Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Leah Millis, Reuters) (Leah Millis/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 18 de junho de 2018 às 16h02.
Última atualização em 18 de junho de 2018 às 16h12.
São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aproveitou a segunda-feira, 18, para criticar as políticas migratórias da Alemanha, cujo governo viveu uma crise institucional nos últimos dias motivada pela desavença entre a primeira-ministra, Angela Merkel, e o ministro do Interior, Horst Seehofer, sobre esse tema.
“O povo alemão está dando as costas a seus governantes enquanto a imigração está sacudindo a frágil coalizão de Berlim. A criminalidade na Alemanha está subindo. Um grande erro por parte de toda a Europa aceitar a milhões de pessoas que radical e violentamente mudaram sua cultura”, disse o republicano no Twitter.
The people of Germany are turning against their leadership as migration is rocking the already tenuous Berlin coalition. Crime in Germany is way up. Big mistake made all over Europe in allowing millions of people in who have so strongly and violently changed their culture!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 18, 2018
Vale notar, no entanto, que a criminalidade na Alemanha não está nem perto de “subindo”. Pelo contrário: segundo dados compilados pelo Ministério do Interior, chefiado por Seehofer, e divulgados no início de maio de 2018, a criminalidade no país é a mais baixa desde 1992.
Quando se olha para a taxa de criminalidade, a queda nos crimes registrados no país é ainda mais expressiva, sendo a mais baixa em três décadas de registros. Já os crimes cometidos por estrangeiros, esses caíram cerca de 23% na comparação de 2017 com 2016.
Ainda no recorte dos estrangeiros, especificamente os imigrantes que estão solicitando asilo (grupo no qual a polícia inclui os refugiados, por exemplo, e outros indivíduos com direito à proteção internacional), tampouco há aumento e sim a queda de 4,1%.
Algum aumento nos crimes? Infelizmente, sim, nos números de ataques com motivações antissemitas. De acordo com os dados da polícia alemã, esses casos subiram 2,5% entre 2016 e 2017 e 94% dos autores eram radicais da extrema-direita.
Enquanto o presidente americano tenta apontar para problemas domésticos de potências, fato é que a sua administração está enfrentando uma crise séria dentro de casa. Nos últimos dias, o governo do republicano vem recebendo críticas por todos os lados por sua política “tolerância zero” ante os imigrantes que tentam atravessar a fronteira do país com o México.
De acordo com números do Departamento de Segurança Nacional do país, ao menos 2 mil crianças foram separadas de seus pais nas últimas seis semanas durante tentativas de cruzar para os EUA.
Trump bem que tentou culpar os democratas por essa tragédia humanitária, apesar de o Congresso dos EUA ser de maioria republicana. A lei que abre margem para esse tipo de ação foi elaborada durante a gestão democrata de Barack Obama. No entanto, lembra a agência de notícias AFP, era usada apenas em casos excepcionais e não aplicada indiscriminadamente.
Segundo o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, a situação é inadmissível e “pode causar danos irreparáveis”, notou citando a Associação Americana de Pediatria.
Até Melania Trump, a primeira-dama que vira e mexe desaparece dos holofotes, ressurgiu nesta segunda-feira para criticar a atuação das autoridades americanas, chefiadas, em última instância, por Trump, dizendo que “precisamos ser um país que segue todas as leis, mas também um país que governa com o coração”.