Barack Obama: eledeixa o poder com um nível de popularidade bastante alto, de ao redor de 50%, algo que é "muito incomum" para o fim de um segundo mandato (Carlos Barria / Reuters)
EFE
Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 17h28.
Washington - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deixa um legado controverso e ameaçado por seu sucessor, Donald Trump, sobretudo sua reforma da saúde e a aproximação com Cuba e Irã, junto com um famoso fracasso na Síria e a derrota nos tribunais de suas políticas migratórias.
Obama, que fez história em 2009 ao se transformar no primeiro presidente negro dos EUA e deixará o Salão Oval em janeiro, tinha colocado suas fichas na candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton, para dar continuidade a suas políticas, mas acabou sendo surpreendido, como quase todos, pela vitória de Trump nas eleições de novembro.
Quando se pergunta a analistas políticos de Washington, a maioria concorda que a reforma da saúde promulgada em 2010, conhecida como Obamacare e que estabelece a obrigatoriedade de contar com um seguro médico, foi a maior conquista em nível interno do atual presidente.
Trata-se de uma lei "muito complexa" que beneficiou "mais de 20 milhões de cidadãos", disse à Agência Efe o analista Roberto Izurieta, professor da Universidade George Washington.
Esse número de beneficiados faz com que Susan Burgess, professora de Políticas da Universidade de Ohio, se pergunte se será "politicamente sustentável" para os republicanos, com Trump à frente, manter sua promessa de encerrar o Obamacare.
No entanto, Trump parece decidido a executar essa promessa, e o sinal mais claro sobre isso é a pessoa que ele escolheu para dirigir o Departamento de Saúde, Tom Price, um legislador e cirurgião conhecido por sua forte oposição à reforma de Obama.
Também há bastante unanimidade entre os analistas sobre o fato de Obama ter levado uma economia em crise e "em queda livre", nas palavras de Burgess, para números macroeconômicos razoavelmente bons, quase oito anos depois da chamada Grande Recessão.
O desemprego no país se situou em 4,6% em novembro, a taxa mais baixa desde agosto de 2007, e a economia americana cresceu a um ritmo anualizado de 3,2% no terceiro trimestre de 2016.
Mas essa recuperação também pode estar em risco com Trump, de acordo com Izurieta, que acredita que continuar pelo caminho do crescimento e melhorar esses números "requereria uma visão muito clara de para onde e como" projeta o avanço.
Obama deixa o poder com um nível de popularidade bastante alto, de ao redor de 50%, algo que é "muito incomum" para o fim de um segundo mandato, comentou Burgess à Efe, e sem nenhuma certeza sobre o destino de dois de seus sucessos em política externa: o pacto nuclear com o Irã e o restabelecimento de relações com Cuba.
Desde que foi assinado, em 2015, o acordo com o Irã já tinha muitos inimigos no Congresso dos EUA, onde os republicanos mantiveram maioria nas duas câmaras nas eleições de novembro, e agora Trump disse que quer "rompê-lo", embora, fiel a seu estilo, sem dar detalhes de como irá fazê-lo.
Já sobre Cuba, o magnata foi muito mais explícito e, por causa da morte do ex-presidente Fidel Castro, ameaçou pôr fim à aproximação com a ilha se o governo de Raúl Castro não estiver disposto a firmar "um acordo melhor".
Também se intui que Trump é partidário de uma estratégia linha dura sobre a guerra na Síria, cuja intensificação fica como o maior fracasso da política externa de Obama, apesar dos esforços de última hora de seu secretário de Estado, John Kerry, para tentar reduzir a violência, particularmente em Aleppo.
Entre os fracassos de Obama, Izurieta destaca também "sua incapacidade para ter uma relação básica com o Congresso", já que, na opinião do especialista, isto é, antes de tudo, "um dever do presidente", que deve conseguir acordos com os legisladores, mas, em seu caso, "a maioria dos republicanos" não ajudou na busca de consensos.
Burgess coincide no diagnóstico sobre as "dificuldades" de Obama para trabalhar com o Congresso, especialmente para levar adiante algumas de suas prioridades, como a reforma migratória e um maior controle das armas de fogo.
Com a via para essa reforma migratória fechada no Congresso, Obama proclamou por decreto no final de 2014 medidas para frear a deportação de quase 5 milhões de imigrantes ilegais e que foram bloqueadas pouco depois, a pedido de 26 estados.
Após uma longa batalha judicial, a Corte Suprema, com um juiz a menos após a morte do conservador Antonin Scalia, não foi capaz de inclinar a balança em favor ou contra essas medidas, o que manteve o bloqueio ditado por uma corte de instância inferior e o problema migratório passa agora para as mãos de Trump.
Ciente de que Trump está "menos preparado" para ocupar o cargo que outros presidentes eleitos, devido a sua falta de experiência política, Obama adotou após as eleições um tom conciliador e pediu aos cidadãos, dos EUA e do resto do mundo, que deem uma oportunidade a seu sucessor.
Mas também deixou claro que, "como cidadão americano que se preocupa profundamente" com seu país, não ficará calado e sairá em defesa dos valores e ideais nacionais, se considerar que os mesmos estão sendo ameaçados por Trump.