Barack Obama: Obama é um pragmático que deve superar a si mesmo em um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. (Win McNamee/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 21 de janeiro de 2013 às 13h18.
Washington - Ele é um bom orador, chegou a ser chamado de o "Kennedy negro", admira o sentido do dever de Abraham Lincoln e sua reforma da saúde é comparada às conquistas de Franklin D. Roosevelt, mas antes de tudo Barack Obama é um pragmático que deve superar a si mesmo em um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos.
Em 2009, após uma campanha eleitoral acompanhada com devoção no mundo todo, Obama se tornou o primeiro presidente negro da história do país e despertou nos americanos uma esperança parecida à gerada quando John F. Kennedy se comprometeu na década de 60 a chegar à Lua.
Mas não foi Kennedy a fonte inspiradora para um primeiro mandato com o qual Obama deixou muitos frustrados pela escassez de conquistas substanciais, mas Abraham Lincoln, 16º presidente dos Estados Unidos e aquele que aboliu a escravidão.
Nem Lincoln nem Obama tinham concorrido para outros cargos executivos antes de serem escolhidos para ocupar a Presidência, e ambos chegaram ao mais alto posto de comando do país em momentos de profundas crises.
Hoje Obama jurará seu cargo para um segundo mandato em cerimônia pública em frente ao Capitólio com a Bíblia que Lincoln usou ao chegar à Casa Branca em 1861, e seu discurso anual de Estado da União será pronunciado em 12 de fevereiro, dia em que o assassinado presidente completaria 204 anos.
Se Lincoln é um dos guias espirituais de Obama, com Roosevelt ele é comparado por ter firmado as bases da reforma do sistema de saúde, promulgada em 2010.
Roosevelt introduziu um sistema de Seguridade Social na década de 30 e, desde então, todos os presidentes democratas que tentaram promover uma reforma da saúde fracassaram, entre eles Harry Truman, John F. Kennedy, Lyndon Johnson e Bill Clinton.
A "revolução da saúde" que Clinton buscava não teve sucesso, mas o ex-presidente (1993-2001) governou no período mais longo de crescimento econômico da história do país, e Obama tomou emprestadas várias de suas receitas para combater a grave crise que encontrou ao chegar à Casa Branca em 2009.
Reconciliados após uma etapa de distanciamento, Clinton e Obama não podem ser mais diferentes: o ex-mandatário possui um carisma inegável, sentido do humor e facilidade para falar com o americano médio, enquanto o atual presidente é visto por muitos como um homem misterioso e "pouco sociável".
No rosto quase sempre imperturbável de Obama foram vistas lágrimas em público muito poucas vezes. De emoção, em seu último comício de campanha em Iowa, no dia 5 de novembro, e de tristeza um mês depois, em 14 de dezembro, após o massacre em uma escola primária na cidade de Newtown, em Connecticut.
Obama "foi a voz da razão e da calma em um momento da política americana em que este tipo de voz é cada vez mais incomum", explicou Robert Reich, secretário de Trabalho no governo de Clinton e professor de política da Universidade da Califórnia, à emissora de rádio "NPR".
Esse temperamento de Obama "é o necessário" para a conjuntura atual, segundo Reich, que não lembra de uma amostra "de ira e divisão" maior do que existe hoje entre democratas e republicanos, polarizados e em permanente desacordo ao discutir leis no Congresso.
No presidente impera, além disso, um pragmatismo político que faz com que seja "um homem que resolve problemas" mais do que um ideólogo entregue às causas que os setores mais progressistas de seu partido reivindicam.
Com grandes desafios que incluem um maior controle sobre as armas, continuar impulsionando a recuperação econômica, encerrar a retirada das tropas americanas do Afeganistão em 2014 e uma reforma migratória, Obama espera ter um segundo mandato longe de polêmicas como as de vários de seus antecessores.
Reeleito em 1972, Richard Nixon teve que renunciar perante a ameaça de um julgamento político pelo escândalo Watergate, e Ronald Reagan enfrentou sérios problemas em seu segundo mandato pela venda de armas ao Irã para financiar a guerrilha anti-sandinista da Nicarágua.
Bill Clinton teve que lidar em sua segunda administração com o escândalo sexual com Monica Lewinsky, e George W. Bush deixou a Casa Branca em 2009 com uma popularidade arrasada pela gestão da Guerra do Iraque e da tragédia do furacão Katrina em Nova Orleans.
Como disse várias vezes nos últimos anos, ele é o "homem magro com o nome raro" que foi eleito presidente e que agora está obrigado a superar não Bush, seu antecessor, mas o Barack Obama destes últimos quatro anos.