Líderes arrecadam dinheito para sustentar movimento, mas começam a perceber que não é tão simples quanto parece (Emmanuel Dunand/AFP)
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2011 às 18h50.
Nova York - O movimento Ocupe Wall Street arrecadou mais de 500 mil dólares somente em Nova York para sustentar suas manifestações contra o mercado financeira e, com sete semanas de movimento, seus manifestantes descobriram que ter dinheiro traz dores de cabeça.
Os desafios incluem como se tornar uma entidade sem fins lucrativos, como lidar com empresas de cartão de crédito que retêm parte das doações, a escolha de um banco que compartilha a filosofia do movimento e como definir o orçamento.
Os totais levantados --mais de 500 mil dólares em Nova Iorque e cerca de 20 mil dólares em Chicago, Richmond e em outras cidades-- têm surpreendido a todos, desde os manifestantes aos supervisores de suas finanças.
"Eu imaginei que elas (as doações) trariam talvez 10 mil dólares, talvez 20 mil dólares e não seria grande coisa. Elas chegaram rapidamente aquele montante e muito e mais por dia", disse Chuck Kaufman, co-coordenador, em Tucson, da Aliança para Justiça Global (AFGJ), o responsável fiscal do movimento.
"Nós estávamos surpresos e despreparados, por isso foi uma luta para conseguir lidar com o funcionamento do sistema, diante do volume do dinheiro que foi chegando", acrescentou.
A AFGJ é um grupo sem fins lucrativos, com raízes no ativismo-solidariedade da Nicarágua, da década de 1970, que desde então vem usando seu status de isenção fiscal para ser um guarda-chuva financeiro para outros grupos.
Ocupe Wall Street paga 7 por cento de sua arrecadação para o apoio do AFGJ --contabilidade, processamento de declarações fiscais e doação.
Embora o site do Ocupe Wall Street apresente um comitê de finanças com 87 membros, Kaufman disse que o núcleo é cerca de seis pessoas, incluindo um advogado, um contador e um tatuador.
Eles lidam com mais de 400 doações diariamente através de cartão de crédito, com uma média inferior a 50 dólares cada.
Cartão de crédito
Nos primeiros dias, antes de mudar os fornecedores, a aliança recebeu 250 mil dólares em doações. Kaufman disse que empresas de cartão de crédito mantiveram 75 mil dólares deste total, alegando que esperavam um nível acima do normal nas disputas sobre os recursos.
Ele espera que os fundos sejam liberados em parcelas de 25 mil dólares a cada duas semanas, uma vez que extratos de outubro do cartão de crédito começarão a sair.
Nenhuma das redes de cartão de crédito retornou ligações para comentar sobre qualquer reserva incomum sendo tomadas.
Manifestantes próximos à bolsa em Nova York fizeram questão de frisar o quão caro é a cidade e o quão difícil será para o movimento sustentar-se durante o inverno.
"As pessoas não entendem que isso é Nova York, pagamos preços de Nova York", disse Pete Dutro, um dos principais membros da Comissão de Finanças do Ocupe Wall Street .
O movimento está mantendo seu dinheiro na Amalgamated Bank, aberto na década de 1920 por um sindicato de trabalhadores do setor têxtil e que, até recentemente, era 100 por cento de propriedade deste sindicato.
Tal propriedade exclusiva do sindicato acabou em setembro, justamente quando os protestos estavam começando. Nove dias após as manifestações começarem, a Amalgamated vendeu 40 por cento de suas ações a dois dos investidores mais conhecidos da América, Wilbur Ross e Ron Burkle.
Ross compra e funde empresas em dificuldades financeiras das indústrias de setores como carvão, aço e peças de automóveis. Burkle é mais conhecido por seus investimentos em empresas de supermercado e tem boas relações com os sindicatos. Tanto Ross quanto Burkle são bilionários.
Um porta-voz Amalgamated não retornou as ligações para comentar o assunto.
"As pessoas veem 500 mil e elas dizem: 'É um monte de dinheiro', mas a realidade é que não é muito dinheiro. Você tem uma enorme comunidade --somos maiores do que a maioria das ocupações-- e provavelmente gastamos muito mais dinheiro ", disse ele.