Mulheres na Islândia: país é considerado o melhor do mundo para mulheres pela 9ª vez (Stringer/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 2 de novembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 2 de novembro de 2017 às 09h09.
São Paulo – Quando em 24 de outubro de 1975, as islandesas deixaram de executar tarefas em casa e no trabalho pela luta por salários iguais e lembrar a todos da relevância do papel feminino na sociedade do país, possivelmente não imaginavam que a Islândia levaria alguns anos, mas eventualmente se consolidaria como o melhor lugar do mundo para mulheres.
E isso se realiza pela 9ª vez consecutiva, como mostrou a edição 2017 do Global Gender Gap Report, estudo conduzido pelo Fórum Econômico Mundial e que avalia a igualdade entre os gêneros em 144 países, divulgado nesta madrugada (2). Para compilar o ranking, são investigados quatro pilares: Participação Econômica e Oportunidade, Acesso à Educação, Saúde e Sobrevivência e Empoderamento Político.
O que a Islândia vem conseguindo é inédito em qualquer lugar do mundo: 87% da lacuna que divide homens e mulheres já foi fechada e 12% disso foi realizado em 11 anos, o que faz do país o que vem avançando mais rapidamente na direção da igualdade plena. Quando se olha para a Empoderamento Político, especificamente, 70% desse espaço já foi preenchido, enquanto nenhum outro país ultrapassou a marca de 60%.
A pontuação geral obtida pelo país é de 0,878. Quanto mais próxima de 1 for tal, seja no âmbito geral ou em um pilar específico, mais igualitário é o país. Veja abaixo o desempenho da Islândia.
A Islândia é o país mais igualitário, é bem verdade, e segue estável como tal. No entanto, mesmo lá a situação das mulheres ainda não é perfeita. Quando olhamos para os indicadores separadamente, as islandesas estão perto, porém ainda não aproveitam lacunas fechadas em Participação Econômica e Oportunidade, Acesso à Educação e Saúde e Sobrevivência.
Na vida além das tabelas, os obstáculos que o país ainda precisa superar ficam evidentes. Na última semana, informa o site Iceland Monitor, a Islândia realizou eleições gerais e o resultado foi um balde de água fria para a representação feminina: se antes 47,6% do parlamento era composto por mulheres, essa percentagem agora é de 38,1%, a mais baixa em dez anos.
Tal derrota, no entanto, está longe de derrubar as islandesas. No mesmo dia em que o resultado do pleito veio à tona, mais de 200 delas se reuniram para discutir como mudar esse cenário e agora cogitam formar um partido político feminino.
“Esse é um dos caminhos, já que a situação é inaceitável. A política precisa ser melhor para as mulheres e para o feminismo”, disse Sóley Tómasdóttir, ex-líder do conselho da cidade de Reykjavík e organizadora do evento. “A política precisa levar o feminismo a sério se queremos mudar essa comunidade”, terminou ela em entrevista rede de notícias do país, RUV.
A história das mulheres e a luta por direitos iguais na Islândia não é de hoje. Um dos primeiros marcos veio em 1850, quando elas conquistaram os mesmos direitos de herança reservados aos homens. Foi nessa época que também passaram a ter o direito à educação.
O direito ao voto e à disputa por cargos eletivos no poder público vieram pouco depois, nos idos de 1900. Nos anos 70, conquistaram avanços no campo da saúde reprodutiva, com uma nova lei sobre aborto e saúde da mulher. No mesmo ano em que a grande greve aconteceu, três meses depois dela, nascia a primeira lei de licença maternidade.
As conquistas não pararam por aí e não demorou até que alguns resultados interessantes fossem observados. Em 1980, Vigdis Finnbogadottir se tornaria a primeira presidente mulher da Islândia e da Europa, além de ser a primeira mulher eleita democraticamente para esse cargo em todo o mundo.
Nos últimos anos, medidas importantes de promoção da igualdade entraram em vigor e contribuíram positivamente para o cenário no país. Uma delas foi a estipulação de um sistema de cotas que prevê que a proporção de mulheres e homens em órgãos públicos não seja menor que 40% para ambos os sexos. Isso vale também para as empresas com mais de 50 funcionários.
A licença concedida aos pais, biológicos ou não, é outro ingrediente essencial na receita de sucesso da Islândia. Cada responsável tem direito a três meses de licença e outros três que podem ser usados livremente pelo casal. Ao todo, são nove meses. Essa inovação veio no início dos anos 2000 e deu tão certo que o governo agora estuda estender para 12 meses esse período.
A igualdade salarial é outra barreira que a Islândia vinha tentando derrubar há décadas por meio de uma lei que exige que a redução gradativa da diferença de ganhos entre homens e mulheres. Neste ano, contudo, uma nova lei agora prevê que empregadores comprovem que estão pagando a mesma coisa.