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O que ocorreu na Síria pode se repetir na Venezuela, diz María Corina Machado

Líder da oposição diz que regime está rachando por dentro e convocou protestos para tentar impedir posse de Maduro

Maria Corina Machado, líder da oposição da Venezuela, durante entrevista coletiva em 7 de janeiro
 (Divulgação/AFP)

Maria Corina Machado, líder da oposição da Venezuela, durante entrevista coletiva em 7 de janeiro (Divulgação/AFP)

Publicado em 7 de janeiro de 2025 às 15h28.

Última atualização em 7 de janeiro de 2025 às 15h42.

Uma queda de ditadura como a de Bashar Al-Assad, ditador da Síria derrubado no fim de 2024 após uma ação que durou poucos dias, poderia se repetir na Venezuela, disse María Corina Machado, uma das principais lideranças da oposição no país.

"Na Síria, o regime era visto como um regime estável e forte. Ao final, em questão de dias, horas, ele foi derrubado, e aqueles que supostamente iam sair a ajudá-lo, como Rússia e Irã, Hezbollah, não o fizeram", disse Machado, em entrevista coletiva virtual que a EXAME participou, nesta terça, 7. Ela está em um lugar não revelado.

Assad, que estava no poder desde 2000, foi derrubado do governo após milícias rebeldes tomarem o controle das principais cidades do país em poucas semanas. No entanto, antes da queda, houve uma guerra civil no país que durou mais de dez anos.

Machado tentou disputar a Presidência da Venezuela em 2024, mas teve a candidatura negada pelo governo Maduro. Ela disse considerar que o regime chavista enfrenta várias fraturas internas e que tem perdido apoio popular. Maduro governa a Venezuela desde 2013, após suceder a Hugo Chávez, de quem era vice. Chávez comandou a Venezuela por 13 anos.

"Estamos aqui frente a um sistema que não é uma ditadura convencional hierárquica, mas um sistema onde há múltiplos grupos, todos tentando se salvar, o que é uma situação instável e perigosa", prosseguiu.

Machado disse ter confiança que a energia da mobilização civil vai ser suficiente para enfrentar a violência do regime. "O regime tem feito ameaças contra a sociedade, mas parece que as ameaças não estão surtindo efeito. As pessoas estão dizendo que vão para a manifestação".

A oposição da Venezuela busca realizar uma série de ações nesta semana para tentar colocar fim ao governo de Nicolás Maduro. Uma convocação para grandes protestos foi feita para quinta-feira, 9, um dia antes da cerimônia de posse presidencial.

A expectativa é que os protestos, assim como a pressão internacional, convença os militares a deixarem de apoiar Maduro, o que ajudaria a encerrar seu regime. "Neste momento, muitos policiais e soldados estao mandando mensagens e tomando decisões, se querem ser tiranos que reprimem ou heróis que defendem seu povo", disse.

"Chega de tolerar isso, chega de ficar calada. É nossa terra, nossa bandeira. A liberdade não pode ser implorada, ela pode ser lutada e conquistada. Maduro não vai embora sozinho, é preciso fazê-lo sair com a força de um povo que nunca desiste", afirmou.

Embora corra risco de ser presa, Machado disse que também irá às ruas. "Por nada no mundo eu perderia esse dia."

Eleição contestada

Na sexta, 10, Maduro planeja tomar posse de seu terceiro mandato. Ele foi declarado pelo governo como vencedor das eleições de 28 de julho. No entanto, as atas com os resultados detalhados das urnas não foram divulgados, o que fez com que a oposição acusasse Maduro de fraude. Diversos países, incluindo os Estados Unidos e o Brasil, não reconheceram a vitória dele.

A oposição defende que Edmundo González Urrutia foi o vencedor da disputa, e quer que ele seja empossado como presidente na sexta-feira, dia 10. Nos últimos dias, Urrutia fez um giro por vários países, como Argentina, Estados Unidos e República Dominicana, para se encontrar com líderes estrangeiros que deram apoio a ele, incluindo Javier Milei e Donald Trump.

Perguntada porque Urrutia não veio ao Brasil, ela disse que a estratégia foi visitar um país de cada parte do continente, e que não houve tempo para incluir o país na viagem. ""Fizemos um encontro no sul, um na América Central, outro no norte e outro no Caribe. Convidamos chanceleres de todos os países para as próximas reuniões", disse.

Urrutia, que estava exilado em Madri, disse que pretende assumir o comando do país no dia 10. "Em 10 de janeiro (...), devo assumir o papel de comandante em chefe", afirmou, em um vídeo dirigido às Forças Armadas.

O governo Maduro, no entanto, ameaça prender Urrutia se ele voltar ao país, sob acusação de terrorismo. O alto comando das Forças Armadas, até o momento, ratificou em um comunicado a sua "lealdade, obediência e subordinação" a Maduro.

A possibilidade de uma ruptura imediata dos militares com Maduro parece baixa, segundo especialistas consultados pela agência AFP, visto que os militares viram seu poder reforçado desde o governo de Chávez, com uma grande presença em setores essenciais, incluindo a indústria petroleira.

Os protestos que eclodiram após a proclamação de Maduro como presidente eleito deixaram 28 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.400 presos sob a acusação de terrorismo. Três dos detidos morreram na prisão.

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