Donald Trump: ordem para ataque ao militar foi dada por Donald Trump (Yuri Gripas/Reuters)
AFP
Publicado em 3 de janeiro de 2020 às 09h44.
Última atualização em 3 de janeiro de 2020 às 10h15.
São Paulo — A morte do general iraniano Qassem Soleimani, uma figura-chave da influência da República Islâmica no Oriente Médio, morto em um ataque americano na madrugada desta sexta-feira (03) em Bagdá, provocou preocupações em todo o mundo, com pedidos de calma para evitar uma "escalada", enquanto Teerã promete represálias.
O guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, ameaçou "vingar" a morte de Soleimani e decretou três dias de luto nacional.
"Não há dúvida de que a grande nação do Irã e as outras nações livres da região se vingarão da América criminosa por esse assassinato horrível", prometeu o presidente Hassan Rohani.
O ministro das Relações Exteriores Mohammad Javad Zarif falou de um "ato de terrorismo internacional dos Estados Unidos".
De acordo com o Pentágono, o ataque teve como objetivo impedir futuros planos iranianos de ataques e proteger cidadãos norte-americanos no Oriente Médio.
"Sob a ordem do presidente (Donald Trump), as Forças Armadas dos EUA agiram defensivamente para proteger os cidadãos norte-americanos no exterior ao matar Qassem Soleimani", afirmou o Pentágono em um comunicado.
"Este ataque teve como objetivo impedir futuros planos iranianos de ataque", informou, reiterando que os EUA continuarão a tomar as medidas necessárias para proteger seus cidadãos e os interesses em todo o mundo.
De acordo com o Pentágono, Soleimani "orquestrou" ataques em bases de coalizão no Iraque ao longo dos últimos meses e aprovou os "ataques" na embaixada dos EUA e Bagdá, ocorridos no início desta semana.
Uma autoridade norte-americana, que falou na condição de anonimato, disse que o Pentágono estava ciente da possibilidade de uma resposta iraniana, enquanto autoridades militares estavam prontas para se defender.
Antes do ataque, o secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, afirmou que havia indícios de que o Irã ou forças que o país apoia poderiam estar planejando ataques adicionais, alertando que o "jogo mudou" e que é possível que os EUA tivessem que tomar medidas preventivas para proteger vidas norte-americanas.
Rússia
A Rússia alertou para as consequências da operação "perigosa" americana, que resultará no "aumento das tensões na região", segundo o ministério das Relações Exteriores russo.
Para o presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Duma, Konstantin Kosachev, "certamente haverá represálias".
União Europeia
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, considerou que o "ciclo de violência, de provocações e de represálias deve cessar. Uma escalada deve ser evitada a todo custo".
O ministro das Relações Exteriores britânico, Dominic Raab, apelou a "todas as partes à desescalada".
"Sempre reconhecemos a ameaça agressiva da força iraniana Al-Qods liderada por Qassem Soleimani. Após sua morte, pedimos a todas as partes que diminuam a escala. Outro conflito não é de forma alguma do nosso interesse", declarou o chefe da diplomacia britânica.
Paris também considerou que "a escalada militar é sempre perigosa". "Nosso papel não é ficar de um lado ou de outro, é falar com todos", disse a secretária de Estado para os Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin, assegurando que Paris procura criar "as condições para a paz em qualquer caso para a estabilidade".
China
A China, que expressou sua "preocupação", pediu "calma".
"Pedimos a todas as partes envolvidas, principalmente aos Estados Unidos, que mantenham a calma e exercitem auto-controle para evitar novas tensões", disse um porta-voz da diplomacia, Geng Shuang.
Iraque
O primeiro-ministro iraquiano Adel Abdel Mahdi estimou que o ataque americano "iniciaria uma guerra devastadora no Iraque".
Em um comunicado, ele disse que "realizar operações de acertar contas contra figuras de liderança iraquiana e de um país irmão em solo iraquiano constitui uma violação flagrante da soberania iraquiana e um ataque à dignidade do país. O assassinato de um comandante militar iraquiano ocupando um posto oficial é uma agressão contra o Iraque, seu Estado, seu governo e seu povo", ressaltou Abdel Mahdi.
Uma autoridade iraquiana, Abu Mehdi al-Muhandis, número dois da Hachd al-Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Irã integrada ao Estado iraquiano, foi morto no ataque junto ao general Soleimani.
O líder xiita iraquiano Moqtada Sadr reativou sua milícia antiamericana, o Exército Mehdi, ordenando que seus combatentes "se preparem".
Estados Unidos
O influente senador republicano Lindsey Graham, próximo de Donald Trump, elogiou a "ação corajosa" do presidente americano "contra a agressão iraniana".
O general Soleimani "só teve o que merecia", disse o senador republicano Tom Cotton.
Mas para a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, o ataque a Soleimani representa "uma escalada perigosa na violência".
"O presidente Trump acabou de jogar dinamite em um barril de pólvora, e deve uma explicação ao povo americano", declarou o ex-vice-presidente Joe Biden, que disputa as primárias democratas para a eleição presidencial de novembro.
O senador democrata Chris Murphy disse que, embora Soleimani fosse "um inimigo dos Estados Unidos", o assassinato poderia colocar mais norte-americanos em risco.
"Uma das razões pelas quais geralmente não matamos autoridades políticas estrangeiras é a crença de que tal ação matará mais e não menos norte-americanos", tuitou Murphy.
A ex-embaixadora dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU), Nikki Haley, disse que a morte de Soleimani "deve ser aplaudida por todos que buscam paz e justiça".
Reino Unido
O secretário das Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, exortou as partes envolvidas a demonstrarem moderação depois que os Estados Unidos mataram o general iraniano Qassem Soleimani.
"Sempre reconhecemos a ameaça agressiva representada pela força iraniana Quds liderada por Qasem Soleimani. Após sua morte, exortamos todas as partes a se conterem. Conflitos adicionais não são de interesse de nenhum de nós", disse ele em um comunicado por email.
Jeremy Corbyn, o líder do Partido Trabalhista, a principal sigla de oposição, também pediu moderação e fez um apelo ao Reino Unido para "confrontar as ações beligerantes e a retórica vindas dos Estados Unidos".
Líbano
O líder do movimento xiita libanês Hezbollah, um grande aliado do Irã, prometeu "a justa punição" aos "assassinos criminosos" responsáveis pela morte do general iraniano.
Palestina
O movimento islâmico Hamas, no poder na Faixa de Gaza, um território palestino de dois milhões de habitantes, condenou o ataque americano contra "o mártir" Qassem Soleimani, "um dos mais eminentes senhores da guerra iranianos", chamando-o de "crime americano que aumenta as tensões na região".
A Frente Popular de Libertação da Palestina (PFLP), um grupo armado, pediu uma resposta "coordenada" das "forças de resistência" na região.
Síria
O governo sírio denunciou uma "vergonhosa agressão americana", advertindo para uma "grave escalada" para o Oriente Médio, informou a agência oficial Sana.
Iêmen
Os rebeldes iemenitas huthis, apoiados por Teerã, apelaram, por meio da voz de Mohammed Ali al-Huthi, uma autoridade da direção política rebelde, a "represálias rápidas e diretas".
Israel
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu ainda não reagiu ao ataque, mas interrompeu uma viagem à Grécia para retornar ao seu país.