Brasileiros nos EUA: o número de green cards emitidos oara brasileiros cresceu sobretudo na segunda metade desta década (mars58/Thinkstock)
Carolina Riveira
Publicado em 28 de novembro de 2020 às 16h05.
Última atualização em 28 de novembro de 2020 às 17h38.
O número de brasileiros obtendo o chamado green card nos Estados Unidos tem batido recorde, mostram dados do governo americano.
Em 2019, o número de autorizações para brasileiros foi de quase 20.000, 29% acima de 2018, o ano com mais vistos do tipo até aqui. No acumulado entre 2011 e 2019, foram mais de 120.000 vistos do tipo.
Os números de 2020, que será o último do período de dez anos, ainda não foram contabilizados, mas devem fazer com que a década seja superior ao período anterior, entre 2001 e 2010, quando foram emitidos mais de 123.000 vistos de residência permanente. Os valores são mais que o dobro da década de 90.
O levantamento foi feito com dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA, responsável pelos processos de imigração, pelo escritório de advocacia AG Immigration. Os dados são referentes ao ano fiscal de 2019 (período até setembro de cada ano), divulgados apenas neste ano. As informações sobre 2020 serão liberadas apenas em setembro de 2021.
"Os números mostram que a crescente retórica anti-imigração não tem refletido necessariamente em uma diminuição na emissão do green card", diz o advogado brasileiro e americano Felipe Alexandre, representante do AG Immigration em Nova York e que vive nos EUA desde a infância.
O green card, ou US Permanent Resident Card, é um visto que autoriza residência permanente nos Estados Unidos. É o visto menos restritivo que existe: enquanto outros vistos são temporários, o green card garante residência por tempo ilimitado. Quem o obtém também não precisará mais estar vinculado a alguma instituição, como uma empresa ou uma universidade para estudo, por exemplo, e pode trabalhar ou estudar nos EUA sem restrições.
Ainda não é, contudo, uma "cidadania americana", e quem tem green card não pode votar. "Mas é comum que algum tempo depois os possuidores de green card apliquem para cidadania plena e a consigam", diz Alexandre, do AG.
Ao todo, cerca de 1 milhão de cidadãos de todo o mundo recebem autorização para residência permanente nos EUA ao ano (além do green card, asilo político ou outras formas). O valor tem se mantido relativamente constante nas últimas duas décadas, quando o volume passou a crescer -- o número era bastante menor nos anos 80.
Parte do motivo do menor impacto nas emissões do green card é porque o visto termina por ser uma opção apenas para uma parcela muito pequena dos imigrantes brasileiros nos EUA. A maioria dos vistos termina destinada a parentes de cidadãos americanos. No geral, também são bem-sucedidos na aplicação profissionais brasileiros com carreiras de interesse nacional nos EUA e experiência profissional ou acadêmica no país, como profissionais de tecnologia e saúde.
Investidores que comprovem ter investido ao menos 900.000 dólares e gerado empregos no país também podem aplicar para vistos em categorias específicas. Também há opções de green card para perfis específicos, como artistas e atletas famosos, talentos com reconhecimento global e grandes empresários. Para esses grupos, a retórica anti-imigração não afetou na prática o processo imigratório, diz Alexandre.
Embora a imigração ilegal ou de trabalhadores menos qualificados sempre tenha sido questionada nos EUA, nos últimos anos, o governo do presidente Donald Trump, que assumiu em 2017, tem defendido barreiras maiores também à imigração legal.
Um dos casos que virou tema de debate em meio ao governo Trump foi o visto de trabalho para trabalhadores altamente qualificados, o chamado H1B -- muito comum, por exemplo, em startups do Vale do Silício. Trump criticou esse tipo de visto por afirmar que tirava empregos dos trabalhadores americanos.
Empresas de tecnologia como Google e Facebook criticam as declarações e afirmam que restrições ao H1B barrarão a inovação e progresso no país. Mais de 500.000 estrangeiros estão nos EUA com um visto desta categoria.
Neste ano, em meio à pandemia, o governo bloqueou temporariamente a emissão de novos green cards e de novos vistos como o H1B. Também gerou questionamentos das universidades a medida do presidente de proibir que estudantes entrassem nos EUA durante a pandemia caso estivessem tendo aulas somente online -- nos EUA, parte significativa da receita das universidades vêm de alunos estrangeiros, que no geral não ganham bolsa ou outros descontos.
Para além do campo profissional, outras formas de obter vistos de residência permanente são parentesco com outros imigrantes detentores do green card ou casamento com um cidadão americano.
Segundo o Itamaraty, há mais de 1,4 milhão de brasileiros vivendo nos EUA, um terço deles na Flórida, estado com forte tradição latina e que comporta cidades como Orlando e Miami.
O número de brasileiros obtendo residência permanente por ano é menor que alguns países da América Central, com maior taxa de imigração para os EUA (como Republica Dominicana ou El Salvador, que tem mais de 25.000 novos residentes por ano, embora tenham população menor que a do Brasil).
Também estão entre os líderes em autorizações nos EUA outros países da América do Norte (México e Canadá, que juntos têm 20 vezes mais autorizações que o Brasil) e a China (mais de 60.000 autorizações em 2019).