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O que a viagem de Xi à Europa mostra sobre a estratégia da China para o futuro

Líder chinês preferiu visitar países do leste que receberam investimentos asiáticos e ficam mais próximos da Rússia

Xi Jinping, presidente da China, durante passeio nos Pirineus, na França (Aurelien Morissard/AFP)

Xi Jinping, presidente da China, durante passeio nos Pirineus, na França (Aurelien Morissard/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 10 de maio de 2024 às 15h37.

Última atualização em 10 de maio de 2024 às 15h43.

O presidente da China, Xi Jinping, terminou nesta sexta-feira, 9, uma viagem de cinco dias pela Europa, sua primeira ida ao continente desde 2019. O dirigente escolheu visitar França, Sérvia e Hungria, em um roteiro que dá sinais da estratégia chinesa em relação ao continente.

Em vez de visitar outras das maiores economias da região, como Alemanha e Reino Unido, ou mesmo a sede da União Europeia, em Bruxelas, Xi preferiu dedicar seu tempo a países mais afastados do centro de poder do continente e mais abertos aos investimentos chineses.

Sérvia e Hungria são países do leste europeu, mais próximos da Rússia, e que receberam grandes investimentos da China nos últimos anos. Na Hungria, a China investiu em fábricas de baterias e veículos elétricos. Na Sérvia, o foco chinês foi em mineração e indústrias.

A Sérvia fechou um acordo de livre-comércio com a China no ano passado, enquanto aguarda uma possível integração à UE. Em Belgrado, foram apresentados vários projetos de acordos comerciais, como a compra de trens chineses, novas conexões aéreas e o aumento das importações de produtos sérvios pela China.

Na viagem, Xi também buscou defender a autonomia dos países. "Juntos, desafiamos a ordem geopolítica em um contexto internacional instável", traçando o nosso caminho "como Estados soberanos em total independência", escreveu ele, em um artigo em um jornal húngaro, publicado em meio à visita à Budapeste.

O presidente da Hungria, Viktor Orbán, costuma questionar medidas da UE e defende uma política externa de "abertura oriental", em busca de laços econômicos mais estreitos com China, Rússia e outros países asiáticos.

Exportações da China geraram críticas na Europa

No começo da viagem, na França, Xi ouviu críticas à política industrial chinesa. O presidente Emanuel Macron colocou como prioridade buscar uma revisão das relações comerciais entre China e Europa, por considerar que o excesso de importações baratas vindas do país asiático ameace o setor industrial europeu.

Na segunda-feira, Macron pediu "um marco de concorrência leal" entre China e União Europeia (UE), e a titular da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, presente em uma das conversas, advertiu que tomaria decisões firmes para proteger a economia europeia.

Von der Leyen criticou a chegada à UE de carros elétricos chineses altamente subsidiados. A União Europeia aumentou as investigações sobre os auxílios estatais de Pequim a diversas indústrias nos últimos meses.

É uma tentativa de reduzir um desequilíbrio crescente: os 27 países da União Europeia somaram um déficit na balança comercial com a China de 396 bilhões de euros em 2022. No ano anterior, esse déficit era de 250 bilhões de euros, segundo dados da Comissão Europeia.

Xi disse aceitar ampliar as conversas sobre questões comerciais, mas rebateu as críticas. "O chamado problema de 'sobrecapacidade da China' não existe nem da perspectiva da vantagem competitiva nem à luz da demanda mundial", respondeu o dirigente, segundo uma nota do Ministério das Relações Exteriores chinês.

Ao fim do encontro com Macron, não foi anunciado nenhum acordo de grande destaque. Houve um acerto para liberar mais produtos de origem suína da França no mercado chinês, mas uma possível compra de aviões da Airbus pela China, que era aventada, não foi citada.

Macron também pediu ajuda a Xi para tentar conter as ações da Rússia na Guerra da Ucrânia. O líder chinês disse que defende uma solução política para o conflito e sugeriu uma trégua no conflito durante os jogos olímpicos, que serão realizados em julho e agosto em Paris.

O governo chinês tem se posicionado como neutra em relação à Rússia, que invadiu o país vizinho, enquanto líderes europeus e os Estados Unidos agem de forma contundente na defesa da Ucrânia. No último dia da visita de Xi à Europa, a Rússia fez um novo ataque à Ucrânia, na região norte do país, o que deve abrir um novo front no conflito.

Xi recebeu Putin em Pequim em outubro de 2023 e, após uma conversa telefônica em fevereiro, os dois líderes falaram em aprofundar sua coordenação estratégica e ampliar o comércio bilateral entre China e Rússia. Os dois líderes planejam se reunir em breve nos próximos meses, embora ainda não tenha data prevista, segundo a agência Reuters. A proximidade entre os dois é mais um sinal de que os interesses de Xi na Europa se concentram cada vez mais no leste do continente.

Com AFP.

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