O presidente Barack Obama e a líder opositora Aung San Suu Kyi, em Mianmar (Kevin Lamarque/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de novembro de 2014 às 11h26.
Yangun - O presidente Barack Obama pediu nesta sexta-feira eleições livres em Mianmar, ao lado da líder opositora Aung San Suu Kyi, e apoiou seu pedido de mudança na Constituição que a impede de ser presidente.
Obama fez o pedido durante uma entrevista coletiva conjunta em Yangun, a um ano das eleições legislativas em Mianmar e em um momento no qual a transição democrática esbarra em vários obstáculos.
Suu Kyi, que atualmente não pode ser presidente do país por causa da Constituição elaborada na época em que a junta militar governava o país, defendeu um "equilíbrio saudável entre otimismo e pessimismo" para um país em plena transição.
A Prêmio Nobel da Paz espera que seu partido, a Liga Nacional para a Democracia, vença por ampla margem as eleições de 2015. Ela afirmou que a Constituição de Mianmar é "injusta e antidemocrática" após o encontro com Obama.
"A população compreende que é injusta e antidemocrática. Não é justo justo discriminar um cidadão em particular", disse.
Suu Kyi, que já declarou publicamente o desejo de ser presidente, não pode ser candidata por uma cláusula constitucional que veta o cargo de chefe de Estado a qualquer pessoa com um cônjuge ou filhos nascidos no exterior.
O falecido marido e os dois filhos da líder opositora são britânicos. Ela defende uma emenda na Constituição.
Obama declarou que democratização em Mianmar "não está concluída".
Na quinta-feira, Obama se reuniu com o presidente birmanês Thein Sein em Naypyidaw e expressou um otimismo prudente a respeito das mudanças políticas e econômicas dos últimos três anos.
Obama dedicou mais tempo ao encontro com Suu Kyi que ao presidente, em mais uma prova da importância política da líder opositora.
Assim como aconteceu há dois anos, em novembro de 2012, os dois vencedores do Prêmio Nobel da Paz escolheram como local de encontro a residência da líder opositora, um ícone da democracia, um local emblemático no qual ela passou vários anos em prisão domiciliar antes da autodissolução, em 2011, da junta militar que governou o país durante meio século.
Entre a primeira e a segunda visita de Obama a Mianmar, a transição foi abalada por vários percalços, incluindo a violência contra a minoria muçulmana, a lei eleitoral para as legislativas e as ameaças à liberdade de imprensa.
Poucos dias antes da visita de Obama, Suu Kyi declarou que o processo de transição estava "travado".
Suu Kyi, 69 anos, precisa cumprir com êxito a difícil transformação de ícone pacifista adorada em todo o mundo para uma mulher política capaz de dominar as crises do processo democrático.
Obama também afirmou que está atento à forma de tratamento às minorias, mas sem mencionar os rohingyas, considerados pela ONU um dos grupos mais perseguidos do planeta.
Até o momento, Aung San Suu Kyi se mostrou extremamente discreta sobre o tema.
Ernest Bower, do Center for Strategic and International Studies de Washington, destaca que a Casa Branca tenta estabelecer um sutil equilíbrio em Mianmar.
"Não cogita que as reformas democráticas parem no meio do caminho, mas ao mesmo tempo reconhece que é preciso ser pragmático sobre a quantidade de mudanças que o país pode absorver em um determinado tempo", opina Bower.
*Atualizada às 12h25 do dia 14/11/2014