Moon Jae-in: “O objetivo final é a prosperidade mútua da Coreia do Sul e da Coreia do Norte” (SeongJoon Cho/Bloomberg)
Carolina Unzelte
Publicado em 23 de abril de 2018 às 20h32.
Moon Jae-in voltou o foco para a presidência da Coreia do Sul há nove anos, quando seu exemplo, o ganhador do Prêmio Nobel da Paz Kim Dae-jung, doente, o puxou para perto e insistiu para que ele continuasse lutando pela paz com a Coreia do Norte. Kim, o primeiro líder sul-coreano a visitar Pyongyang, morreu pouco tempo depois.
Moon se viu entre um pequeno grupo de assessores determinados a preservar a “Política do Sol nascente” de Kim Dae-jung para a Coreia do Norte. O apelo do ex-presidente ficou guardado na memória de Moon enquanto se desenrolavam os esforços mais recentes liderados pelos EUA de desarmar o regime e encerrar a guerra inacabada.
“Aquele foi o momento decisivo”, disse Moon a um grupo de jornalistas, antes de ser eleito, em maio de 2017. “Ele disse aquelas palavras como se fossem sua vontade.”
Doze meses após o início de seu mandato como presidente, Moon está perto de um avanço que o faria superar seu antecessor famoso: ele está orquestrando uma cúpula sem precedentes entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong Un. Trata-se de um encontro tão carregado de consequências que ameaça ofuscar a própria reunião histórica de Moon com Kim, planejada para sexta-feira, primeira vez que um líder supremo de Pyongyang pisará na fronteira militarizada dos dois países.
As cúpulas são a melhor chance de resolver a Guerra da Coreia, que já dura 68 anos, desde a viagem histórica de Kim Dae-jung ao norte, há quase duas décadas. Há ainda mais em jogo desta vez, considerando que Kim Jong Un estaria muito perto de desenvolver um míssil capaz de lançar uma de suas estimadas 60 bombas nucleares em qualquer cidade dos EUA -- medida que Trump ameaçou parar com guerra.
Este é o momento para o qual Moon, 65, se preparou a vida toda. Nascido em um campo de refugiados, com pais fugidos do norte, Moon trabalhava como chefe de gabinete do presidente Roh Moo-hyun durante a última cúpula intercoreana, em 2007, e viu quando a boa vontade foi implodida pelos testes de armas de Kim Jong Il.
“Moon certamente percebe as implicações de qualquer negociação”, disse Timothy Rich, professor associado de estudos do Leste Asiático na Western Kentucky University. “Moon poderia desempenhar o papel de ’intermediador’ para definir os preparativos do que pode ser discutido.”
Nos últimos dias, Kim anunciou que ampliaria o congelamento aos testes de armas e desmantelaria uma instalação nuclear importante antes de se reunir com Moon. Ao mesmo tempo, Moon afirma que os norte-coreanos também abriram mão das exigências de retirada das forças americanas.
Embora os gestos possam derivar do desejo de Kim de reduzir as sanções e explorar divisões entre os rivais, também demonstram o sucesso de Moon como força moderadora entre dois líderes voláteis. No ano passado, quando Trump avisou que estava disposto a “destruir totalmente” a Coreia do Norte e Kim Jong Un ameaçou reduzir Seul a um “mar de fogo”, Moon traçou um caminho para reuni-los.
Ele atendeu ao pedido de Trump para exercer “pressão máxima” e participou de demonstrações de poder militar com os aliados americanos. Ao mesmo tempo, se comprometeu a “tentar de tudo para acabar com a guerra” e destacou os benefícios da reconciliação.
“O objetivo final é a prosperidade mútua da Coreia do Sul e da Coreia do Norte”, disse Moon, em Seul. “Com desnuclearização ou com paz, o que estamos tentando ter é uma prosperidade mútua.”