GINGRICH E SUA ESPOSA CALLISTA: um dos mais próximos assessores de Trump, ele é o responsável pela abordagem obstrucionista de Washington / Gary Cameron/ Reuters
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2016 às 08h22.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h27.
Sérgio Teixeira Jr., de Nova York
Poucos nomes republicanos de destaque apoiaram Donald Trump, mesmo depois de sua vitória nas primárias – a maioria da ala tradicional do partido preferiu manter-se o mais longe possível de um candidato tóxico e sem chances de vitória. O presidente eleito dos Estados Unidos é conhecido por guardar mágoas, e seus aliados dentro do partido sabem que agora é hora de ver a lealdade recompensada. Entre eles está Newt Gingrich, um ex-deputado que construiu sua carreira política colocando a bancada republicana na linha (como o Frank Underwood da primeira temporada de House of Cards, Gingrich era o whip, mas da oposição) e liderando a histórica retomada do Congresso pelos republicanos nos anos 1990.
Ainda não está claro que cargo Newt Gingrich virá a ocupar no governo Trump. Especula-se que ele seja um dos candidatos para o Departamento de Estado, mas o próprio Gingrich afirmou não estar interessado. O que se sabe com certeza é que o ex-presidente da Câmara será uma das vozes mais influentes em Washington pelos próximos quatro anos.
Com exceção de uma campanha fracassada pela candidatura presidencial republicana, em 2012, Gingrich passou quase duas décadas longe dos holofotes, atuando como consultor – mas, para os americanos que se lembram da queda de braço entre Bill Clinton e o Congresso que levou a duas paralisações do governo federal 20 anos atrás, Gingrich é inesquecível.
Newton Leroy Gingrich, 73, doutor em história pela Universidade Tulane, abandonou a carreira de professor e foi eleito deputado pela primeira vez em 1978, pelo estado da Geórgia. Gingrich permaneceu na Câmara até 1998. Sua chegada a Washington coincidiu com a guinada à direita que o Partido Republicano daria com a eleição de Ronald Reagan para a Presidência, em 1980. Gingrich elegeu-se atacando sua adversária, que afirmou na campanha que iria dividir seu tempo entre Washington e sua cidade natal. “Quando eleito, Newt vai manter sua família unida”, era um de seus slogans.
Num perfil publicado pela revista esquerdista Mother Jones em 1984, ficou claro que o conservador que pregava os valores da família e da religião em público levava uma vida privada bem diferente. Além das inúmeras infidelidades, o então deputado quis que sua primeira mulher assinasse um documento relativo ao divórcio dos dois quando estava no hospital, se recuperando da cirurgia para tratar um câncer uterino. Uma década depois, enquanto condenava Bill Clinton pelo escândalo do presidente com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, Gingrich mantinha um caso com uma funcionária da Câmara (enquanto ainda estava casado com sua segunda mulher).
Gingrich é descrito como um político que se considera um homem de grandes ideias. Ele foi um dos autores de “Contract With America” (contrato com a América), um documento publicado em 1994 que descreveu as medidas que os republicanos tomariam caso retomassem o controle do Congresso, incluindo: a obrigatoriedade de equilibrar o orçamento do governo federal; enormes cortes de impostos; menores contribuições para a ONU; e reformas dos benefícios sociais, entre outras. A agenda idealizada por Gingrich ajudou os republicanos a vencer as eleições legislativas daquele ano, o que rendeu ao partido a primeira maioria na Câmara em 40 anos. Newt Gingrich foi colocado na presidência da Casa.
O democrata Bill Clinton vetou a maioria das leis relacionadas ao pacote e, na queda-de-braço entre os dois poderes, o governo federal sofreu duas paralisações (uma delas durou 20 dias e tirou 800.000 funcionários do trabalho) quando o Congresso se recusou a aprovar o orçamento de 1996. Em declarações na época, Gingrich reclamou que não teve a chance de falar sobre o orçamento com Clinton na viagem oficial para o enterro do premiê israelense Yitzhak Rabin e que teve de descer do avião presidencial “pela porta dos fundos”. “Mais que qualquer outra pessoa na história moderna do Congresso, Gingrich é apontado pelos observadores como o responsável pela abordagem hiperpartidária e obstrucionista que até hoje associamos com a capital [Washington]”, escreveu o site Politico em um perfil do ex-deputado.
Quando os republicanos perderam o controle da Câmara em 1998, Gingrich renunciou à presidência da casa (não sem antes receber a dúbia distinção de ser o primeiro ocupante do cargo a receber uma reprimenda por desvios éticos relacionados a problemas em seu caixa de campanha). Nos anos pós-Congresso, Newt Gingrich enriqueceu atuando como consultor, palestrante e comentarista político na rede Fox e em transmissões via Facebook. Segundo reportagem do The Washington Post, nos dez anos depois de deixar a carreira política, as empresas de Gingrich faturaram mais de 100 milhões de dólares.
Durante a campanha de Donald Trump Gingrich foi um dos poucos membros da ala tradicional do Partido Republicano a declarar lealdade ao empresário.
Nas semanas que antecederam a convenção do partido, seu nome era considerado um dos favoritos para o posto de vice (o indicado foi o governador de Indiana, Mike Pence). Uma indicação para o ministério de Trump não está garantida, e é possível que ele acabe ocupando um cargo de assessor. Um assessor de extrema confiança – isso, é claro, se o presidente eleito não mudar de ideia e fizer mais uma purga de seu círculo mais próximo, como ocorreu meros três dias depois da confirmação de sua vitória.