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O Estado Islâmico é inimigo do Talibã?

Alianças são formadas entre grupos radicais islâmicos, que seguem a mesma ideologia; nada acontece no Afeganistão sem que o Talibã saiba, diz especialista

Talibã em Cabul: grupo tem ligação com outras organizações fundamentalistas (Stringer/Reuters)

Talibã em Cabul: grupo tem ligação com outras organizações fundamentalistas (Stringer/Reuters)

CA

Carla Aranha

Publicado em 26 de agosto de 2021 às 18h20.

Última atualização em 26 de agosto de 2021 às 18h36.

As siglas se multiplicam: Al Qaeda, Talibã, Estado Islâmico, Boko Haram. Em comum, eles têm a ideologia e o modo de operar. Esses grupos fundamentalistas defendem a ideia da jihad (a conquista de território para a ampliação do islamismo) e repelem a intromissão do Ocidente no Oriente Médio e em outras regiões de maioria islâmica. No campo moral, os valores também são compartilhados: as mulheres não devem exercer atividades profissionais (pior ainda, devem sair só em caso de necessidade) e meninas podem ser impedidas de ir à escola. Comerciantes precisam pagar uma taxa para continuar operando e as transações econômicas são fiscalizadas. A sharia, lei islâmica, é o que predomina.

“Esses grupos não são inimigos, pelo contrário. Podem se unir para determinadas operações ou então, conforme o momento, atuar de forma independente. É tudo muito fluido”, diz o afegão Sher Jan Ahmadzai, especialista em relações internacionais e políticas públicas da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, considerado um dos maiores analistas globais do assunto.

O Talibã surgiu logo depois da derrota da União Soviética no Afeganistão, no final dos anos 1980. Os combatentes afegãos treinados pelos Estados Unidos para lutar contra os soviéticos, os mujahadeen, formaram a semente do Talibã. A Al Qaeda, fundada em 1988 por Osama bin Laden, convivia com o Talibã – tanto que seus militantes se esconderam nas cavernas do Afeganistão durante muito tempo. O Estado Islâmico, que surgiu no Iraque há uma década, também possui laços com esses grupos. “Basta dizer que foram criadas afiliações do Estado Islâmico no Afeganistão”, diz Ahmadzai.

O Estado Islâmico Khorasan (do Afeganistão) não é uma organização coesa. “Há três ou quatro grupos afilados debaixo desse guarda-chuva”, diz Ahmadzai. De qualquer forma, o Estado Islâmico e outros grupos radicais não operam no país sem que o Talibã esteja informado. Os atentados desta quinta-feira podem ser interpretados como uma operação para impedir a evacuação de afegãos e estrangeiros, na visão do analista.

Apesar de ter perdido território no Iraque e na Síria, o Estado Islâmico continuou realizando ataques terroristas na região. O Boko Haram, ativo na Nigéria, no Chade e Camarões, na África, tem uma bandeira quase idêntica à do Estado Islâmico, em que se inspirou. Todos conduzem ataques terroristas com homens e carros-bomba em locais com grande circulação de pessoas.

No Afeganistão, o Talibã controla boa parte das rotas do tráfico de drogas. No Iraque, o Estado Islâmico também conduzia atividades ligadas ao crime organizado. “Esses grupos podem ser competidores quanto ao tráfico de drogas e outros ilícitos, mas não no campo ideológico e muito menos do ponto de vista dos métodos utilizados”, afirma Ahmadzai, que foi assessor especial do ex-presidente afegão Hamid Karzai.

 

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