“a complexidade” desta rede de passagens confronta os militares israelenses com uma “guerra tridimensional”, ( Menahem KAHANA/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 28 de outubro de 2023 às 19h43.
Última atualização em 28 de outubro de 2023 às 19h44.
O desmantelamento da rede de túneis na Faixa de Gaza criada pelo Hamas é um dos maiores desafios do exército israelense, ao privar o movimento islamita palestino de todas as suas “capacidades de ação”.
“O inferno subterrâneo”, foi a manchete do jornal israelense Maariv esta semana. Segundo o jornal, “a complexidade” desta rede de passagens confronta os militares israelenses com uma “guerra tridimensional”, transformando-os em alvos de tiros que podem vir de edifícios próximos, de drones e do subsolo.
A tal ponto que a rede foi apelidada pelos militares de “metrô de Gaza” e põe em dúvida o resultado da guerra desencadeada pelo ataque sem precedentes lançado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro, a partir do território palestino da Faixa de Gaza.
Cerca de 1.400 pessoas foram mortas do lado israelense desde 7 de outubro, a maioria civis massacrados nesse dia pelos comandos do Hamas, de acordo com os últimos números das autoridades de Israel, que identificaram cerca de 230 reféns raptados pelo Hamas e ainda mantidos em cativeiro em Gaza.
Em retaliação, o Exército israelense bombardeou incessantemente a Faixa de Gaza, como prelúdio para uma possível grande ofensiva terrestre. Mais de 7.700 palestinos, a maioria civis, morreram desde o início destes bombardeios, segundo o ministério da Saúde do Hamas, movimento classificado como “organização terrorista” por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Em um estudo publicado em 17 de outubro, o Instituto de Guerra Moderna da Academia Militar Americana de West Point descreve os túneis do Hamas como um “pesadelo subterrâneo” e fala de “uma maldição que o exército israelense enfrenta” para a qual “não existe uma solução perfeita”.
“A magnitude do desafio em Gaza, onde centenas de quilômetros de túneis subterrâneos cruzam este enclave, é completamente única”, escreve John Spencer, autor do estudo.
“É uma autêntica cidade subterrânea”, especifica, ao mencionar 1.300 galerias em 500 quilômetros, sob um estreito território de 41 quilômetros de comprimento e uma largura que varia entre 6 e 12 quilômetros.
O problema colocado por este labirinto invisível é ainda mais complicado pela presença de 2,4 milhões de habitantes de Gaza, ruas estreitas e habitações densas.
No sábado, os militares israelenses anunciaram que os seus aviões de guerra atacaram “150 alvos subterrâneos no norte de Gaza durante a noite, incluindo túneis usados por terroristas, locais de combate e outras infraestruturas subterrâneas”.
Israel está convencido de que, a partir desta gigantesca rede, o movimento islamista palestino dirige e organiza a maior parte das suas operações, que aí armazena o seu arsenal e poderia até manter reféns.
O general Daniel Hagari, porta-voz do Exército, disse sexta-feira que o Hamas opera “sob os hospitais” em Gaza, onde, segundo ele, há acesso à rede de túneis. O Hamas negou e acusou Israel de procurar um pretexto para os seus bombardeios.
Uma das reféns israelenses do Hamas, libertada na segunda-feira, recordou que após o seu rapto foi levada para “uma rede de túneis" subterrâneos "durante duas ou três horas".
Mick Ryan, general reformado, pesquisador associado do CSIS (Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais) em Washington, explicou no X, antigo Twitter, que com a informação dos seus drones sobre os movimentos dos soldados israelenses, "o Hamas poderá explorar mais eficazmente a sua rede subterrânea para transferir os seus combatentes para o lugar certo e no momento certo".
Para evitar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza após a tomada do poder pelo Hamas, em 2007, os palestinos começaram a abrir centenas de galerias sob a fronteira com o Sinai egípcio para permitir a circulação de pessoas e mercadorias, mas também de armas e munições entre Gaza e o mundo exterior.
Assim, durante anos, o Hamas e a Jihad Islâmica introduziram foguetes transportados do Irã para o Sudão e, em seguida, através de redes de contrabando, pelo Egito, em particular entre junho de 2012 e julho de 2013, segundo especialistas militares ocidentais.
"Mas, desde 2014, a principal missão do Hamas tem sido desenvolver uma rede de túneis subterrâneos que permitam a circulação através de Gaza", destaca um oficial militar israelense, que calcula o custo de construção de cada quilômetro de galeria em 500 mil dólares (pouco mais de 2,5 milhões de reais).
Os homens do Hamas, por vezes escondidos até 30 ou 40 metros abaixo do solo, podem mover-se por ali e proteger-se dos ataques, enquanto baterias de lança-foguetes escondidas a alguns metros de profundidade podem sair graças a um sistema de armadilhas, que permite disparar rapidamente e esconder-se de novo, segundo imagens do exército.