Fuad Sharef: "Ajudei o governo americano, trabalhei com eles durante momentos de crise e coloquei minha vida em perigo", afirmou Sharef (Ahmed Saad/Reuters)
AFP
Publicado em 31 de janeiro de 2017 às 18h04.
Eles deixaram seus trabalhos, venderam sua casa e entraram em um avião para começar uma nova vida nos Estados Unidos.
Mas o decreto de Donald Trump impediu Fuad Sharef, sua esposa e filhos de chegarem ao destino.
Ainda consternado por esta repentina mudança de situação, Fuad Sharef, de 51 anos, passa uma a uma as folhas dos passaportes iraquianos de sua família, todos com visto de imigração americano obtido depois de "anos de espera".
Foi no Cairo, na escala de sua viagem até uma nova vida, que o sonho foi interrompido. Um funcionário do aeroporto pediu o cartão de embarque da família e depois retornou com a má notícia: "foram proibidos de viajar para os Estados Unidos".
O decreto migratório, assinado na sexta-feira por Donald Trump, proíbe a entrada nos Estados Unidos de todos os refugiados, assim como de cidadãos do Iraque e outros seis países de maioria muçulmana, com a intenção de frear, segundo a nova medida, a chegada de eventuais "terroristas islâmicos radicais".
Na sala do apartamento de seu cunhado, onde se instalou com sua família desde que retornaram a Erbil, no Curdistão iraquiano, a decepção de Fuad Sharef se mistura com a raiva.
"Ajudei o governo americano, trabalhei com eles durante momentos de crise e coloquei minha vida em perigo", afirmou Sharef que trabalhou para a ONG americana RTI International, em parceria com o governo americano.
"Trump e sua nova administração nos derrubaram", lamentou, destacando que alguns de seus colegas morreram.
Antes de ir embora, "tive que vender todos os meus pertences, minha esposa e eu deixamos nossos empregos e tiramos nossos filhos da escola", acrescentou amargamente.
E após dois anos de espera, os americanos "me deram um visto" confirmando "que não representava um perigo para os Estados Unidos e para o povo americano".
As restrições de Washington ocorrem enquanto o Exército iraquiano realiza uma grande ofensiva contra o grupo Estado Islâmico (EI) em seu reduto de Mossul, com o apoio da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
O ministro das Relações Exteriores iraquiano considerou, na segunda-feira, "necessário que nova administração americana reconsidere sua decisão errônea".
Fuad Sharef indicou que enviou uma consulta à embaixada americana em Bagdá para pedir um conselho. "Ainda não tive resposta".