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O mundo é Charlie: manifestações antiterror tomam o planeta

Em Berlim, Londres, Jerusalém, Beirute, Cisjordânia, ou Buenos Aires, multidões agitaram bandeiras da França, para homenagear as vítimas

Manifestação em apoio às 17 vítimas de Paris, realizada no Arpoador, Rio de Janeiro (Yasuyoshi Chiba)

Manifestação em apoio às 17 vítimas de Paris, realizada no Arpoador, Rio de Janeiro (Yasuyoshi Chiba)

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Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2015 às 06h01.

Bruxelas - Milhares de pessoas tomaram as ruas de várias cidades do mundo neste domingo, para prestar solidariedade à França, com palavras de ordem como "Eu sou Charlie" e exibindo canetas em homenagem aos mortos nos ataques, que tiveram como alvo, sobretudo, cartunistas do jornal satírico "Charlie Hebdo".

Em Berlim, Londres, Jerusalém, Beirute, Cisjordânia, ou Buenos Aires, multidões agitaram bandeiras da França e cantaram "A Marselhesa", o hino nacional francês, para homenagear as 17 vítimas fatais dos ataques jihadistas desta semana, em Paris.

Na última quarta-feira, os irmãos jihadistas Chérif e Said Koauchi mataram 12 pessoas em um ataque ao periódico, que publicou charges do profeta Maomé, enfurecendo muitos muçulmanos. Um terceiro homem armado matou uma policial na quinta-feira, e outras quatro pessoas em um mercado de produtos judaicos, em Paris, na sexta.

Cristãos, muçulmanos e judeus participaram das passeatas, que reuniram cerca de 3,7 milhões de pessoas somente na França - segundo o Ministério francês do Interior. Trata-se da maior mobilização já registrada no país.

Em Israel, onde os quatro judeus franceses mortos em um supermercado kosher em Paris serão enterrados, mais de 500 pessoas se reuniram em Jerusalém diante de um telão que dizia, em francês, "Jerusalém é Charlie".

"Hoje, somos todos judeus da França. Hoje, Jerusalém é Charlie", declarou o prefeito da cidade, Nir Barkat, acrescentando que "este é um ataque a todos nós, ao povo judeu, à liberdade de imprensa e de expressão".

O rabino-chefe, Shlomo Amar, fez uma oração pelas 17 vítimas dos ataques.

Em Ramallah, na Cisjordânia ocupada por Israel, dezenas de palestinos agitaram bandeiras da França e da Palestina e exibiram cartazes com os dizeres "a palestina apoia a França contra o terrorismo".

Administrada pelo Hamas, Gaza prestou um tributo às vítimas durante uma vigília com velas no enclave.

Europa chora 'amigos caídos'

Na Europa, uma das maiores passeatas foi celebrada em Berlim, onde 18 mil pessoas marcharam usando camisetas com os dizeres "Checkpoint Charlie Hebdo", em alusão ao posto de controle Charlie, uma reminiscência da Guerra Fria que dividia a Alemanha.

A marcha foi realizada dias depois de o grupo anti-islâmico Pegida (sigla em alemão de "Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente") levar 35 mil pessoas às ruas de Dresden.

Em Bruxelas, o chargista belga Philippe Gelluck se juntou a outras 20 mil pessoas, dizendo que marchava "em homenagem aos amigos caídos". Ele se referia aos cinco cartunistas do "Charlie Hebdo", mortos no atentado.

"Eu sei que a comunidade muçulmana se sente ferida e humilhada por essas charges, mas elas não atacam o Islã, e sim o fundamentalismo", alegou.

Em Londres, na famosa Trafalgar Square, duas mil pessoas se reuniram, erguendo seus lápis para o alto.

"Hoje, Londres e Paris estão unidos na dor, na indignação, mas também na determinação de lutar pela liberdade", declarou o prefeito Boris Johnson.

À noite, a fachada da National Gallery, as fontes da Trafalgar Square e a Tower Bridge foram iluminadas com as cores da bandeira francesa - azul, branco e vermelho. Uma pessoa exibiu um enorme coração de papel, com a mensagem "eu sou um muçulmano britânico". Uma multidão também marchou na cidade de Oxford.

A capital britânica viveu seu próprio pesadelo terrorista dez anos atrás, quando terroristas suicidas detonaram os explosivos que levavam consigo em três composições do metrô e em um ônibus, matando 52 pessoas em 7 de julho de 2005.

"Eu espero que agora, nessas circunstâncias terríveis, todos aprendam a conviver em sociedades como a da Inglaterra", disse à AFP Romain Abjean, um professor francês que vive há dez anos na Grã-Bretanha.

Na Praça do Sol, em Madri, centenas de pessoas também foram às ruas com bandeiras nas cores da França e cantaram o hino nacional francês.

Centenas de muçulmanos também se reuniram na estação Atocha, em Madri, onde ocorreu o pior ataque terrorista da Espanha, em 11 de março de 2004, quando atacantes inspirados pela rede Al-Qaeda mataram 191 pessoas.

Mulheres usando véus, acompanhadas de crianças pequenas, juntaram-se a grupos de homens jovens durante a marcha, exibindo cartazes com inscrições como "Sou muçulmano e não sou terrorista".

