A igreja onde ocorreu o assassinato do padre Jacques Hamel, em Saint-Etienne-du-Rouvray (CHARLY TRIBALLEAU/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de julho de 2016 às 21h59.
Rennes - Após o assassinato do padre Jacques Hamel, na terça-feira, na igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray (França), o comando extremista estabeleceu um diálogo surreal com as duas religiosas mantidas reféns no interior do templo, segundo informações do jornal católico La Vie.
No momento em que o padre de 85 anos já estava morto e um fiel se encontrava gravemente ferido, os dois terroristas, que até o momento tinham mantido uma atitude agressiva e furiosa, mudaram subitamente de comportamento.
"Tive direito a um sorriso do segundo", afirma a freira Huguette Péron. "Não um sorriso de vitória, mas um sorriso doce, de alguém feliz", explica.
A irmã Hélène Decaux, de 83 anos, e a esposa do fiel ferido, com mais de 80, pediram para se sentar. Um dos assassinos aceitou. "Pedi minha bengala e ele me deu", conta a freira.
Depois, a conversa se voltou para a temática religiosa. Um dos homens perguntou à irmã Hélène se conhecia o Corão. "Claro, respeito como respeito a Bíblia. Já li várias suras. As suras que falam de paz me tocaram particularmente", respondeu a religiosa.
"A paz, isto é o que queremos (...) Enquanto houver bombas na Síria, continuaremos com os atentados. E haverá todos os dias. Quando pararem, pararemos", respondeu seu interlocutor.
"Você tem medo de morrer?", perguntou ele, em seguida. Diante da resposta negativa da freira, o extremista perguntou por que.
"Creio em Deus e sei que serei feliz", responde a irmã Hélène que, segundo contou ao jornal, neste momento encomendou sua alma à virgem e pensou em Christian de Chergé, o prelado do mosteiro de Tibehirin (Argélia), assassinado com outros seis monges em 1996.
Com a irmã Huguette, a conversa foi sobre Jesus. "Jesus não pode ser homem e deus. São vocês que se enganam", afirmou o assassino.
"Talvez, mas o que importa", respondeu a freira. "Pensando que ia morrer, ofereci minha vida a deus", relatou.
"Visivelmente, esperavam a polícia", diz a irmã Hélène. Pouco depois, os dois homens tentaram sair usando as três mulheres como escudo humano. "Mas não se colocaram totalmente atrás de nós. Seria possível dizer que caminhavam para a morte".
Presente na missa quando os extremistas chegaram, uma terceira religiosa, a irmã Danielle Delafosse, conseguiu sair da igreja e dar a voz de alerta.