Barack Obama: "Venho aqui, consciente do passado, de nossa difícil história, mas olhando para o futuro" (Carlos Barria / Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2016 às 08h38.
O presidente americano, Barack Obama, fez nesta terça-feira uma defesa da democracia e dos direitos humanos durante sua visita ao Vietnã, país que já foi inimigo dos Estados Unidos e é governado por um partido comunista.
"Garantir os direitos não é uma ameaça para a estabilidade de um país", afirmou o presidente em seu discurso, muito aplaudido, para mais de 2.000 pessoas e exibido ao vivo pela televisão.
"Quando os candidatos podem concorrer livremente nas eleições, o país se torna mais estável porque os cidadãos sabem que seu voto conta", destacou, um dia depois de uma eleição legislativa no Vietnã em que os candidatos independentes foram vetados.
"Quando a imprensa é livre, o povo tem confiança no sistema", completou Obama, em um país onde os meios de comunicação passam por um rígido controle.
Milhares de pessoas se reuniram às margens da estrada que segue até o aeroporto, onde Obama embarcará nesta terça-feira no Air Force One para viajar até Ho Chi Minh, ex-Saigon, local repleto de história e também o centro econômico do Vietnã.
Depois de se reunir na segunda-feira com as principais autoridades do país e do Partido Comunista vietnamita, e de ter anunciado o fim do embargo da venda de armas ao Vietnã, Obama ressaltou a grande aproximação entre os dois países nos últimos 20 anos.
"Venho aqui, consciente do passado, de nossa difícil história, mas olhando para o futuro", disse Obama, terceiro presidente americano a visitar o Vietnã desde o fim da guerra em 1975.
Ele elogiou os "extraordinários progressos", realizados pelo país de 90 milhões de habitantes na luta contra a pobreza e pediu aos jovens vietnamitas que "assumam o controle de seu destino".
"Um sonho que se tornou realidade"
"Estou impressionada", reagiu Tam Anh, estudante de Comércio Internacional.
"Estou feliz de vê-lo de perto, é um sonho que se tornou realidade. Sempre assisto seus discursos no YouTube".
"Concordo com ele sobre os direitos humanos, tenho o direito de expressar minhas ideias, de dizer o que penso", completou.
Algumas horas antes, Obama se encontrou com representantes da sociedade civil, mas lamentou a ausência de algumas pessoas convidadas.
"Membros da segurança me impedem de comparecer. Dizem que posso ir onde quiser, mas não à embaixada", disse à AFP o advogado Ha Huy Son, defensor de ativistas dos direitos humanos.
Duas figuras importantes da dissidência vietnamita, o ex-banqueiro Nguyen Quang A e o blogueiro Pham Doan Trang, foram detidos, informaram ativistas dos direitos humanos nas redes sociais. Nenhum dos dois pôde ser contactado por telefone nesta terça-feira.
Mai Khoi, estrela pop e militante pró-democracia, compareceu ao encontro.
"Conhecer Obama era importante, pois ele concede um reconhecimento oficial ao movimento que deseja uma sociedade civil no Vietnã", escreveu após o encontro.
Conhecida como a Lady Gaga do Vietnã por seus figurinos excêntricos e por sua franqueza, Mai Khoi tentou ser candidata nas eleições legislativas de domingo.
Quase 100 candidatos independentes apresentaram seus nomes, mas as autoridades invalidaram as candidaturas. Quase todos os 500 deputados do país são homens, integrantes do Partido Comunista.
Soluções pacíficas
Obama aproveitou o discurso para pedir uma solução pacífica aos litígios territoriais no Mar da China.
"Os grandes países não deveriam intimidar os menores", disse Obama, em referência aos conflitos entre a China e vários países do sudeste asiático.
Na segunda-feira à noite, ao invés de um jantar oficial, o presidente americano optou por um pequeno restaurante popular de Hanói, onde provou "bun cha", a sopa tradicional vietnamita.
"O presidente maneja os pauzinhos", comentou nas redes sociais Anthony Bourdain, crítico gastronômico da rede CNN, que viaja o mundo para gravar o seu programa, junto a uma foto de Obama diante de uma tijela de bun cha, sopa a base de porco que seguramente não agradaria Michelle Obama, adepta da alimentação saudável
Preço total por um jantar de bun cha com o presidente: seis dólares. Eu paguei a conta", tuitou Bourdain.
A entrevista de Obama no restaurante deve ser exibida em setembro, em meio a nova série de programas gastronômicos de Bourdain.
Nguyen Thi Lien, 54 anos, proprietária do restaurante, contou à AFP sua "imensa surpresa" ao ver entrar o presidente americano em seu modesto estabelecimento familiar. "Jamais sonharia com isto".
"Uma equipe de TV veio até aqui há três dias, mas nos disseram que era para seu programa, não falaram em Obama".
Nguyen Thi Lien lamenta "não ter tirado uma foto" com Obama, como fizeram dezenas de vietnamitas diante do pequeno restaurante quando o presidente chegou.