Yahya Sinwar: líder do Hamas morto em operação israelense (ABIR SULTAN/POOL/AFP/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 17 de outubro de 2024 às 15h27.
Última atualização em 17 de outubro de 2024 às 15h29.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, fez um pronunciamento nesta quinta-feira, 17, após o anúncio da morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, durante uma operação do Exército de Israel na Faixa de Gaza. O premier aproveitou a ocasião para chamar o conflito de "a guerra da ressurreição", nome que propôs recentemente em uma reunião de Gabinete.
“O mal sofreu um duro golpe hoje. Nós vamos continuar a trabalhar para trazer de volta os nossos reféns. O Hamas não vai permanecer no poder”, afirmou Netanyahu.
“Este é o início do dia após o Hamas, e esta é uma oportunidade para vocês, os residentes de Gaza, finalmente se libertarem de sua tirania. Quem quer que abaixe suas armas e devolva nossos reféns, nós permitiremos que saia e viva”.
Antes, as Forças Armadas e a Autoridade de Segurança de Israel (ISA, na sigla em inglês) haviam emitido um comunicado nesta tarde confirmando a morte de Sinwar em uma operação no sul da Faixa de Gaza, após a realização de exames que confirmaram sua identidade.
"A FDI e a ISA confirmam que após uma perseguição de um ano, ontem, quarta-feira, 16, soldados do Comando Sul das FDI eliminaram Yahya Sinwar, o líder da organização terrorista Hamas, em uma operação no sul da Faixa de Gaza. Yahya Sinwar planejou e executou o massacre de 7 de outubro, promoveu sua ideologia assassina antes e durante a guerra e foi responsável pelo assassinato e sequestro de muitos israelenses", afirma o comunicado conjunto.
Ainda no comunicado, o comando israelense afirma que dezenas de operações realizadas no último ano, incluindo algumas nas últimas semanas na área onde Sinwar foi morto, restringiram o movimento operacional do líder do Hamas, levando à sua localização e eliminação.
"Nas últimas semanas, as forças das FDI e da ISA, sob o comando do Comando Sul, têm operado no sul da Faixa de Gaza, seguindo a inteligência das FDI e da ISA que indicou as localizações suspeitas de membros seniores do Hamas. Soldados da 828ª Brigada (Bislach) das FDI operando na área identificaram e eliminaram três terroristas. Após concluir o processo de identificação do corpo, pode ser confirmado que Yahya Sinwar foi eliminado", acrescenta a nota.
O Hamas não confirmou a morte de Sinwar de forma oficial, mas fontes ligadas ao movimento ouvidas pela agência de notícias Reuters antes da declaração final de Israel afirmaram ter recebido indicações de que o chefe do grupo estava morto. Veículos de comunicação próximos ao grupo informaram mais cedo que os palestinos deveriam esperar pelo pronunciamento do Hamas, e que não confiassem na imprensa ocidental e israelense, que teria por objetivo quebrar "o espírito" da resistência palestina.
O presidente de Israel, Isaac Herzog, elogiou as forças de segurança do país por "eliminarem o arqui-terrorista Yahya Sinwar", a quem chama de "o cérebro por trás do ataque mortal de 7 de outubro, responsável há anos por atos hediondos de terrorismo contra civis israelenses, cidadãos de outros países e pelo assassinato de milhares de pessoas inocentes".
“Seus esforços malignos foram dedicados ao terror, ao derramamento de sangue e à desestabilização do Oriente Médio”, disse Herzog em comunicado. “Agora, mais do que nunca, devemos agir de todas as formas possíveis para trazer de volta os 101 reféns que ainda estão sendo mantidos em condições horríveis pelos terroristas do Hamas em Gaza”, acrescentou.
"Esta é uma conquista militar e moral significativa para Israel e uma vitória para todo o mundo livre contra o eixo do mal do islamismo radical liderado pelo Irã", escreveu o chanceler israelense, Israel Katz, em uma mensagem encaminhada a dezenas de contatos diplomáticos ao redor do mundo, obtida pela rede britânica BBC. "A eliminação de Sinwar abre a possibilidade para a libertação imediata dos reféns e abre caminho para uma mudança que levará a uma nova realidade em Gaza, sem o Hamas e sem o controle iraniano".
