Mundo

Venezuela manipulou números da eleição, acusa empresa

Comparecimento à eleição da Constituinte teria sido alterado em 1 milhão de votos, diz empresa que atua no sistema eleitoral do país desde 2004

Nicolas Maduro, Cilia Flores e Diosdado Cabello (Carlos Garcias Rawlins/Reuters)

Nicolas Maduro, Cilia Flores e Diosdado Cabello (Carlos Garcias Rawlins/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 2 de agosto de 2017 às 10h23.

Última atualização em 2 de agosto de 2017 às 18h00.

São Paulo – O número de eleitores que participaram da eleição da Assembleia Nacional Constituinte (ANC) do último domingo na Venezuela foi manipulado. A acusação veio à tona nesta terça-feira pela Smartmatic, empresa que trabalha em pleitos venezuelanos desde 2004.  Conduziu, inclusive, as duas últimas eleições presidenciais: 2006 e 2012, que reelegeram Hugo Chávez. 

A informação foi dada pelo presidente da companhia, de Londres, e repercutida por agências internacionais. De acordo com ele, os números oficiais foram inflados em um milhão. Números oficiais divulgados no início da semana informaram que o comparecimento às urnas foi de 8.089.320 de pessoas.

“Sabemos, sem dúvidas, que o comparecimento da última eleição para a Assembleia Nacional Constituinte foi manipulado”, declarou Antonio Mugica, CEO da Smartmatic. Ainda segundo ele, a fraude foi detectada em razão do sistema eleitoral automatizado usado no país. O executivo se recusou a responder se tal manipulação poderia mudar o resultado final da eleição.

O órgão eleitoral venezuelano negou tal manipulação e classificou a denúncia como "irresponsável" e "sem fundamento" em comunicado emitido no fim dessa quarta-feira.

Assembleia Constituinte

O governo do presidente Nicolás Maduro vem enfrentando críticas e ameaças de sanções da comunidade internacional desde que colocou em andamento o processo de eleição de uma ANC que tem como objetivo reescrever a Constituição em vigor no país desde 1999.

No último domingo, eleitores de toda a Venezuela foram às urnas para eleger os nomes que farão parte desse conselho, que foi oficialmente instalado nesta quarta-feira na capital Caracas. Números oficiais estabeleceram que o comparecimento às urnas foi de 8.089.320, cerca de 41% do eleitorado. Um dos eleitos é Nicolásito, filho de Maduro.

A questão dos números é delicada e grave, já que um dos argumentos do governo para tentar dar legitimidade ao pleito ante a população era o de que mais pessoas compareceram para a eleição dessa ANC no último domingo que contra o seu estabelecimento em junho. Na ocasião, uma votação simbólica conduzida pela oposição sobre a realização dessa eleição teria contado com votos contra de 7,5 milhões de pessoas.

Do ponto de vista legal, a eleição enfrenta problemas que incendiaram ainda mais o debate sobre a sua legitimidade, uma vez que a Constituição atual prevê que o presidente tem a competência para convocar uma Assembleia Constituinte, mas que essa convocação deve, antes, se referendada por voto popular.

O clima é de tensão, já que líderes da oposição foram presos na terça-feira e levados para locais desconhecidos, aumentando as críticas de desmantelamento democrático. Ainda na última terça, três deputados chavistas que eram parte da bancada do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) de Maduro para criar um novo grupo de oposição

“Em 1999 foi o povo quem convocou a Constituinte. Hoje só foi convocada por um poder constituído e não podemos nos calar”, disse Eustoquio Contreras. A expectativa é que outros membros da casa, também da bancada governista, se juntem ao grupo.

Enquanto a crise política assola as instituições venezuelanas, os protestos, a favor e contra Maduro, seguem por todo o país. As manifestações se iniciaram em abril e a maioria delas terminou em confrontos violentos. Até o momento, foram registrados 121 mortos, quase 2.000 feridos e mais de 5.000 detidos. Só no último domingo, quando a votação era conduzida, dez pessoas morreram. 

 

Acompanhe tudo sobre:América LatinaDemocraciaEleiçõesNicolás MaduroVenezuela

Mais de Mundo

Argentina volta atrás e adere à Aliança Global contra a Fome lançada por Lula no G20

China e Brasil fortalecem parcerias em e-commerce e cidades inteligentes

Trump prevê declarar estado de emergência nacional para deportar migrantes

Xi Jinping propõe desenvolvimento sustentável e inovação na Ásia-Pacífico