Assédio sexual: o escândalo do diretor de cinema Harvey Weinstein ilustra um problema que existe em todo o mercado de trabalho (thodonal/Thinkstock)
AFP
Publicado em 19 de outubro de 2017 às 16h33.
Última atualização em 19 de outubro de 2017 às 16h33.
O escândalo Weinstein mostrou uma vez mais o lado sórdido de Hollywood, mas o assédio sexual nos locais de trabalho vai muito além do glamouroso mundo do entretenimento.
Da indústria da limpeza ao mundo corporativo, um ponto em comum são os chefes ou colegas que abusam de cargos de autoridade para coagir suas vítimas, muitas vezes certos de que seu comportamento não se tornará público.
O 'Show business' é particularmente vulnerável porque é altamente competitivo e tradicionalmente depende de relações e contatos, explicou Ann Fromholz, advogada especializada em assédio.
"O padrão para entrar e crescer não tem a ver estritamente com mérito, pode ser a aparência, ou quem você conhece", explicou. "Muitas pessoas que já estão na indústria acabam tolerando condutas que odeiam porque, até agora, esse era o preço da admissão".
O escândalo de Harvey Weinstein ilustra o problema ao extremo: o outrora influente produtor de Hollywood foi acusado por cerca de 40 atrizes de conduta inapropriada, que vai do assédio ao estupro.
Mas Fromholz indicou que também se depara com "histórias de terror" de zeladoras, trabalhadoras rurais e de restaurantes, um setor que nos Estados Unidos é ocupado por muitos imigrantes ilegais com medo de perder seus trabalhos e de serem deportados.
"Há uma piada de humor negro entre os advogados trabalhistas, dizemos que os locais de trabalho com camas são realmente uma ideia terrível... Estamos falando de hotéis e hospitais, no mínimo", acrescenta.
Outros perfis de pessoas cuja conduta abusiva geralmente sai impune incluem advogados de alto perfil; investidores das empresas de tecnologia do Vale do Silício; e celebridades da televisão, como Bill O'Reilly, cujo reinado na rede Fox News chegou ao fim recentemente, após uma avalanche de denúncias.
Uma pesquisa com 2.200 mulheres realizada em 2015 pela revista Cosmopolitan revelou que uma de cada três tinha experimentado algum tipo de assédio sexual no trabalho, incluindo avanços físicos ou verbais indesejados e demandas de favores sexuais.
Mais de três quartos disseram que não apresentaram nenhum tipo de queixa.
Os corredores de edifícios governamentais não são exceção, com assistentes e até legisladoras sendo alvo de insinuações e apalpadas indesejadas.
Mais de 140 personalidades políticas e funcionárias do governo da Califórnia assinaram uma carta aberta na que disseram: "Basta. Como mulheres líderes políticas, em um estado que se mostra como líder em justiça e igualidade, vocês podem pressupor que nossa experiência tem sido diferente. Não tem".
"Cada uma de nós sofreu, foi testemunha ou trabalhou com uma mulher que experimentou algum comportamento desumanizador por parte de homens com poder", acrescentaram.
Especialistas no assunto insistem em que uma política clara é essencial para criar uma cultura saudável de trabalho, com punições para aqueles que cruzarem a linha.
Exatamente o oposto ao que foi reportado sobre o contrato de Weinstein no estúdio que ele cofundou, que, segundo o site TMZ, o protegia de ser despedido por alguma denúncia de assédio sexual, contanto que ele reembolsasse o dinheiro gasto pela empresa com processos.
Isso era o equivalente a dar luz verde ao assédio, disse a advogada trabalhista Genie Harrison.
Em 1986, a Corte Suprema americana reconheceu o assédio sexual como uma violação à lei de Direitos Civis de 1964, que proíbe a discriminação por raça, cor, religião, sexo ou nacionalidade.
Os típicos casos de assédio envolvem pedidos de favores sexuais em troca de promoções e a criação de ambientes de trabalho hostis através de piadas ou insinuações sexuais, indicou Harrison.
Há também algumas boas notícias. Fromholz assegura que, ao longo de seus 23 anos de carreira, houve uma mudança positiva generalizada na conduta. "Há uma consciência maior do comportamento que é aceito e do que não é".
O romance genuíno no local de trabalho pode continuar a existir, mas "é difícil saber quando alguém está explorando a possibilidade de namorar com alguém com quem trabalha - eles precisam ser mais cuidadosos do que com alguém que conhecem em um jantar, e pode ser um conversa estranha", acrescentou a advogada.