O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, também se pronunciou após a confirmação oficial do governo. Referindo-se a uma reunião realizada na quarta-feira no Conselho de Segurança da ONU para discutir a situação em Gaza, Danon afirmou que a operação oferecia respostas às perguntas sobre o país seguir no enclave palestino.
"Nossas Forças Armadas eliminaram Yahya Sinwar, o líder do Hamas e arquiteto-chefe do massacre de 7 de outubro. Ontem, no Conselho de Segurança da ONU, muitos perguntaram por que ainda estamos em Gaza um ano após as atrocidades de 7 de outubro. Hoje eles obtiveram a resposta", escreveu o embaixador em uma publicação na rede social X. "Nenhum terrorista é imune ao longo braço das FDI. Não vamos parar até trazermos para casa todos os reféns e eliminarmos os monstros do Hamas".
Duas fontes israelenses ouvidas em anonimato pelo Washington Post afirmaram que exames de DNA e um reconhecimento feito a partir da arcada dentária permitiram confirmar a identidade do palestino, apontado por Israel como o mentor do atentado terrorista de 7 de outubro de 2023. Em uma nota publicada mais cedo, os próprios militares israelenses haviam citado a realização de testes de DNA.
Dinheiro, documentos de identificação e equipamentos de combate teriam sido encontrados junto aos corpos dos três mortos na operação, segundo o jornal israelense Haaretz.
Há um ano, a localização de Sinwar era um mistério para as autoridades israelenses, que prometeram eliminar a ameaça do Hamas em Gaza e punir os responsáveis pelo atentado de 7 de outubro. Muito se especulou que o líder palestino estivesse escondido na densa rede de túneis mantida pelo grupo para operações ofensivas e deslocamentos no enclave.
Uma das hipóteses levantadas foi de que Sinwar teria se cercado de reféns capturados em Israel para impedir ou dificultar uma operação contra ele. Outra hipótese é de que se vestisse de mulher para escapar das operações. De acordo com o relato inicial israelense, não havia nenhum refém no local da operação.
Líder do Hamas em Gaza desde 2017, Sinwar, de 62 anos, foi apontado como o maior responsável pelo ataque contra Israel em 7 de outubro de 2023, quando quase 1,2 mil pessoas foram mortas e mais de 250 foram sequestradas.
Ele nasceu no campo de refugiados de Khan Younis e entrou para a militância armada quando Israel ainda ocupava a Faixa de Gaza. Sua primeira prisão foi em 1982, por "atividades islâmicas", sendo novamente detido em 1985. Na época, se aproximou do fundador do Hamas, Ahmed Yassin, e assumiu o serviço de segurança interna do grupo. Seus alvos, além de pessoas acusadas de colaborarem com Israel, eram as "atividades imorais", como lojas com material pornográfico. Em 1989, foi condenado à prisão perpétua por quatro homicídios.
Na prisão, tornou-se fluente em hebraico e, após ter feito uma cirurgia para retirar um tumor no cérebro, chegou a receber uma proposta para colaborar com Israel. Ele recusou. Em 2011, quando houve aquela que, até agora, era a mais famosa troca de reféns por prisioneiros da História de Israel — a de mil palestinos pelo soldado Gilad Shalit — Sinwar ganhou a liberdade e voltou para Gaza como um nome de destaque do Hamas.
Seis anos depois, em 2017, quando já integrava uma lista de pessoas consideradas terroristas pelos EUA, foi escolhido chefe do conselho político do Hamas na Faixa de Gaza, sucedendo a Ismail Haniyeh, que vivia no Catar. Apesar do passado "linha-dura", que incluiu a ordenação de execuções de adversários mesmo quando estava na cadeia, os primeiros sinais enviados a Israel eram um pouco diferentes.
Em 2018, mandou mensagens, incluindo ao próprio premier Benjamin Netanyahu, afirmando que estava cansado da guerra e que seu objetivo era transformar Gaza numa sociedade funcional e pacífica. Um discurso que, como apontam analistas hoje, convenceu muita gente.
Ao longo dos anos, Sinwar manteve contatos indiretos com o governo israelense e com a Autoridade Nacional Palestina, que controla a Cisjordânia ocupada, obtendo inclusive novas permissões para cerca de 18 mil palestinos que vivem em Gaza trabalhassem em Israel. A ideia que passava era de que o Hamas não estava preocupado com a guerra, mas sim com o dia a dia dos mais de 2 milhões de habitantes do enclave.