Mundo

Obama tenta abrandar divisões partidárias vividas pelos EUA

Os republicanos, que controlam o Congresso, o acusam de governar por meio de ordens executivas, pisando nos "valores americanos"


	Barack Obama: "Vocês acreditam que podemos ser um só povo, que busca o possível, construindo uma união mais perfeita?"
 (Mandel Ngan / AFP)

Barack Obama: "Vocês acreditam que podemos ser um só povo, que busca o possível, construindo uma união mais perfeita?" (Mandel Ngan / AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de fevereiro de 2016 às 11h03.

Barack Obama volta nesta quarta-feira à cidade de Springfield, Illinois, onde, em 2007, iniciou sua caminhada até a Casa Branca, com o objetivo de fazer um balanço de sua gestão e abordar um dos grandes fracassos de suas presidência: não conseguir aplacar as divisões partidárias.

Foi nesta cidade do Meio-Oeste americano onde Obama proclamou a quem quisesse escutar que iria disputar a presidência dos Estados Unidos.

O então jovem senador se descreveu como um "outsider" com o objetivo de aliviar as fortes divisões da política partidária.

"Vocês acreditam que podemos ser um só povo, que busca o possível, construindo uma união mais perfeita?", questionou, na ocasião, ante a multidão.

Mas, para quem não notou, Obama pronunciou essas palavras no mesmo lugar onde Abraham Lincoln - o grande unificador - declarou que "uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer de pé".

Os eleitores americanos, depois de anos de divisões internas, acolheram a mensagem de Obama concedendo a ele a chave da Casa Branca e, ironicamente, uma maioria no Congresso.

Com o controle em ambos extremos da Avenida Pensilvânia - do Executivo e do Legislativo -, Obama ignorou a oposição republicana ao aprovar importantes reformas, como a da saúde e a de Wall Street.

Claro, a situação agora é muito diferente.

Os republicanos, que controlam o Congresso, o acusam de governar por meio de ordens executivas, pisando nos "valores americanos" em questões como casamento gay e aborto.

Nove anos depois daquele discurso, Obama volta à cidade onde tudo começou.

Admite que não cumpriu com sua promessa de campanha de abrandar as divisões.

"É uma das poucas coisas que lamento em minha presidência: que o encontro e a suspeita entre partidos tenha piorado, ao invés de melhorar", comentou em seu último discurso sobre o Estado da Nação, em janeiro.

"Não há dúvidas de que um presidente com os dons de Lincoln ou Roosevelt teria superado melhor as divisões", acrescentou.

"Eu garanto que tentarei ser melhor enquanto estiver neste cargo", acrescentou, em um franca admissão por parte de um presidente que sempre olhou para a história como guia e ponto de referência.

Uma casa dividida

Na atual campanha, os Partidos Democrata e Republicano, que também enfrenta fortes divisões internas, rejeitam qualquer tentativa de trabalhar juntos.

"Não tivemos um líder, e sim alguém que quer dividir o país", declarou o pré-candidato republicano Jeb Bush ao descrever a presidência de Obama.

Como reforço desse ponto de vista, na véspera do discurso em Springfield, Obama enviou seu orçamento para 2017 ao Congresso dominado pelos republicanos, que de cara disseram que pretendem ignorar o texto e elaborar um novo.

É provável que, durante seu discurso, Obama fale das divisões partidárias no contexto dos difíceis desafios políticos que enfrentaram Lincoln e outros.

Uma década depois do discurso de Lincoln sobre "a casa dividida", uma brutal guerra civil deixou mais de 600.000 mortos.

Eram tempos nos quais, nas palavras de Lincoln, "os céus escureceram".

Obama provavelmente tentará construir uma visão mais positiva, recordando seus tempos de senador por Illinois, quando funcionava o bipartidarismo.

Também se espera que detalhe as medidas que podem apaziguar a inimizade: uma reforma do financiamento partidário, um diálogo mais civilizado e uma democracia mais participativa.

Depois de seu discurso, o presidente irá para a Califórnia, para uma série de encontros de arrecadação de fundos, quando deverá atingir com alguns golpes os republicanos.

Acompanhe tudo sobre:Barack ObamaEstados Unidos (EUA)Países ricosPartidos políticosPersonalidadesPolíticos

Mais de Mundo

À espera de Trump, um G20 dividido busca o diálogo no Rio de Janeiro

Milei chama vitória de Trump de 'maior retorno' da história

RFK Jr promete reformular FDA e sinaliza confronto com a indústria farmacêutica

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde