Processo de paz na Ucrânia estava sob ameaça nesta segunda-feira depois de um domingo de violência (Philippe Desmazes/AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2014 às 17h46.
Donetsk - O processo de paz na Ucrânia estava sob ameaça nesta segunda-feira depois de um domingo de violência, no dia mais sangrento no leste do país desde a instauração do cessar-fogo entre o Exército e os separatistas pró-russos.
O Exército ucraniano e os separatistas pró-russos trocaram acusações de violar a trégua. Na cidade de Donetsk, principal reduto rebelde, jornalistas da AFP ouviram tiros nos arredores do aeroporto, controlado pela forças de Kiev. Segundo um porta-voz militar, os separatistas lançaram uma ofensiva contra o aeroporto, que foi repelida pelos militares ucranianos.
Neste contexto de tensão, o Parlamento ucraniano vai estudar na terça-feira dois pontos cruciais do acordo de cessar-fogo, assinado no dia 5 de setembro: uma lei de anistia e outra para criar um estatuto especial que daria mais autonomia às regiões separatistas de Donetsk e Lugansk.
Segundo a Presidência, o projeto de lei não prevê sanções administrativas contra os rebeldes pró-russos, à exceção daqueles responsáveis por "assassinato, violações e atos de terrorismo".
A imprensa ucraniana afirma que também ficariam de fora da anistia os autores do ataque que causou a queda do Boeing da Malaysia Airlines e a morte dos 298 passageiros.
No que diz respeito ao "estatuto especial", Kiev estaria disposto a aprovar um governo autônomo provisório que tomaria posse a partir da adoção da lei e que duraria três anos.
2.700 mortos em cinco meses
No domingo, seis civis, entre eles pelo menos uma mulher, morreram em bombardeios no reduto rebelde de Donetsk, de acordo com as autoridades locais. Esse foi o maior número de civis mortos desde o início do cessar-fogo.
A trégua tem sido violada diariamente e os moradores de algumas localidades próximas a Donetsk denunciam uma situação fictícia.
Em cinco meses, o conflito no leste da Ucrânia deixou mais de 2.700 mortos, de acordo com a ONU.
Em uma demonstração de solidariedade com o governo pró-ocidental de Kiev, soldados de 15 países, incluindo os Estados Unidos, iniciaram nesta segunda-feira as manobras militares "Tridente Rápido 14" perto da cidade ocidental de Lviv.
Os Estados Unidos devem enviar 200 militares, na primeira mobilização deste tipo desde o início do levante pró-russo no leste da Ucrânia, em abril.
Poucos dias antes de uma visita a Washington do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, a Rússia acusou os Estados Unidos de atiçar o conflito por motivos puramente estratégicos. Já governo de Kiev denuncia uma tentativa russa de eliminar a Ucrânia.
Em uma troca de farpas nesta segunda-feira, o primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk acusou o Exército ucraniano de violar o cessar-fogo e de provocação.
"O governo de Kiev utiliza este cessar-fogo para reagrupar suas forças e nos atacar novamente", disse Alexandre Zakharshenko.
Como na Guerra Fria
O conflito no leste industrial da Ucrânia deixou as relações entre Rússia e Ocidente em seu pior nível desde a Guerra Fria, gerando o risco de um conflito de maiores proporções na Europa Oriental.
A organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), mediadora da trégua, afirmou que seus supervisores haviam presenciado ataques de artilharia em um distrito de Donetsk no domingo.
"As ações terroristas ameaçam o plano de paz do presidente da Ucrânia", afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança e Defesa do governo de Kiev, Volodymyr Polyovy.
Para tentar conter o agravamento do conflito, o presidente americano Barack Obama já anunciou uma série de sanções econômicas contra Moscou. Medidas semelhantes foram adotadas pela União Europeia. Analistas consideram que o impacto já é evidente e alertam para uma grande possibilidade de a economia russa entrar em recessão.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, acusou os Estados Unidos de tentar utilizar esta crise para romper os vínculos econômicos entre a União Europeia e a Rússia.
Além disso, os Estados Unidos declararam nesta segunda-feira que não reconhecem as eleições legislativas realizadas na Crimeia no domingo, as primeiras desde a incorporação da península ucraniana à Rússia, em março.
"Os Estados Unidos continuam condenando a ocupação e suposta anexação do território ucraniano por parte da Federação Russa e sua violação da soberania e integridade territorial ucranianas", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf.