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O que se sabe sobre o novo lançamento da Coreia do Norte

Segundo especialistas, novo teste mostra “um nível de performance nunca antes visto em um míssil norte-coreano”

Lançamento de míssil balístico pela Coreia do Norte: novo teste foi realizado no último final de semana (KCNA/Divulgação)

Lançamento de míssil balístico pela Coreia do Norte: novo teste foi realizado no último final de semana (KCNA/Divulgação)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 15 de maio de 2017 às 11h06.

Última atualização em 15 de maio de 2017 às 17h10.

São Paulo – Na manhã desta segunda-feira, a Coreia do Norte confirmou ao mundo ter realizado mais um lançamento de míssil balístico, o segundo em pouco mais de duas semanas e o primeiro desde que o novo presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-In, assumiu o cargo.

A comunidade internacional condenou o novo teste do regime de Kim Jong-un. Enquanto a Coreia do Sul, cujo novo presidente sinaliza uma postura mais branda em relação ao norte, lamentou o ocorrido, Donald Trump, dos Estados Unidos, classificou o ato como “a última provocação” e cobrou sanções mais duras contra o país.

O Japão enxergou o teste como “absolutamente inaceitável” e seu premiê, Shinzo Abe, disse que responderá de “maneira resoluta”. Já o presidente da Rússia, Vladimir Putin, considerou o ato como inadmissível e crê ser necessária a retomada do diálogo.

A ONU informou que o Conselho de Segurança irá realizar consultas sobre o episódio. As reuniões devem acontecer ainda nesta semana, mas é possível que novas sanções econômicas estejam no horizonte dos norte-coreanos, incluindo restrições sobre importação de petróleo.

Abaixo, confira tudo o que se sabe, até o momento, sobre esse teste.

Qual a relevância do episódio?

“É um nível de performance nunca antes visto em um míssil norte-coreano”, avaliou John Schilling, da Universidade John Hopkins. De acordo com ele, o teste mostra não só que o país tem um míssil capaz até de atingir a base militar americana em Guam, no Pacífico, mas também que houve avanço no desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM).

“Considerando as especulações dos últimos meses de que o presidente americano, Donald Trump, poderia agir militarmente para prevenir a aquisição de novas armas por Pyongyang, um possível teste de ICBM pode ser uma proteção para a Coreia do Norte na ocasião dessa ação”, avaliou o pesquisador.

O que, exatamente, foi testado?

Um míssil de médio alcance batizado de Hwasong 12 que, de acordo com o governo da Coreia do Norte, seria capaz de transportar uma ogiva nuclear de “grande tamanho”.

Quando aconteceu?

Segundo a agência estatal norte-coreana, KCNA, o lançamento foi realizado na manhã de domingo, às 04h58 (horário local), aproximadamente 17h30 de sábado (horário de Brasília).

Para onde o míssil foi lançado?

Em águas abertas. Ainda de acordo com a KCNA, o míssil atingiu uma distância de 787 quilômetros, depois de voar a uma altura máxima de 2.111 quilômetros.

Qual foi o objetivo desse teste?

O objetivo era o de verificar as especificações técnicas e táticas desse recém-desenvolvido míssil. E, para as autoridades do país, o teste foi bem-sucedido.

Qual o objetivo do míssil testado?

Bem, segundo a Coreia do Norte, a expansão de suas capacidades nucleares e a transformação do país em uma potência nuclear visa garantir a segurança da península da Coreia contra “chantagens” dos EUA.

Do ponto de vista militar, Schilling lembra que o país já conta com mísseis capazes de atingir alvos na Coreia do Sul e no Japão. Na sua visão, a expansão do alcance desses armamentos não teria consequências estratégicas, já que, fora Guam, não há alvos interessantes nessa região no radar do regime.

Mas a história muda, caso as tecnologias verificadas nesse teste servirem para o aperfeiçoamento de sistemas para ICBMs. “As cidades americanas não correm riscos hoje ou amanhã”, avalia o pesquisador, mas ele pontua que é preciso avaliar com cuidado o caminho que o país está percorrendo para que seja possível entender o que é que a Coreia do Norte tem em mãos.

A Coreia do Norte é uma ameaça?

De acordo com Jonathan Pollack, analista especializado em Coreia do Norte da do centro de pesquisas Brookings, o país é um perigo crescente, mas não é uma ameaça direta aos Estados Unidos, por exemplo, e sim para os seus vizinhos da Coreia do Sul e do Japão. Avalia, contudo, que cidadãos americanos nesses países podem, sim, ser alvos de retaliação.

Quais as chances de um ataque dos EUA?

Embora muitos acreditem que o presidente Trump tenha se encorajado a conduzir ataques preventivos (como o que aconteceu na Síria e Afeganistão), Pollack lembra que as consequências de um ato como esse em território norte-coreano teriam impactos devastadores para a Coreia do Sul e Japão.

Segundo ele, os EUA vêm trabalhando uma estratégia que mistura a pressão militar com pressão econômica, essa em parceria com a China, aliada histórica da Coreia do Norte, para evitar que regime operacionalize um ICBM capaz de atingir solo americano.

“Diferentes países vem falando sobre preempção, algo muito perigoso nesse contexto. Se Kim Jong-un acreditar que outros podem atacá-lo, pode sentir que não tem nada a perder e agir primeiro”, observa o especialista. “Ao presumir a iminência de um ataque da Coreia do Norte, os principais atores, como os EUA, podem inadvertidamente causar um conflito”, avalia.

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