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O berço de Putin sob ataque

Camila Almeida e Thiago Lavado  Ao menos 14 pessoas morreram e cerca de 50 ficaram feridas* num atentado ao metrô de São Petersburgo, na Rússia, nesta segunda-feira. Uma bomba explodiu no terceiro vagão de uma composição no mesmo dia em que o presidente Vladimir Putin fazia uma visita à cidade. O primeiro ministro russo, Dmitry […]

EM MOSCOU, UMA HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS:  ao menos dez pessoas morreram e 30 ficaram feridas num atentado ao metrô de São Petersburgo / Maxim Shemetov/ Reuters

EM MOSCOU, UMA HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS: ao menos dez pessoas morreram e 30 ficaram feridas num atentado ao metrô de São Petersburgo / Maxim Shemetov/ Reuters

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Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2017 às 15h59.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h58.

Camila Almeida e Thiago Lavado 

Ao menos 14 pessoas morreram e cerca de 50 ficaram feridas* num atentado ao metrô de São Petersburgo, na Rússia, nesta segunda-feira. Uma bomba explodiu no terceiro vagão de uma composição no mesmo dia em que o presidente Vladimir Putin fazia uma visita à cidade. O primeiro ministro russo, Dmitry Medvedev, afirmou no início da tarde que foi um ataque terrorista. Segundo a agência russa Interfax, o dispositivo que causou a explosão estava dentro de uma pasta que foi colocada no vagão.

A estação de metrô Sennaya Ploshchad, local da explosão nesta segunda-feira, fica sob uma praça imortalizada em Crime e Castigo, uma das principais obras de Fiódor Dostoiévski. Na obra russa, Alyona Ivanovna, a idosa assassinada pelo protagonista Rodion Raskólnikov, morava a poucos quarteirões da praça. A cidade é uma das sedes da Copa do Mundo e vai receber a decisão da Copa das Confederações, no dia 2 de julho.

É um episódio que reforça o clima de insegurança e beligerância no país, que tem se envolvido em crescentes conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu. Atingida por sanções econômicas da União Europeia e dos Estados Unidos por causa da anexação da Crimeia, o país tenta diversificar seus mercados e parcerias, enquanto vê uma crescente cobrança dentro e fora de suas fronteiras.

Era justamente um desses atritos que Putin estava disposto a resolver em São Pertersburgo – cidade, que é considerada a mais europeia do país, e é também o berço familiar e político de Putin. Estava agendada uma reunião com o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko. Os dois países, tradicionais aliados, realizam treinamentos militares conjuntos, mas, em março, os bielorrussos declararam que a Otan, organização militar da qual a Rússia não faz parte e que reúne as potências militares ocidentais, deveria ter acesso aos eventos. Segurança seria um tópico central da reunião desta segunda.

Ao longo do século 21, diversos atentados já se sucederam em estações de metrô, teatro e escolas russas – a maior parte deles relacionados a grupos terroristas islâmicos. Desde a queda do império soviético, em 1989, os russos têm tido embates com forças separatistas da Chechênia e do Cáucaso, e boa parte dos ataques têm sido motivados por esses grupos. Além disso, a Rússia declarou guerra ao Estado Islâmico – e tem combatido o grupo com forças militares na Síria. A atuação do país na guerra síria, inclusive, foi apontada como o motivo para a morte do embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, em atentado numa galeria de arte em Ancara em dezembro.

Para o cientista político Diego Pautasso, professor de Relações Internacionais da Unisinos e especialista em Rússia, é de se esperar que grupos terroristas se unam contra a Rússia – e que atentados continuem a ocorrer. “Desde o ano passado, os russos estão dando apoio direto ao governo de Bashar al-Assad, na Síria, na luta contra os rebeldes e contra o Estado Islâmico. Mas esses grupos terroristas não são formados apenas por sírios: eles reuniram militantes vindos de Chechênia, Paquistão e Península Arábica”, afirma. “Com a derrota dos rebeldes em Alepo, esses grupos terroristas passaram a ter mais penetração nessa rede transfronteiriça, e isso deve afetar cada vez mais a Rússia”.

Essas ameaças não significam que Putin vai mudar de estratégia. Pelo contrário: os russos devem reforçar ainda mais seus posicionamentos. “A tendência é de que a Rússia reforce sua presença no conflito Sírio e utilize esse atentado, inclusive, para legitimar ações militares mais assertivas”, afirma Fabiano Mielniczuk, professor de Relações Internacionais da ESPM e diretor da think tank de política externa Audiplo.

Putin se cacifou politicamente graças a um atentado. Em 1999, num episódio que mais tarde passou a ser conhecido como o “11 de setembro russo”, um ataque a um conjunto de prédios residenciais de Moscou que matou mais de 300 pessoas foi a deixa para uma ofensiva militar de Putin, então primeiro-ministro, para retomar a Chechênia. Segundo o governo, o ataque foi articulado pelos chechenos, mas, para os oposicionistas, Putin forjou o atentado para justificar a Guerra. Em 2000, graças à popularidade conquistada, Putin foi eleito presidente.

O peso da Otan

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, demonstrou apoio à Rússia após o atentado desta segunda, afirmando que o caso mostra que os países têm “um grande oponente ao redor do mundo: os terroristas”. Mas ainda é cedo para dizer que a Rússia vai se aproximar de europeus e americanos – que impõem severas sanções econômicas aos russos.

A luta contra o terrorismo é antiga e, até agora, as potências militares têm falhado em combatê-la. “Quando houve o atentado de 11 de setembro, a Rússia se solidarizou com os Estados Unidos porque acreditava que essa luta também era dela e ajudaria a combater separatistas e terroristas. Porém, num segundo momento, essa aproximação diminuiu, porque a Rússia acabou entendendo que essa guerra global ao terror fazia parte de um projeto mais dos Estados Unidos”, afirma o cientista político Diego Pautasso.

Apesar de os Estados Unidos, desde a eleição de Donald Trump, terem se mostrado mais abertos ao diálogo com a Rússia, nenhuma ação concreta foi iniciada. Os americanos continuam com os planos de fortalecer a Otan e de manter uma política antimísseis na Romênia, contra a vontade dos russos. Os americanos também têm se recusado a apoiar o regime de Bashar al-Assad, apesar de terem enviado tropas para lutar contra o Estados Islâmico na Síria e no Iraque. Por enquanto, cada um luta contra o terrorismo de forma isolada, com suas próprias armas – e seus próprios interesses.

*Texto atualizado às 8h da terça-feira 4

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