"Não queremos que matanças sejam realizadas em nome do Islã", pediu Driss Bouzdoudou, de 30, que vive há 14 anos na Espanha.

Da Europa ao Japão

Em outros países da Europa, 12 mil pessoas foram às ruas em Viena; duas mil, em Dublin; e cerca de três mil enfrentaram a neve em Estocolmo.

A grã-duquesa de Luxemburgo, Maria Teresa, fez uma rara aparição pública, ao se juntar às mais de duas mil pessoas que declararam seu apoio à França e seu repúdio ao terror. Na Itália, outras mil pessoas se reuniram e cantaram o hino francês em Roma, e o mesmo número se concentrou em Milão. Em Lisboa, as manifestações reuniram 200 pessoas.

Em Atenas, 500 manifestantes foram à praça de Syntagma, em frente ao Parlamento, e quase mil, em Salônica. Outros 500 se aglomeraram em Genebra, na praça De Neuve, e dois mil, em Lausanne, segundo a RTS.

Na África, mais de 300 pessoas se manifestaram contra a violência, em ato realizado em Bujumbura, capital do Burundi, e cerca de 500 foram à embaixada francesar em Abidjan, na Costa do Marfim.

Enquanto isso, centenas marchavam pelo centro de Istambul, levando nas mãos canetas e flores, em uma passeata que terminou nos arredores do consulado francês. Uma passeata similar foi celebrada em Ancara.

Mais cedo, em Istambul, a polícia prendeu dois pedestres, que gritaram "por que vocês estão se manifestando por esta revista que insultou o profeta?".

Em Beirute, centenas de expatriados libaneses e franceses também exibiram canetas e cartazes com a inscrição "Je suis Charlie". Simbolicamente, os manifestantes se reuniram na Praça Samir Kassir, assim denominada em homenagem a um jornalista franco-libanês assassinado em 2005.

Um manifestante levava um cartaz declarando solidariedade não apenas à França, mas a milhões de pessoas que sofrem na Síria, país castigado por uma guerra civil que se estende desde 2011. "Je suis Charlie, je suis syrien" (Eu sou Charlie, eu sou sírio), dizia seu cartaz.

Em Sydney, na Austrália, horas antes da manifestação em Paris, centenas de pessoas já exibiam cartazes com a inscrição "Eu sou Charlie", a alguns metros de um café, alvo de um ataque letal no mês passado.

Em Tóquio, mais de 150 cidadãos franceses e japoneses se reuniram em um instituto de cultura e língua francesa, onde fizeram uma oração silenciosa de um minuto.

Solidariedade nas Américas

Milhares de pessoas fizeram uma marcha silenciosa neste domingo em Washington, DC, em uma iniciativa promovida pela embaixada da França na capital americana para homenagear as vítimas dos ataques em Paris. A mobilização começou, simbolicamente, no Newseum, o Museu da Imprensa.

Centenas acompanharam o embaixador francês nos EUA, Gérard Araud, levando a mensagem "We are Charlie".

"Estou aqui a pedido dos franceses em Washington, porque, como eu, eles estão frustrados de ver seu país encarando uma crise tão difícil de tão longe", explicou o diplomata, que estava acompanhado dos embaixadores da União Europeia, Alemanha, Itália e Ucrânia, assim como da diretora do Fundo Monetário internacional (FMI), Christine Lagarde, e da subsecretária de Estado americana para a Europa, Victoria Nuland.

Também participou do ato o rabino da Sinagoga Nacional de Washington, Shmuel Herzfeld, que lamentou "um ataque contra a humanidade".

Já o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse estar "profundamente comovido com a marcha e com as demonstrações de solidariedade global", informou seu porta-voz.

Marchas de apoio aconteceram em outras cidades americanas, principalmente, Nova York e Los Angeles.

Em Montreal, no Canadá, as manifestações reuniram cerca de 25 mil pessoas. O prefeito da cidade francófona, Denis Coderre, e autoridades de Québec, uniram-se ao cônsul-geral, Bruno Clerc, que liderou uma longa procissão de manifestantes, acenando as bandeiras canadense, francesa e quebequense, assim como cartazes com a já célebre inscrição "Je Suis Charlie" (Eu Sou Charlie).

Cerca de duas mil pessoas também foram ás ruas de Québec, onde um enorme "Je suis Charlie" foi pendurado no histórico edifício do Parlamento.

Em Buenos Aires, centenas de pessoas se concentram ao meio-dia local (15h, na França) em frente à embaixada da França, na hora do início do protesto em Paris, para repudiar os atentados jihadistas e em solidariedade às vítimas.

"Tous Unis" (Todos Unidos), "Je suis Charlie" e "Je suis Charlie, je suis flic, je suis juif" (Eu sou Charlie, eu sou policial, eu sou judeu) diziam os cartazes exibidos pelos manifestantes argentinos.

Em Quito, cerca de 100 pessoas se reuniram diante da Aliança Francesa e, em Caracas, outras 300 foram à legação francesa manifestar seu apoio. Em Havana, mais de 50 jornalistas estrangeiros e residentes franceses se reuniram para homenagear a redação do "Charlie Hebdo".

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