Barack Obama e Mitt Romney: "Às vezes não sei se são democratas ou republicanos, tenho que ir com muito cuidado quando falo com eles", revela o barbeiro (Getty Images / Scott Olson)
Da Redação
Publicado em 6 de novembro de 2012 às 05h56.
Washington - O barbeiro Nurney Mason tem 82 anos, trabalha há três décadas na mesma barbearia e cumpre com todo rigor um princípio para evitar problemas: escutar muitas conversas sobre política, mas evitar comentá-las.
"Tento me manter à margem da política", confessa à Agência Efe com a boina posta. Mason corta o cabelo, barbeia e penteia, sem distinção, republicanos e democratas na barbearia do Congresso dos Estados Unidos, a instituição legislativa que reúne a Câmara dos Representantes e o Senado do país.
Tentando não tomar partido, se diz "muito interessado" pelas eleições americanas desta terça-feira: "É a mais tensa e apertada eleição que jamais presenciei", explica o barbeiro afro-americano com cada vez menos trabalho nos últimos dias à espera do novo ciclo político do país.
Na terça-feira os americanos elegem o próximo presidente do país, mas também todos os membros da Câmara dos Representantes e um terço do Senado, duas votações fundamentais para o futuro político da nação.
Com a Câmara dos Representantes de atual maioria republicana e o Senado democrata, os resultados determinarão se o Legislativo será um aliado para a Casa Branca ou um freio para suas políticas, como experimenta o presidente Barack Obama desde 2010.
"Se notou a mudança de ambiente político em 2010", acrescenta o barbeiro e, quanto mais se aproxima o dia 6 de novembro, "todo o mundo está mais tenso e há muito nervosismo".
"Às vezes não sei se são democratas ou republicanos, tenho que ir com muito cuidado quando falo com eles, principalmente quando confessam de que lado estão", revela com a malandragem intacta.
Nascido no litoral da Virgínia, mas morando na capital há mais de meio século, o barbeiro Mason conta que os congressistas falam muito de política e que abrem debates entre conservadores e progressistas no local repleto de retratos assinados por antigos membros do Congresso.
Acredita que um barbeiro e um político se parecem mais do que se percebe à primeira vista: "Ambos nos relacionamos com as pessoas; tem que saber ganhar a simpatia das pessoas, tratar com diferentes tipos de caráter, ter temperança e... saber receber insultos".
Defende o trabalho de seus companheiros de edifício em um momento em que a aprovação do Congresso nos EUA caiu a níveis mínimos, a 20% nesta última semana, segundo o Instituto Gallup.
Mason, que repete que se mantém à margem das rixas políticas, deixa entrever suas simpatias ideológicas quando fala de história.
"A grande mudança foi em 1994, quando os republicanos ganharam a Câmara (de Representantes) pela primeira vez em 40 anos e houve muita diferença. A primeira coisa que fizeram foi privatizar as lojas do Congresso, o escritório dos correios, as barbearias...", lembra.
Quarenta anos atrás havia quatro barbearias na instituição; quando Mason chegou restavam duas e agora sobrevive apenas uma, que também perdeu clientes desde que os ataques terroristas de 2001 multiplicaram as medidas de segurança e afugentaram os transeuntes que vinham da rua para dar um "tapa no visual".
Por isso agora, neste negócio pouco frequentado por mulheres e muito por congressistas que viajam nos finais de semana para seus estados de origem, há ofertas abaixo do preço de mercado: US$ 15 o corte básico.
E apesar de suas tímidas preferências democratas, o barbeiro Mason admite que os políticos são generosos com as gorjetas. "E de ambos lados", ressalta.