Chile: manifestantes criticam medidas socioeconômicas do governo Piñera (Juan Gonzalez/Reuters)
Reuters
Publicado em 29 de outubro de 2019 às 13h06.
Santiago — O gás lacrimogêneo permanecia no ar no centro de Santiago, nesta terça-feira, enquanto chilenos seguiam para o trabalho, após outra noite de tumultos na capital do Chile, em um sinal de que a reforma ministerial feita pelo presidente Sebastian Piñera ainda é insuficiente para acalmar os manifestantes.
Vândalos encapuzados surgiram repentinamente na noite de segunda-feira, após um dia de protestos pacífico, causando destruição em muitas ruas do centro e provocando o caos em meio a caminhões de bombeiros, uma multidão de manifestantes batendo panelas e intensa fumaça preta.
A nova porta-voz de Piñera, Karla Rubilar, condenou a violência, dizendo que não reflete os desejos da maioria.
Mais de 1 milhão de chilenos marcharam pacificamente contra a desigualdade em Santiago na última sexta-feira, no maior protesto desde o retorno do Chile à democracia em 1990.
"Estamos falando de 6.500 pessoas que pensam que podem dominar Santiago, mas vamos encontrá-las", disse Rubilar a repórteres, descartando o retorno a um estado de emergência na capital.
Os tumultos no Chile continuam a ocorrer após uma semana de protestos contra a desigualdade, nos quais pelo menos 17 pessoas foram mortas. Milhares de manifestantes foram presos, segundo o Ministério Público, e as empresas chilenas tiveram prejuízo de mais de 1,4 bilhão de dólares. O metrô da cidade sofreu danos equivalentes a quase 400 milhões de dólares.
Pilar Zofoli, uma professora de 30 anos, disse que a violência e a destruição em espaços e serviços públicos estão tornando a vida ainda pior para a classe trabalhadora de Santiago.
"Eu apoio essa causa, mas não gosto do jeito que as coisas estão indo", disse ela. "No final, isso nos afeta, não os ricos."
Com a popularidade de Piñera em seu nível mais baixo de todos os tempos, os chilenos voltaram às redes sociais para convocar mais uma rodada de marchas para esta terça-feira à tarde. Muitas escolas, shopping centers e empresas disseram que planejam fechar mais cedo.
Na semana passada, os protestos já haviam levado Piñera, um bilionário de centro-direita que derrotara a oposição de esquerda nas eleições de 2017, a prometer mudanças favoráveis aos trabalhadores. Ele garantiu aumentar o salário mínimo e as aposentadorias, diminuir os preços dos remédios e do transporte público, além de estabelecer um sistema de saúde adequado.
O Chile, maior produtor mundial de cobre, há muito se orgulha de ser uma das economias mais prósperas e estáveis da América Latina, com baixos níveis de pobreza e desemprego. Mas a desigualdade e o crescente custo de vida têm mobilizado a população.