes de "golpismo" e os comparou a terroristas, do grupo fundamentalista islâmico ISIS. Um projeto de lei foi aprovado pelo Congresso da Nicarágua, de maioria governista, punindo o terrorismo com até 20 anos de prisão.

Protestos

Os protestos começaram no dia 18 de abril por causa de uma proposta de reforma da Previdência, que o governo acabou revogando. Mas os manifestantes continuam nas ruas, dessa vez contra a repressão e para pedir a saída de Ortega, que há 39 anos liderou a Revolução Sandinista contra a ditadura de Anastásio Somoza. Agora o presidente e sua mulher e vice, Rosário Murillo, são acusados - até por muitos antigos sandinistas - de quererem instalar uma dinastia politica no país igual a do ditador derrotado em 1979.

Em uma primeira etapa, o governo pediu à Igreja Católica que mediasse um diálogo com setores da sociedade civil (estudantes, agricultores, empresários e organizações de defesa dos direitos humanos, entre outros) para superar a crise. Os bispos aceitaram, desde que Ortega permitisse à Comissão Interamericana da Direitos Humanos (CIDH), da OEA, investigar as mortes e as prisões ocorridas durante as manifestações.

A CIDH já apresentou dois relatórios. Ambos responsabilizam as forças de segurança, franco-atiradores e grupos paramilitares, simpatizantes do governo, pelas mortes. Um grupo de investigadores analisou provas balísticas, depoimentos das vítimas e imagens e concluiu que o governo nicaraguense está "atirando para matar".

O governo rejeitou a conclusão dos dois relatórios da CIDH, alegando que foram parciais, mas permitiu que a comissão continue investigando as denúncias. Também rejeitou a proposta feita pela Igreja Católica e demais setores que participaram do Dialogo Nacional de antecipar as eleições presidenciais para marco de 2019, para solucionar a crise. Ortega foi reeleito em 2016, mas a votação, sem a presença de observadores internacionais, foi questionada pela oposição.

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