Donald Trump: desde 20 de janeiro o presidente já voltou atrás em 14 leis estabelecidas por seu antecessor (Carlos Barria/Reuters)
AFP
Publicado em 20 de julho de 2017 às 13h53.
Esta quinta-feira marca os seis meses do presidente americano, Donald Trump, no poder. Seus companheiros republicanos esperam que ele supere o início complicado e conquiste a reforma fiscal antes de completar o primeiro ano.
Desde 20 de janeiro o presidente já voltou atrás em 14 leis estabelecidas por seu antecessor, Barack Obama, principalmente sobre meio ambiente e indústrias.
Também venceu uma batalha fundamental no Senado, ao confirmar o juiz conservador Neil Gorsuh na Suprema Corte, e assinou inúmeras ordens executivas.
"O que fizemos em um curto período de tempo e o que faremos nos próximos seis meses será incrível", disse o magnata na segunda-feira.
Mas uma grande realização legislativa o eludiu, incluindo a revogação das reformas de saúde conquistadas por Obama, e que dividiu os republicanos.
Apesar da intensa pressão do presidente, incluindo uma reunião da Casa Branca com os republicanos do Senado na quarta-feira, os legisladores parecem ansiosos para seguir adiante.
"Da última vez que vi, o Congresso avançou por dois anos", observou o líder da maioria do Senado, Mitch McConnell, a fim de não ficar paralisado na questão das reformas da saúde após as férias de verão.
"Vamos seguir na reforma tributária e de infraestrutura", acrescentou. "Há muito trabalho a ser feito".
O porta-voz da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, concordou com o avanço em outros temas.
"As reformas da previdência social e das taxas são duas grandes coisas que temos que fazer para completar o ano para a nossa agenda de outono, além das de infraestrutura", declarou ao programa de rádio Mike Gallagher Show na quarta-feira.
"A América está ligando a TV e vendo coisas sobre a Rússia, e Trump tuita isso", acrescentou.
"Não estamos deixando que isso nos distraia".
Outra promessa de campanha, a construção de um muro na fronteira com o México, também não passou de palavras, por ora.
Trump revelou o rascunho dos históricos cortes de impostos em abril, pouco antes de completar os 100 dias de sua presidência. A proposta procura reduzir o imposto corporativo de 35% para 15%. Mas a tarefa é complexa, devido a tudo o que envolve e às somas.
Os legisladores ainda estão longe de concordar em questões como a forma de compensar a perda de receita. Sobre este ponto, Trump ainda não estabeleceu princípios claros.
Outra promessa de campanha é melhorar a decadente infraestrutura do país, onde a receita é ainda mais vaga.
Quando candidato, Trump prometeu "um trilhão de dólares" em investimentos para a construção e reparação de estradas, pontes e sistemas de transporte.
A ideia intriga a oposição dos democratas. Mas no Congresso, onde o orçamento de 2018 está atualmente em debate, ninguém aborda especificamente a questão da infraestrutura.
Para os republicanos que apoiam Trump, sua influência política e credibilidade residem na aprovação dessas duas reformas, na primeira vez desde 2006 que o partido controla a Casa Branca e as duas câmaras do Congresso.
Historicamente, os dois primeiros anos da presidência costumam ser mais proveitosos para grandes reformas, antes das eleições que renovam metade do Congresso e que acontecerão em novembro de 2018.
Essas batalhas políticas servem como uma prévia da guerra presidencial de 2020, para a qual Trump está decidido a concorrer à reeleição.
Nos primeiros 100 dias, Ronald Reagan viu quase todos os seus programas iniciais serem adotados. Barack Obama aprovou um pacote de incentivos econômicos no início de 2009, seguido do debate e eventual passagem de suas reformas de saúde e uma revisão do sistema financeiro, ambos em 2010.
Mas os primeiros passos de Trump expuseram uma administração confusa. E ele demonstrou pouco do conhecimento político de Reagan e Bill Clinton, que negociaram com Congressos controlados por seus opositores.
"Eu não acho que mesmo a aprovação de uma reforma fiscal neste momento faça muito para melhorar a percepção sobre ele, sua competência ou sua administração", afirmou à AFP Steve Gillon, professor de História na Universidade de Oklahoma.
E Peter Kastor, da Universidade de Washington, em St. Louis, reconhece que Trump pode não acreditar em uma crise de Segurança Nacional como foi o 11 de setembro para George W. Bush, ou a grande recessão enfrentada por Obama, para "vender" ou legitimar uma grande reforma no país.
Além disso, "muitos dos fatores que dificultam o sucesso de um presidente já aconteceram com Donald Trump", disse Kastor, incluindo o escândalo sobre o possível conluio com a Rússia e a sua idade avançada (71 anos).
Gillon argumenta que Trump, com baixos níveis de aprovação, pode realmente se beneficiar se as preocupações com a Segurança Nacional forem levadas à frente.
"A única coisa que poderia salvar Trump seria um grande incidente internacional, ou um grande ataque terrorista", assegura Gillon.
"E ninguém quer que nenhum desses aconteça".