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O que a derrota do chavismo representa para a Venezuela?

Nas eleições parlamentares, a MUD conquistou dois terços das cadeiras no Parlamento, a maior derrota da situação desde que Hugo Chávez chegou ao poder


	Eleitor segura bandeira da Venezuela durante celebração da vitória da oposição nas eleições parlamentares
 (Carlos Eduardo Ramirez/Reuters)

Eleitor segura bandeira da Venezuela durante celebração da vitória da oposição nas eleições parlamentares (Carlos Eduardo Ramirez/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2015 às 17h14.

São Paulo - Pela primeira vez em 16 anos, os chavistas não são mais maioria no Parlamento venezuelano. É a maior derrota da situação desde que Hugo Chávez chegou ao poder, em 1999.

A aliança de oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD) conquistou a maioria qualificada de dois terços do Parlamento: 109 deputados na Assembleia Nacional. Já o chavismo elegeu 55, pouco mais do que metade que possui na atual legislatura.

Preocupado com o resultado, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou na terça-feira (8) à noite uma iminente reforma ministerial.

O atual presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, acrescentou que, entre outras medidas, o governo vai nomear 12 novos juízes da Supremo Corte até 31 de dezembro.

A próxima legislatura, com dois terços de políticos da oposição, vai iniciar os trabalhos em janeiro.

Na última segunda-feira (7), Maduro convocou os militantes do chavismo para uma "grande jornada de debate" com o intuito de "reconstruir uma nova maioria revolucionária".

Segundo Samy Adhirni, correspondente da Folha de S.Paulo em Caracas, a quebra da hegemonia chavista "abre caminho para um provável choque de poderes da república".

Segundo o El País, a crise econômica, a insegurança e a perseguição de opositores políticos foram fundamentais para a mudança no mapa político da Venezuela.

Um dos expoentes do "socialismo do século XXI", a Venezuela enfrenta, há anos, uma severa crise econômica, uma inflação galopante e problemas seríssimos de desabastecimento.

A derrota do chavismo vem poucos dias depois de outra derrota da esquerda latino-americana: candidato conservador, Mauricio Macri se elegeu, no mês passado, presidente da Argentina.

A Venezuela, aliás, está na mira do novo mandatário argentino, que já manifestou seu desejo em acionar a clausula democrática do Mercosul, fazendo com que a Venezuela seja suspensa do bloco.

Para Michael Shifter, do think tank Diálogo Interamericano, "a contundente derrota do chavismo e a vitória de Macri refletem um desejo de mudança na região e a rejeição a governos que estão trabalhando mal".

O PIB venezuelano, segundo o FMI, deve encolher 10% neste ano, e 6% no ano que vem. A inflação deve fechar o ano em 190%, a única com três dígitos no mundo. A perspectiva, para o ano que vem, é ainda pior: 210%.

Com a economia extremamente dependente do petróleo, a Venezuela vem passando por maus bocados após o tombo dos preços da commodity.

Desde o início do século XX, a estrutura econômica da Venezuela é extremamente dependente da exploração e da exportação do petróleo.

Tal atividade fez, inclusive, que o país deixasse de investir em um parque industrial diverso, “apostando todas as fichas” na atividade petroleira: de 1928 a 1970 o país gozou do status de maior exportador do mundo.

A exploração do petróleo se apresenta, portanto, como uma protagonista para a compreensão da sociedade venezuelana e como um fator determinante para o funcionamento social do país, assim como um ponto fundamental para observar o momento que a Venezuela vive atualmente.

Diferente de outros dos países latino-americanos, a Venezuela priorizou, historicamente, a exportação de recursos minerais, ao invés de investir na diversificação de outros setores econômicos, como a agricultura, industrialização, etc.: com a venda do petróleo, o país comprava quase tudo.

A Venezuela vive o que economistas denominam de “a maldição dos recursos”.

Agora, com o preço do petróleo em baixa, falta dinheiro até para comprar papel higiênico além de outros produtos básicos incluindo farinha, leite, carne e feijão, ficassem escassos.

A falta de alimentos é particularmente grave para os pobres e no interior do país, provocando horas de filas de espera dos produtos.

Mas e agora... O que acontece?

Ainda falta a divulgação dos resultados oficiais, mas com pelo menos 112 assentos, os opositores podem ter ainda mais poder contra o presidente, Nicolás Maduro, no poder desde a morte de Chávez, em 2013, mexendo em instituições como os tribunais e o comitê eleitoral, vistos por muitos como pró-governo.

O líder da coalizão, Jesús Torrealba, declarou que a oposição tentará mudar a lei do banco central para reduzir a impressão de dinheiro que tem alimentado o maior índice de inflação no mundo.

Segundo uma pesquisa divulgada pela Foreign Policy, mais de 80% dos venezuelanos acreditam que sua nação se move em uma direção "perigosa", não apenas em termos econômicos, mas também falando sobre violência: no ano passado, foram registrados mais de 25 mil assassinatos.

Apesar de não ter o poder para reformar a economia através do Parlamento, a oposição também está prometendo novas leis para estimular o setor privado e reverter as nacionalizações.

A oposição também quer aprovar uma lei de anistia para os adversários políticos de Maduro presos, quando a nova Assembleia começar os seus trabalhos em 5 de janeiro.

Em seu pronunciamento de três horas na terça, Maduro adotou um tom de desafio. "Não vou aceitar nenhuma lei de anistia, porque eles violaram os direitos humanos", disse Maduro. "Podem enviar-me mil leis, mas os assassinos têm que ser processados e têm que pagar."

O mais conhecido político preso na Venezuela é Leopoldo López, condenado a quase 14 anos por promover violência política em 2014, quando 43 pessoas morreram. A oposição diz ter uma lista com mais de 70 presos.

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