Obama: o aumento das disparidades sociais, combinado com um melhor conhecimento da sua existência, é uma "mistura explosiva", advertiu (Lucas Jackson / Reuters)
AFP
Publicado em 16 de novembro de 2016 às 14h02.
O presidente americano, Barack Obama, lançou, nesta quarta-feira, na Grécia, um apelo a uma "mudança de rumo" na globalização, a fim de reduzir as desigualdades, "um dos maiores desafios" das democracias modernas.
As desigualdades gritantes, entre os países e dentro dos próprios territórios nacionais, nutrem "um profundo sentimento de injustiça", ressaltou Obama no último dia de sua viagem a Atenas, depois de uma visita à majestosa Acrópole, com vista para a cidade.
Em um discurso salpicado de palavras e referências àquilo que a Grécia "deu à humanidade através dos tempos", o presidente americano não citou sequer uma vez Donald Trump, que em 20 de janeiro o sucederá na Casa Branca, mas multiplicou as referências indiretas ao republicano.
"Como vocês podem ter notado, é difícil fazer mais diferente do que o próximo presidente americano e eu mesmo", lançou num sorriso.
Ressaltando a frustração que o fato de ver "as elites (...) vivendo sob regras diferentes, sem pagar impostos, acumulando riqueza" poderia gerar, ele frisou que, agora que "todo mundo tem um telefone celular", há uma maior consciência sobre estas desigualdades.
O aumento das disparidades sociais, combinado com um melhor conhecimento da sua existência, é uma "mistura explosiva", advertiu, pedindo ao mundo para garantir que os benefícios da globalização "sejam compartilhados mais amplamente e por mais pessoas".
Reafirmando a sua fé na democracia, nos direitos humanos e na economia de mercado, o presidente americano reconheceu que o exercício democrático, "como todo desafio humano", era imperfeito e, por vezes, "lento, frustrante, confuso".
"A democracia pode ser complicada. Acreditem em mim, eu sei!", acrescentou Obama, que está prestes a deixar a Casa Branca após dois mandatos durante os quais se deparou com uma verdadeira guerrilha parlamentar montada por seus adversários republicanos.
Na terça-feira, após uma reunião com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, Obama admitiu estar "surpreso" com a vitória de Donald Trump. E ressaltou que este último conseguiu capitalizar apoio sobre "a desconfiança vis-à-vis a globalização, a desconfiança vis-à-vis as elites e instituições".
Uma fila de espera havia se formado ao meio-dia em frente ao imenso centro cultural Stavros Niarchos, inaugurado este ano e projetado pelo arquiteto italiano Renzo Piano, onde Obama fez seu discurso.
"É fantástico estar aqui", entusiasmou-se Anaïs Karayanis, uma estudante de 17 anos. "Ele tem muito a nos ensinar, conselhos a dar. Se fosse Trump, eu também viria, mas por curiosidade, porque eu não o apoio".
Betty Kazakopoulos, que trabalha no setor de relações públicas, diz estar feliz por ter tido a oportunidade de ouvir Barack Obama, "um homem que eu estimo, e que pode ser o último dos grandes líderes americanos".
O presidente dos Estados Unidos, em seguida, viajou para Berlim, onde deve chegar no final da tarde, para a segunda etapa de sua última viagem oficial, que também irá levá-lo para o Peru.
Esta será sua sexta visita à Alemanha, onde se reunirá com a chanceler Angela Merkel, sua "parceira mais próximo ao longo de toda a sua presidência".
Obama participará, ainda, de uma mini-cúpula com a chanceler, os chefes dos governos britânico e italiano, Theresa May e Matteo Renzi, e o presidente francês, François Hollande.
Num momento em que a Europa atravessa uma crise de confiança, e se aproxima de uma série de eleições, ele defenderá novamente a importância do projeto comum europeu.
"Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de uma Europa democrática", disse em seu discurso aos atenienses.
"Aqui, há 25 séculos, uma nova ideia surgiu: demokratia", lembrou ele, sob aplausos.