Conselho de segurança da ONU: reuniões nesta semana debatem possíveis "crimes de guerra" da Rússia na região de Kiev (David Dee Delgado/Getty Images)
Da redação, com agências
Publicado em 5 de abril de 2022 às 06h00.
Última atualização em 5 de abril de 2022 às 18h04.
As imagens de destruição e cadáveres encontradas em Bucha, na Ucrânia, seguirão sendo centro do debate nesta terça-feira, 5, em meio a reuniões e possíveis novas sanções estudadas contra a Rússia - incluindo no setor de energia.
Nesta terça-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) tem reunião convocada em que os países membros devem discutir a eventual classificação dos ocorridos como “crime de guerra” e possíveis punições.
A reunião foi convocada pelo Reino Unido, atual presidente rotativo do conselho, após as imagens de cadáveres nas ruas de Bucha começarem a aparecer no fim de semana.
A Rússia tentou convocar uma outra reunião para esta segunda-feira, 4, para discutir o que chamou de "provocações" da Ucrânia e imagens falsas dos cadáveres em Bucha, mas o pedido não foi acatado.
Eventuais decisões tomadas no conselho podem ser barradas pela Rússia, no entanto, pelo fato de o país ser membro permanente (uma decisão do período pós-Segunda Guerra, ainda relativo à antiga União Soviética). Os membros permanentes são Rússia, EUA, China, França e Reino Unido.
Os EUA também têm defendido a retirada da cadeira permanente da Rússia do Conselho de Segurança, outro tema que deve aparecer hoje.
A Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, a chilena Michelle Bachelet, disse que as imagens de Bucha indicam "possíveis crimes de guerra".
O prefeito de Bucha, Anatoliy Fedoruk, disse que os cadáveres encontrados indicam que houve estupro de mulheres e violações de direitos humanos contra civis. Há imagens de civis com as mãos amarradas atrás do corpo antes de serem aparentemente baleados, segundo reportaram jornalistas independentes, embora não seja possível confirmar de forma independente os responsáveis pelas mortes.
A Rússia nega os ataques contra civis e diz que as imagens são encenação fabricada pelo governo ucraniano para pedir mais armas ao Ocidente.
A região metropolitana de Kiev, em locais como Irpin, Bucha e Hostomel, foi retomada pelas forças ucranianas na última semana.
"Todos os dias, quando nossos combatentes entram e recuperam um território, eles veem o que acontece", disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que também discursará na ONU nesta terça-feira. Zelensky disse que as evidências encontradas na região de Kiev mostram que a Rússia cometeu “genocídio” contra ucranianos.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, também disse nesta segunda-feira, 4, que os Estados Unidos e seus aliados irão anunciar "esta semana" novas sanções econômicas contra a Rússia.
Segundo ele, estudam-se possíveis medidas "relacionadas à energia", um tema delicado para os europeus, muito dependentes do gás russo.
A União Europeia (UE) também começou a debater “em caráter de urgência" nesta segunda-feira uma nova rodada de sanções, segundo afirmou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell.
O presidente francês, Emmanuel Macron, falou nesta segunda-feira de sanções individuais e medidas contra "o carvão e o petróleo", mas não mencionou a compra de gás, um tema que divide os países europeus.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, também pediu novas sanções no domingo, depois de qualificar de "crimes de guerra" o assassinato de civis em Bucha.
No entanto, a Alemanha continua rejeitando as sanções que visam o setor de gás russo. "Temos que considerar sanções rígidas, mas em curto prazo o fornecimento de gás russo não é substituível" e cortá-lo "nos prejudicaria mais do que à Rússia", disse o ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, antes de uma reunião com seus colegas da UE em Luxemburgo.
Ainda nesta semana, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, estará em Bruxelas na quarta e quinta-feira para uma reunião de ministros das Relações Exteriores dos países da Otan, aliança militar das potências do Ocidente e que inclui os principais países europeus.
A área nos arredores de Kiev onde foram encontrados os corpos foi uma das primeiras atacadas pelo exército russo no início da guerra, em 24 de fevereiro. Apesar da conquista das cidades, as tropas da Rússia não conseguiram novos avanços em mais de um mês de guerra e não conquistaram efetivamente a capital Kiev.
Assim, as tropas se retiraram da região da capital na semana passada e esforços estão agora concentrados no leste (próximo da fronteira com a Rússia) e partes do sul da Ucrânia.
O governador de Luhansk pelo lado ucraniano, Sergii Gaiday, disse nesta segunda-feira, 4, que a Rússia prepara “um ataque maciço” no leste.
"Temos visto equipamentos vindos de diferentes direções, que eles [os russos] estão trazendo homens, que estão trazendo combustível [...]. Entendemos que eles estão se preparando para um ataque maciço", disse o governador de Luhansk em uma mensagem de vídeo.
O governador pediu que civis saiam de suas casas. "Não hesitem, por favor. Hoje, mil pessoas foram evacuadas. Por favor, não esperem que suas casas sejam bombardeadas", pediu.
Há duas narrativas sobre a estratégia russa no leste. O governo russo afirma que o objetivo sempre foi “libertar Donbas”, região separatista no leste. Por esta lógica, o argumento é de que os ataques a Kiev serviram apenas para separar as tropas ucranianas enquanto russos conquistavam mais partes do leste.
Já Sullivan disse nesta segunda-feira que a Rússia “tentou subjugar toda a Ucrânia e falhou”, e que essa falha é o motivo da desistência em Kiev.
“Agora, [a Rússia] tentará subjugar partes do país", disse o conselheiro americano, estimando que esta nova fase da ofensiva militar "pode durar meses ou mais".
Um dos principais alvos é a cidade de Mariupol, que vem sendo alvo de ataques frequentes e onde mais de 100 mil moradores estão cercados, quase sem água e comida.
Mariupol é estratégica por seu importante porto e por sua localização entre territórios já dominados ou sob influência russa, como a Crimeia (anexada em 2014, ao sul) e as repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk, que estão em guerra civil com o governo ucraniano desde 2014 e têm apoio russo.
(Com AFP)